Por débora ferreira

PAULO ROBERTO HOMEM

Futuro por meio do esporte

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le nasceu com retinose pigmentar, doença que o deixou com cerca de 10 porcento da visão. Mas isso não foi impedimento para que Paulo Roberto Homem, de 46 anos, realizasse seus sonhos através do esporte. Morador de Florianópolis, durante a adolescência praticou surfe.

 

-Eu não queria ficar em casa vendo a vida passar pela janela. Meu pai trabalhava com comércio e eu não conseguiria tocar o negócio dele em virtude da minha visão, então perto dos 30 anos decidi procurar a Associação Catarinense para Integração do Cego e me encontrei praticando esportes – conta.

 

Assim que entrou na ACIC descobriu que tinha aptidão para natação e atletismo adaptados para pessoas com deficiência visual. Em 2001 foi Campeão da Copa Brasil de Natação e em 2002 conquistou o primeiro lugar nos 400 metros e segundo lugar nos 200 e 100 metros na Copa Brasil de Atletismo, todos os resultados no paradesporto. No ano seguinte conheceu o goalllball, esporte criado em 1946 para reabilitar veteranos da Segunda Guerra Mundial que haviam ficado cegos.

 

-Eu fiquei bastante resistente para praticar o goallball porque se joga vendado e eu não queria usar a venda de jeito algum. Mas voltei atrás e em pouco tempo já estava participando de competições nacionais. Aí meu objetivo passou a ser disputar uma prova internacional – lembra Paulo.

 

Ele jogou bem o brasileiro de 2008 e foi selecionado entre os seis atletas que representariam o Brasil nas Paralimpíadas de Pequin, na China. O orgulho de participar dos jogos e a emoção de realizar o sonho estão eternizados em uma tatuagem com os aneis olímpicos que Paulo carrega no braço.

 

A dedicação com que pratica o goallball renderam a ele reconhecimento no esporte e a chance de integrar a única equipe catarinense que participa da Copa Brasil de Goallball, competição que reúne os 12 melhores times do país. O time de Florianópolis é o atual campeão da Regional Sul.

 

Paulo viverá dentro de alguns dias mais uma grande experiência. Terá a honra de ser um dos condutores da tocha olímpica em Santa Catarina e sabe que este momento vai marcar a sua vida:

 

-Não vou para as Paralimpíadas porque não tenho mais idade. Desde que recebi a notícia de que vou carregar a tocha fiquei muito feliz, só estou aguardando julho. Sou bem chorão e sei que a emoção de carregar a tocha será grande. Com certeza vou chorar.

ANA MARIA DESTRI

Professora ciclista

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professora Ana Maria Destri, 51 anos, é uma mulher bastante ativa e adepta dos esportes. Formada em educação física, praticou corrida, muay thai e sempre teve uma alimentação regrada. Foi após fazer exames de rotina que encontrou uma nova paixão.

 

-Para minha surpresa descobri uma placa na carótida. Era improvável diante da vida saudável que eu levava. O médico queria me dar remédios, mas não aceitei e disse a ele que reverteria a situação praticando mais atividades físicas. Certo dia meu tio ligou e disse que havia comprado uma bicicleta, mas não gostou do modelo e me ofereceu. Comecei a pedalar e me apaixonei. Hoje tenho duas bikes e elas têm até nome, a bik'ana e a anacleta - conta a professora.

 

Não demorou muito para Ana Maria entrar para o grupo de ciclismo Bike Anjo, em Florianópolis. Ela passou a usar a bicicleta como meio de transporte e a inspirar seus alunos.

 

- As crianças ficavam em volta de mim quando eu chegava na escola, ficavam curiosas, queriam saber como eu ia de Coqueiros até a Serrinha, como passava a ponte com a bicicleta. Foi de repente que surgiu o projeto Bicicleta na Escola, em 2013, a partir da curiosidade dos meus alunos abriu-se um leque de possibilidades e passei a falar sobre mobilidade e orientações de trânsito, afinal, eles queriam ir e voltar para casa usando a bicicleta - explica.

 

Em 2014, Ana Maria e outras três colegas do grupo Bike Anjo conseguiram implantar o projeto em outras escolas da rede municipal de ensino de Florianópolis. Com o tempo, o projeto que iniciou com orientações para o ir vir das crianças até a escola mudou o enfoque e passou a trabalhar o senso crítico delas com relação à mobilidade urbana. Até o momento mais de 1,2 mil crianças participaram do projeto em 14 escolas. Para a surpresa da professora, descobriu que está ajudando a formar uma massa crítica dentro das escolas.

 

Ana Maria viaja o mundo dividindo a sua história de sucesso. Esteve recentemente no Fórum Mundial da Bicicleta, no Chile, e participou do  Bicicultura, evento realizado em São Paulo considerado o maior encontro nacional de mobilidade por bicicleta e cicloativismo. Seu trabalho social fez com que ela fosse escolhida para carregar a tocha olímpica na cidade que, aos poucos, ajuda a transformar.

 

-Ainda não estou acreditando, parece um pouco surreal. Ser da área da atividade física, trazer o esporte como um dos objetivos de qualidade de vida e ainda conduzir a tocha olímpica, que simboliza a união dos povos, é muita emoção. Haja coração – exclama.

 

E a semente do bem vai se disseminando. O município de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, é a primeira cidade, além da Capital catarinense, a desenvolver o projeto Bicicleta na Escola. Segundo a professora, no Rio de Janeiro também há o interesse de colocá-lo em prática. Por aqui, o trabalho segue em escolas dos bairros Rio Vermelho e Rio Tavares, ambos em Florianópolis.

FABIANA BELTRAME

Legado para o remo brasileiro

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e engana quem pensa que para uma atleta reconhecida e vencedora de tantas competições internacionais, carregar a tocha olímpica é apenas uma mera formalidade. A remadora Fabiana Beltrame está feliz por fazer parte do grupo de pessoas que anunciam os jogos olímpicos no Brasil carregando a chama. Ela participa em Florianópolis, sua cidade natal.

 

-É uma honra e um orgulho muito grande, depois de ter participado de três Olimpíadas, fazer parte deste momento histórico do esporte brasileiro.

 

A remadora de 34 anos, eleita seis vezes a melhor do país pelo Comitê Olímpico Brasileiro, começou a trajetória vencedora no Campeonato Brasileiro de 1999. Na ocasião, ela ganhou duas provas e decidiu se dedicar para conquistar resultados ainda mais expressivos. E eles vieram. É tetracampeã Sul-Americana e em 2004 foi a primeira remadora brasileira a conquistar uma vaga no skiff simples aberto para as Olimpíadas de Atenas.

 

 

De olho no futuro

 

Para alcançar objetivos maiores na carreira, Fabiana mudou de clube e de cidade em 2005 e passou a remar no Rio de Janeiro. Três anos mais tarde, em 2008, chegou a Olimpíada de Pequim, na China. No ano seguinte realizou o sonho de ser mãe com a chegada de Alice, mas não deixou de lado a carreira e apenas 45 dias após o parto estava de volta aos treinos.

 

A remadora decidiu mudar para a categoria peso leve e continuou se desafiando. Determinada, conquistou títulos e colecionou medalhas. Em 2011, venceu a Copa do Mundo de Hamburgo e o Campeonato Mundial da Eslovênia, no skiff simples peso leve. Também conquistou a primeira medalha feminina em Jogos Pan Americanos, uma prata em Guadalajara, na mesma categoria.

 

-A Olimpíada é diferente de todas as competições é, acima de tudo, a grande festa do esporte, a maioria dos atletas se prepara a vida toda para esse momento. Você compete ao lado dos melhores do mundo. Já tive a oportunidade de encontrar Michael Phelps, Colb Briant, Rafael Nadal e a lenda Usain Bolt. Inesquecível - relembra Fabiana.

 

Em 2012, a remadora precisou mudar de categoria e passou a remar o skiff duplo peso leve com Luana Bartholo para conseguir participar da Olimpíada de Londres, já que o skiff simples peso leve não é uma categoria olímpica. Elas conseguiram o 13º lugar na competição, um grande feito por terem remado apenas seis meses juntas.

 

Por ironia do destino, a vaga para os jogos olímpicos no Rio de Janeiro não veio, apesar de Fabiana ter se classificado no pré-olímpico no Chile, em março. Ela explica que, como as regras mudaram este ano, a Confederação precisou escolher apenas um barco de cada gênero e acabou optando pelo double feminino peso leve, que ganhou o ouro. Como ela ficou com a prata em sua categoria, está fora dos jogos. Ela anunciou que está fora da seleção brasileira e a etapa da Polônia da Copa do Mundo foi a sua última competição internacional.

 

-Ainda não tenho certeza do que vou fazer quando parar, mas provavelmente estará ligado ao esporte. Quero aproveitar a experiência que adquiri durante todos esse anos e ajudar o remo a crescer.

 

 

GEAN CARLOS FERMINO

A segunda chance de Gean

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vida às vezes é muito generosa. Algumas pessoas recebem uma segunda chance para viver melhor, fazer melhor. Foi o que aconteceu com Maria Helena Fermino há 21 anos. Ela descobriu uma doença grave nos rins e precisava de um transplante urgente para sobreviver. Entre muitos exames e estudos genéticos, seu irmão mais novo, na época com 21 anos, era a pessoa ideal. A vida reservava um presente para Maria Helena e ela ganhava a segunda chance de viver.

 

-O que mais me preocupava na época era a cirurgia que iríamos enfrentar. Meu irmão era saudável e iria colocar a vida em risco por minha causa. Lembro que quando estávamos na sala de espera para a cirurgia eu pensei em desistir e ele me disse para aguentar firme. Sou a irmã mais velha, era uma sensação muito estranha, uma insegurança. Eu me perguntava a todo momento se era o certo a se fazer – relembra Maria Helena.

 

A cirurgia foi um sucesso, os irmãos se recuperaram bem. Ela tinha 28 anos e já era casada naquela época. Não poderia ter filhos por conta do problema renal, então decidiu adotar três irmãs.

 

Gean viu seu futuro mudar radicalmente. Ele conta que, automaticamente, quem faz parte da seleção júnior tem grandes chances de subir para o elenco principal. A Olimpíada de Atlanta, nos Estados Unidos, era no ano seguinte, em 1996. O jogador com quem disputava a posição foi convocado e participou dos jogos olímpicos. Provavelmente esse também seria o destino dele. Mas Gean teve que abandonar a carreira no handebol para salvar sua vida.

 

-Como fiquei com um rim apenas seria perigoso jogar, se eu sofresse uma colisão poderia haver falência do órgão. Imagina como foi para um cara de 20 anos, com potencial de estourar, ter que abandonar. Mas nessas horas entra o contexto familiar. Eu acordei com a decisão tomada, senti que precisava fazer pela minha irmã. Claro que tinha os medos naturais com a cirurgia, mas predominava a vontade de ser o doador – conta.

 

Após a cirurgia ele sofreu com dores abdominais e na coluna, também sentia que seu rim estava sobrecarregado. No ano seguinte, assistiu pela televisão os colegas da seleção brasileira de handebol participarem dos jogos olímpicos e ficou bastante emocionado.

-Sou um homem mais emotivo também por conta desse processo que vivemos. Eu sempre sonhei em participar de uma Olimpíada.

 

Gean se formou em administração e uniu os conhecimentos da sala de aula ao aprendizado de atleta. É professor de gestão do esporte e segue trabalhando até hoje na área, maneira que encontrou para se manter sempre perto do esporte.

 

E como a vida às vezes oferece uma segunda chance, Gean terá a dele. Vinte anos após o transplante vai participar, indiretamente, da Olimpíada do Rio de Janeiro. No dia 10 de julho ele carregará a tocha olímpica em Florianópolis e garante que será uma realização, uma grande satisfação fazer parte deste momento especial.

 

Quando questionado se repetiria a decisão de 1995, abrindo mão da carreira para salvar a irmã a resposta sai rápido:

 

-Eu faria tudo de novo, não tenho a menor dúvida. Ainda mais depois de passar tanto tempo e ver que deu tudo certo.

ODILON MARTINS

O remo é a minha vida

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dilon Martins é saudoso ao lembrar como Florianópolis era há mais de 60 anos. Expressa um orgulho enorme da cidade que valorizava o remo, esporte que escolheu para praticar desde os 22 anos.

 

- Aqui em Florianópolis o remo foi o esporte amador mais apreciado. Antes do aterro nós fazíamos o treinamento lá da Marinha, passávamos pelos clubes Aldo Luz e Francisco Martinelli, pelo Mercado Público, íamos até o Trapiche de Navegação da Hoepcke e voltávamos. A população acompanhava o treinamento - lembra.

 

A cidade era diferente e o remo estava entre os destaques da capital. Os clubes Aldo Luz e Francisco Martinelli tinham as suas próprias rádios para divulgar as notícias do esporte à população.

 

- O remo era tão apreciado que quando vencíamos uma prova no exterior o Governo do Estado nos recebia no Palácio com honrarias. Hoje, se ganhamos alguma coisa eles nem sabem, a diferença é muito grande - compara o atleta amador detentor de 16 títulos mundiais de máster.

 

A última conquista aconteceu no Sul-Americano realizado em Santa Fé, na Argentina. Por lá Odilon venceu novamente e foi homenageado como o remador em atividade mais velho da América do Sul. Título do qual se orgulha muito.

 

A receita para permanecer na ativa por tanto tempo é simples. Não fumar, não beber, ter uma vida moderada, sem muitas festas. Até comida em excesso faz mal, alerta o atleta amador que ainda hoje faz questão de carregar o próprio barco, que pesa cerca de 20 quilos e o remo algo em torno de dois quilos e meio. Desde que se aposentou passou a treinar às 8h. Antigamente ia para o mar às 5h da manhã porque tinha que trabalhar.

 

- A sua disposição realmente impressiona. O Odilon já fez muito pelo remo com os seus títulos e faz ainda, com as suas atitudes, mostrando para todos, inclusive os mais jovens, como é possível. Ele é um orgulho do remo catarinense, exalta Fabiana Beltrame, principal remadora do país.

 

O esporte que motiva Odilon deu a ele a oportunidade de conhecer vários lugares do mundo. E agora será a vez de fazer bonito dentro do próprio país. Ele foi indicado pela Fabiana para carregar a tocha olímpica durante a passagem pela capital.

 

- Essa oportunidade valoriza o remo e eu fico satisfeito porque estou fazendo algo a favor do meu esporte. É difícil praticar remo em nível olímpico no Brasil. A Fabiana (Beltrame) é um caso raro, ela mostrou que a gente tem talentos, mas precisa de patrocínio - desabafa o remador que segue atraído pelo mar. Já faz planos para a viagem à Dinamarca, quer participar de mais um mundial.

Marcelo Carvalho Fernandes

Ele mira na Olimpíada

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arcelo Carvalho Fernandes, 42 anos, é multifacetado. No currículo tem o carimbo de ator, é sindicalizado há mais de 20 anos, diagramador profissional e, mais recentemente, arqueiro. Seu contato com o esporte é antigo, já praticou natação, jiu jitsu e atualmente faz cross fit. Mas foi o tiro com arco que trouxe um novo cenário para a sua vida. A ligação com a modalidade fez com que ele fosse escolhido entre milhares de pessoas para conduzir a tocha olímpica em Florianópolis.

 

A ideia de inscrever a história de Marcelo, e o esforço que faz para competir, partiu da sua mãe, Maria Elizabeth Carvalho Fernandes. E o que parecia brincadeira deu certo. A relação dele com o arco é recente, pratica o esporte há apenas um ano. Mas a sensação que ele tem é de que essa ligação existe há muito mais tempo.

 

-Pode até parecer piegas, mas acredito que o meu contato com o tiro com arco venha de outras vidas. Sempre gostei do esporte e achava que poderia fazer, mas não tinha oportunidade de conciliar as aulas com o trabalho – explica.

Marcelo é uma daquelas pessoas que vive o momento e transmite felicidade e entusiasmo ao contar sobre a sua história e sobre o esporte escolhido para praticar. Ele começou relativamente tarde no tiro com arco, mas é uma modalidade na qual a idade não é impedimento e que só tem lhe apresentado coisas boas, a exemplo da indicação para carregar a tocha olímpica.

-Demorou um pouco para cair a ficha, só me dei conta de que iria conduzir a chama quando o percurso da tocha iniciou aqui no Brasil. Pensar nisso me emociona, é o espírito olímpico que estará na minha mão e faz a gente esquecer de tudo, dos problemas. A Olimpíada representa isso, batalhar pelo que se quer, ser portador de uma proposta de paz e superação. A chama é o símbolo de que a gente pode renascer, se superar e batalhar – emociona-se ao refletir sobre o papel que irá assumir dentro de alguns dias.

 

Driblando as dificuldades

 

Assim como em outros esportes, a falta de patrocínio é um dos maiores entraves para os atletas e com Marcelo não é diferente. Quando iniciou no tiro com arco precisou vender algumas coisas para comprar o equipamento com um jogo de flechas simples e aperfeiçoar as técnicas em casa. Segundo ele, o arco ideal custa entre 10 e 12 mil reais, mas o atleta dribla a dificuldade com um equipamento emprestado pela Federação Catarinense de Tiro com Arco (FCTA), que ele precisa devolver em novembro.

 

Além do entrave material, Marcelo e os outros arqueiros sofrem com a falta de estrutura para os treinos. Para conciliar com o trabalho ele treina à noite, uma vez por semana, em local aberto e com pouca iluminação. E mesmo assim, conseguiu um desempenho invejável nas primeiras competições que participou.

 

-Conquistei duas medalhas de prata e duas de bronze. Sou o atual recordista estadual na categoria recurvo adulto inciante, com 539 pontos. O pessoal que compete comigo treina mais vezes e tem um equipamento melhor, isso tudo influencia nas competições – conta.

 

Mesmo diante de todas essas dificuldades, o atleta não esmorece e sonha com um futuro promissor no esporte que o encanta:

-Meu treinador perguntou aonde eu queria chegar e disse que, se puder, quero participar de uma Olimpíada. E isso é possível, tenho pelo menos quatro ciclos olímpicos. Se tiver melhores condições e me dedicar, pode dar certo – sonha Marcelo.

 

O próximo passo está traçado, é o Campeonato Brasileiro, que acontece em novembro, em São Paulo. O arqueiro vai treinar forte para ficar entre os 15 melhores. E encerra a lembrando de um personagem Olímpico que é ídolo mundial:

 

-Sempre lembro do Oscar Schmidt, do basquete, que dizia que depois dos treinos ele ficava duas horas a mais na quadra, enquanto os outros iam embora. Quanto mais a gente treina, mais sorte se tem – completa.

Bruno Fontes

Rumo a mais 
uma Olimpíada

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velejador catarinense Bruno Fontes, 36 anos, possui diversas conquistas marcantes no currículo e se prepara para uma experiência inédita e não menos importante, que é conduzir a tocha olímpica anunciando a chegada dos jogos ao Brasil. Ele recebeu o convite do Iate Clube Veleiros da Ilha para representar Florianópolis. E não pensou duas vezes em participar desta grande festa do esporte mundial, afinal de contas, como ele mesmo garante, quando terá essa chance novamente?

 

A vela entrou cedo na vida do atleta, há quase 30 anos. O contato de Bruno com a futura profissão teve início em 1988, aos 8 anos de idade, nas primeiras competições pela classe Optimist, no Lagoa Iate Clube.

 

-Comecei bem novo, éramos sócios do clube e eu acabei entrando na escolinha de vela por intermédio de um primo. Mas sempre fui apaixonado por esportes, antes disso já havia praticado judô e tênis. A predileção pela vela veio pelo contato com a natureza, que sempre foi algo que me chamou muito a atenção, velejar me traz uma sensação de liberdade – explica.

 

Apesar de gostar bastante do esporte, Bruno deu atenção aos estudos, fez faculdade e se formou em engenharia sanitária e ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2005. Naquele ano, sentiu que precisava fazer uma escolha entre ser engenheiro ou atleta, que era o sonho de menino. Foi então que se rendeu ao esporte.

 

Três anos mais tarde, participou da Olimpíada de Pequim, na China e em 2012 disputou os jogos olímpicos de Londres. Já esteve entre os três melhores da categoria, foi campeão Sul-Americano no Chile, em 2013, pentacampeão brasileiro e heptacampeão catarinense. Atualmente está entre os 15 melhores do ranking mundial.

 

Experiência dentro do mar

 

Bruno Fontes vai para a terceira Olimpíada e está com boas expectativas para o Rio 2016. Ele mantém o sonho de estar em mais uma edição dos jogos olímpicos e, se não for competindo como atleta, garante que participará como técnico:

-Hoje sou atleta reserva do Robert Scheidt, a seletiva do Brasil foi por escolha e a vaga ficou com ele até pela história dele no esporte. Fui convidado para ser técnico da China e Trinidad e Tobago. Estarei na Olimpíada de alguma maneira, preciso dar a resposta até dois dias antes dos jogos – conta o velejador.

 

Bruno explica que o compromisso dele é ser atleta e que conquistar uma medalha em casa seria o coroamento de uma carreira de quase 30 anos. Porém, é praticamente impossível uma desistência de Scheidt. Isso faz com que o velejador incline-se ainda mais a aceitar o convite para treinar outras seleções. Ele já tem experiência de trabalho com a velejadora chinesa, que é a atual campeã olímpica. O conhecimento de Bruno nas águas cariocas faz dele um grande coach.

 

-Me sinto bem com a possibilidade de ser técnico porque o Brasil não tem chance de medalhas nessa categoria. E ainda que tivesse, eu seria mais um olho dentro da água tentando ajudar os nossos velejadores – rebate.

 

Quando questionado sobre o futuro, o atleta garante que se sente “um garoto” e que planeja encerrar a carreira em 2020, na Olimpíada de Tokyo. Sua dedicação aos treinos garantiu uma carreira de poucas lesões, ponto favorável para mais quatro anos em atividade. Ele planeja terminar o ciclo como atleta no Japão e vislumbra boas chances de medalha, a não ser que surja um talento nos próximos anos.

 

Experiente dentro e for a das águas, Bruno Fontes espera maior engajamento das pessoas com a Olimpíada que está por vir. Segundo ele, é uma pena porque os jogos são tão importantes mundialmente e as pessoas poderiam aproveitá-los de uma maneira melhor.

 

-Espero que a Olimpíada seja um ponto de partida para um novo horizonte para o nosso país – completa.