O eletricista Alan Jones Padilha não fala da morte como a maioria de nós. Ele tem uma esperança diferente, uma alegria que nasceu da tristeza de uma perda. Há quatro anos, ele acompanhou a rotina de tratamento de uma criança que sofria de uma doença terminal.

 

Dia após dia, a cada visita, a cada encontro, o sorriso da criança o tornava mais próximo do projeto que hoje é referência de humanização no tratamento de pacientes (terminais ou não) em Joinville: o Hospirrisos – Agentes da Alegria, projeto que funciona dentro do Hospital Dona Helena.

 

Hoje, aos 32 anos, o eletricista se transforma no Doutor Miolo Solto, “pédiatra”, e passa pelo menos três a quatro horas toda semana entre os pacientes, enfermeiros, médicos e funcionários do hospital. O raciocínio rápido tira piadas de qualquer situação e, principalmente, sorrisos de rostos cansados de agulhas, exames e diagnósticos nem sempre animadores.

 

O trabalho como voluntário dá a Alan a oportunidade de receber de volta o carinho de pacientes e acompanhantes.

– O sorriso da criança, o abraço dos pais, tudo é muito marcante – garante o voluntário.

As apresentações são de improsivo, mas Alan e todos os integrantes do grupo passam por um treinamento que inclui palhaçaria e técnicas de artes cênicas para atuar em público.

 

– Se eu vier com um pensamento fixo, nada acontece como planejado. Tem de ser de mente aberta. Quase tudo vem dos próprios pacientes. É incrível como dá certo – diz.

 

As lições também se apresentam como um soco no estômago.

– A gente reclama muito da vida. Há pacientes mais positivos do que a gente, que tem condições de estar ali fora do hospital.

 

Entre as muitas histórias que fazem o palhaço se emocionar estão sempre as das crianças que não conseguiram vencer a doença. Mesmo assim, antes de falar sobre elas, Alan respira, fixa o olhar em algum ponto, baixa o tom de voz, sorri e faz questão de falar da morte de uma maneira diferente:

 

– Já se foram. Não estão mais entre nós – fala, mostrando a assinatura de muitas delas gravadas no violãozinho de madeira que ele carrega em cada apresentação.

A gente reclama muito da vida. Há pacientes mais positivos do que a gente, que tem condições de estar ali fora do hospital.