Muito antes de se tornar referência em Joinville por sua luta e seu trabalho social, mãe Jacila foi gerente de banco no Rio de Janeiro, onde nasceu há 63 anos. Então casada com o jogador de futebol Emilson, ela chegou aqui em 1986 quando o lateral-esquerdo foi contratado pelo JEC. De cara, odiou a cidade:

 

– Fazia frio, chovia demais e o povo era muito fechado. Queria ir embora daqui – relembra.

 

Bonita e extrovertida, Jacila angariou a simpatia do presidente do clube, Waldomiro Schützler, que a convidou para trabalhar com a empresa que organizava os famosos “bingões” do JEC. Deu tão certo que a Federação Catarinense de Futebol a chamou para coordenar festivais de prêmios pelo Estado. Jacila convocou parentes e amigos próximos para auxiliá-la, ganhou dinheiro e, assim, construiu tanto uma grande família quanto a Casa Vó Joaquina, um centro de candomblé e umbanda com fins sociais.

 

Não demorou para virar de conhecimento geral quem era a pessoa que mandava distribuir comida para os desafortunados do Centro. A romaria diária começou – de gente atrás de um pedaço de pão, de um trocado para o gás, de um teto para passar a noite e de um conselho da ialorixá.

Mãe Jacila chegou a abrigar 91 crianças e 36 adultos ao mesmo tempo. Hoje, são 380 famílias cadastradas, que, além de cestas básicas, têm acesso a oficinas de capacitação e ao clube de mães, entre outras atividades. Há menos benfeitores e existe a necessidade constante de campanhas para arrecadação de comida e roupas, mas a ajuda continua chegando, mesmo porque as batidas na porta não param.

 

– A mãe Jacila não tem dinheiro, mas tem caminhos – comenta, ciente de sua influência e do tamanho do povo que representa.

 

Por isso mesmo, mãe Jacila virou autoridade em delegacia, na tribuna da Câmara de Vereadores e na sala do prefeito quando o assunto é defender os afrodescendentes e as casas de santo da região. Foi notória sua participação, de dedo em riste na Câmara, no episódio de votação do Plano Municipal de Educação, no ano passado, quando entendeu que sua religião havia sido escanteada nos trabalhos das comissões.

 

Além de comandar o grupo de afoxé Omilodê – que abre e fecha os desfiles carnavalescos de Joinville – e organizar os eventos da Semana da Consciência Negra, mãe Jacila integra o Grupo de Trabalho Nacional Sociocultural de Povos de Matriz Africana, por meio do qual promove palestras na Casa Vó Joaquina que chamam a atenção para os direitos dos negros.

Hoje, são

380 famílias cadastradas, que, além de cestas básicas, têm acesso a oficinas de capacitação

e ao clube de mães, entre outras atividades