Chico e Nara

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10.out, 1966 | Teatro Record (SP)

2º FESTIVAL

DA RECORD

vencedores

 
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A BANDA

Chico Buarque

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou

O faroleiro que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas

Parou para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu

A lua cheia que vivia escondida surgiu

Minha cidade toda se enfeitou

Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

DE AMOR OU PAZ

Adauto Santos e Luiz Carlos Paraná

Quem anda atrás de amor e paz

Não anda bem

Porque na vida o que tem paz

Amor não tem

Seja o que for,

Sou mais o amor com paz ou sem

Sei que é de mais

Querer-se paz e amor também...

Já que se tem que sofrer

Seja dor só de amor

Já que se tem que morrer

Seja mais por amor...

Vou sempre amar

Não vou levar a vida em vão

Nem hei de ver envelhecer

Meu coração

Eu hei de ter, ao invés de paz

Inquietação

Houvesse paz

Não haveria esta canção...

CANçÃO PARA MARIA

Capinan e Paulinho da Viola

Quando Maria correu para mim

pensava que fosse Maria

pensava que viesse e fosse

mas já não era nem vinha

Maria, mariô

raiou o dia

quem saiu do paradeiro

da cidade da Bahia

não pode ficar sozinho

nos caminhos de Belém

nem dos lábios de Serrinha

escrevi carta pensando

um endereço que tinha

mandei saiu pelo mundo

o pensamento de Maria

cadê, cadê ô Maria?

Foi o vento que levou?

foi novo amor? O que foi?

Maria, mariô

Raiou o dia

Estou no porto esperando

faz três noites

faz três dias

que a cidade está chorando

Tá chovendo na Bahia

Saveiro não vai pro mar

Procissão não principia

anda depressa Maria

vem no vento, vem nas águas

vem de trem ou de avião

que meu coração parou

de tanta melancolia

DISPARADA

Téo de Barros e Geraldo Vandré

Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar

Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão

Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar

E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo

Estava fora do lugar, eu vivo prá consertar

Na boiada já fui boi, mas um dia me montei

Não por um motivo meu, ou de que comigo houvesse

Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade

Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu

Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte

Muito gado, muita gente, pela vida segurei

Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo

E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando

As visões se clareando, até que um dia acordei

Então não pude seguir, valente em lugar tenente

E dono de gado e gente, porque gado a gente marca

Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente

Se você não concordar, não posso me desculpar

Não canto prá enganar, vou pegar minha viola

Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei

Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse

Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu

Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo

E já que um dia montei agora sou cavaleiro

Laço firme e braço forte num reino que não tem rei

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei

Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse

Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu,

Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo

E já que um dia montei agora sou cavaleiro

Laço firme e braço forte num reino que não tem rei.