Quando a maioria das pessoas se aposenta, a profissão vai aos poucos deixando de fazer parte do dia a dia. Mas não foi assim para a professora Jussara Lopes Mendes, que mora no bairro Floresta, na zona Sul de Joinville.

 

Depois de trabalhar por décadas nas salas de aula de escolas estaduais de educação básica da cidade, especialmente a João Colin e a Alícia Bittencourt Ferreira, e como diretora de um centro de educação infantil no bairro Itaum, na zona Sul de Joinville, ela resolveu levar a sala de aula para a própria casa.

 

Jussara é uma das voluntárias do Projeto Alfabetização Voluntária Ler para Crer (Alvoler), uma ONG de educação informal, que tem como objetivo principal ensinar adultos analfabetos a ler, escrever e fazer cálculos básicos. O projeto atende todo o Estado, mas a sede é em Joinville, onde foi criado e tem o maior número de voluntários.

 

O trabalho de Jussara na alfabetização de adultos começou há pouco mais de oito anos, alguns meses depois da aposentadoria. Embora tenha estudado por muitos anos as técnicas de aprendizagem e os métodos de alfabetização, Jussara se reciclou para trabalhar com o projeto, usando a metodologia e o material distribuídos pelo Alvoler. Mas uma malinha, toda decorada com fotos e cheia de livros infantis, é indispensável.

 

O “equipamento” era uma mala de roupas do filho que não era mais usada. Quando abre a malinha, Jussara mergulha no tempo e nas histórias mais incríveis que ajudam no processo de alfabetização. Alguns livros não têm letras, só ilustrações.

 

– Eu peço para a mãe mostrar para o filho e pedir pra ele contar a história. E daí ela tem de escrever a história que ele contou – diz.

Numa cozinha instalada na varanda, Jussara colocou um pequeno quadro-negro, que tem duas funções: alfabetizar os alunos adultos em aulas semanais e dar vazão aos sonhos e brincadeiras de uma das netas.

 

Quando fala sobre a evolução dos alunos, Jussara lembra que cada um tem seu tempo de aprendizado.

– Eles chegam envergonhados. Mas aos poucos percebem os avanços. É demorado e tem de ser no tempo do aluno.

 

A família inteira já sabe que alguns compromissos familiares terão sempre de levar em conta o trabalho voluntário dela. As aulas não acrescentam nem um centavo no orçamento da professora aposentada, mas fazem uma enorme diferença na vida de quem aprende a ler, escrever e fazer alguns cálculos.

 

– A base de tudo é o amor. Essa é a gratificação de quem se dispõe a ajudar. É por amor – diz.

Depois de ensinar a ler e a escrever, a professora aposentada ainda acompanha o desenvolvimento dos ex-alunos pelo telefone celular. Toda vez que um aluno escreve uma mensagem, ela faz questão de corrigir e reforçar os ensinamentos.

 

– Não gosto de falar e escrever errado. E acho importante que os alunos escrevam direitinho, mesmo no WhatsApp. Hoje, todo mundo escreve de qualquer jeito, abreviando tudo – diz.

A base de tudo é o amor. Essa é a gratificação de quem se dispõe a ajudar.

É por amor.