Desde a infância, a vida forneceu vários motivos para Maria das Graças Silva desistir. Abandonar tudo, aceitar que não nasceu para vencer ou sequer ser feliz. Dos seis aos dez anos, por exemplo, foi molestada pelos amantes da mãe, motivo principal para aceitar se casar aos 17 anos – uma fuga que, mais tarde, se transformou em outro abuso doméstico, o psicológico, protagonizado pelo próprio marido.

 

Houve dias em que quase não havia comida para dar aos dois filhos. No entanto, mais do que superar as dificuldades e tornar-se policial militar e professora, Maria virou os obstáculos a seu favor, transformando sofrimento e uma série de “nãos” em combustível para inspirar crianças, jovens e adultos a acreditar nos sonhos.

 

Nascida em São Paulo, Maria das Graças chegou a Joinville em 1987. Não demorou um mês para ela e o marido serem despejados da casa do cunhado e irem morar no camping onde hoje se encontra o Parque Zoobotânico. Durante um ano e meio, ocuparam uma barraca. Em 1994, ingressou na primeira turma de policiais militares de Joinville, uma forma de realizar o desejo de adolescente de integrar as Forças Armadas.

 

Não ganhou o apoio do marido, mas, logo depois da formatura, foi convidada a dar palestras, nas quais desenvolveu um sistema de orientação de trânsito para crianças e adolescentes. O trabalho a levou para o (extinto) Programa Aluno-guia, no qual atuou por cinco anos.

 

Foi o estopim para as palestras voluntárias que Maria das Graças ministra, mas não o único. Por tudo o que passou e por trabalhar na área da segurança, ela fez da violência doméstica sua tese de conclusão de curso superior (e será também do doutorado).

– É um tema do qual não se fala, parece que passam uma maquiagem na sociedade. Então, levo uma abordagem aos professores para que olhem com atenção para as crianças –  explica.

A educação foi fundamental para a sargento encontrar a saída para seus problemas. Com os obstáculos enfrentados na ponta da língua, Maria das Graças inspira alunos do supletivo e os jovens, professores e pais das escolas nas quais dá palestra, nos horários de folga do trabalho. Só no ano passado, 60 mil pessoas a assistiram. Para elas, a policial narra os fatos de sua vida, explica o poder (bom e ruim) do “não” e as convoca a acreditar em si mesmas.

 

– No final, pergunto: e agora, vale a pena correr atrás do seu sonho? – diz ela.

 

Se há alguma dúvida de que a mensagem é assimilada, basta acessar o blog que Maria mantém, o Gerando Sabedoria, no qual deposita as muitas histórias de dor e superação que ouve diariamente. Ali estão agradecimentos e relatos de como as palestras atingiram o alvo e, em muitos casos, mudaram comportamentos. Isso porque a arma mais poderosa usada pela sargento Graça não se encontra no coldre.

 

– O peso das palavras pode te salvar. Eu uso o poder delas para salvar.

 

O peso das palavras pode te salvar. Eu uso o poder delas para salvar