– Meu trabalho como voluntária começou com o desejo de ser grata a Deus.

 

Esse foi o chamado que levou a dona de casa Sílvia Mara Lyrio a começar uma busca incessante pelo seu próprio dom. Ela não conta o que aconteceu em sua vida, mas diz ter recebido uma grande graça de Deus e, a partir disso, se sentiu no dever de ajudar o próximo.

 

No começo, tentou ajudar jovens drogados, mas não se adaptou. Depois, tentou participar de projetos com crianças carentes ou fazer trabalho com idosos. Tudo recompensava e lhe era muito gratificante, mas ainda assim faltava algo.

 

Há alguns anos, ela mostrava seus trabalhos em bordado, tricô e crochê para uma artesã e ouviu dela:

– Você faz coisas tão bonitas. Isso é um dom de Deus.

 

Sílvia voltou para casa pensativa naquele dia.

– Cheguei em casa e analisei tudo. Então, pensei: é por aqui o caminho pelo qual vou ser útil para alguém. Vou ensinar o que eu sei, sem cobrar nada.

 

Começava, assim, uma caminhada que já dura mais de dez anos. Sílvia se entrega durante a semana para fazer bordados, trabalhos manuais, enxovais inteiros e ensina a quem quer aprender. Não vende. Doa. Faz pensando que determinada peça tem tudo a ver com determinada pessoa. E presenteia.

 

O trabalho ganhou mais sentido com a participação no Projeto Renascer, uma ONG que nasceu na década de 1980 na cidade, pelas mãos de um grupo de pessoas preocupado com o aumento do índice de prostituição infantil nas ruas de Joinville. A ideia, que começou com orientação, ganhou força e hoje atende a quase todas as necessidades de mães em situação de risco. O projeto é liderado pelas irmãs Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo desde 2012.

 

Sílvia percebeu que poderia ajudar não apenas com o enxoval das “mãezinhas”, como todas chamam as gestantes. Mas também com o desenvolvimento delas para que pudessem ter sua própria renda, fazer as roupas dos bebês e ainda participar ativamente de eventos, mostras e feiras de artesanato. Sílvia ensina quase todos os tipos de trabalhos manuais.

 

– Fiquei sabendo do trabalho das irmãs sem nunca ter ido lá. Moro pertinho e não sabia como funcionava. Hoje, é um orgulho muito grande fazer parte. Já são três anos de muito trabalho – diz.

 

Todos os anos, é realizado um bazar com os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de voluntários. Todo o dinheiro arrecadado é usado em benefício das futuras mães.

Enquanto descobria o seu dom e decidia como ajudar o próximo, Sílvia também começou um trabalho voluntário no clube de mães do bairro onde mora, na zona Leste de Joinville. E logo se tornou coordenadora. Hoje,  lidera mais de 30 mães em atividades religiosas, artísticas, de lazer e de serviço o ano todo.

 

– É uma bênção ter todas essas “meninas” ao meu lado. Chamo elas de meninas, mas são senhoras que fazem a diferença – diz.

 

Aos 63 anos, Sílvia não passa mais do que uma ou duas tardes da semana em casa. Sempre tem uma série de atividades de voluntariado.

 

– Quanto mais me doo, mais bênçãos eu recebo. Me sentia insegura com a responsabilidade do clube de mães. Achava que não ia dar conta. Hoje, faço tudo com muito amor, e Deus ajuda em tudo.

Quanto mais me doo, mais bênçãos eu recebo. Me sentia insegura com a responsabilidade do clube de mães. Achava que não ia dar conta. Hoje, faço tudo com muito amor, e Deus ajuda em tudo.