TRABALHADORES

Industrial Gilmar Sprung resistiu a pressões de todos os lados quando contratou 43 haitianos para trabalhar em Pomerode

ssim que a imprensa de Pomerode noticiou as primeiras contratações, em abril do ano passado, Gilmar Sprung perdeu o sono. A cidade de tradições germânicas receberia 43 imigrantes haitianos atraídos pela Cativa, a indústria têxtil de Sprung. Vieram ligações, e-mails e uma saraivada de críticas que o fizeram titubear.

 

-  Achei que seria apedrejado na cidade. Os primeiros dias foram muito difíceis, houve pressão de todos os lados. Mas eu estava certo da minha decisão, eles precisam recomeçar a vida em algum lugar. É uma mão de obra interessante, sob todos aspectos.

 

Uma semana depois da chegada dos trabalhadores, em maio do ano passado, uma cena o convenceu de que tomara a decisão correta. Ao lembrar da ocasião, o semblante preocupado do empresário dá espaço a um sorriso emocionado. Era sábado. No pátio do alojamento onde moram os haitianos, mais de 100 funcionários, familiares e amigos celebraram com os recém-chegados. A festa de integração teve música, comida e muitos abraços.

 

- Sabe o que realmente valeu a pena? Ver os descendentes de alemães e seus filhos interagindo com os haitianos e os recebendo tão bem. Foi muito legal, não tem preço.

A

Em 2012 havia o registro no Ministério do Trabalho de Blumenau de apenas quatro haitianos, em 2014 foram emitidas

465 carteiras de trabalho no escritório da regional

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Um ano depois, alguns dos contratados voltaram ao Haiti e outros buscaram empregos em que pudessem trabalhar além das oito horas diárias previstas na lei trabalhista nacional e fazer dinheiro mais rápido. José Dieubon, 27 anos, e Techelet Larose, 29, seguem na indústria pomerodense. Dos pioneiros, só a dupla e mais 21 permanecem na Cativa.

 

 

- Como diz um francês: 'um bom filósofo não tem pátria'. Se precisar, eu fico aqui para participar do desenvolvimento do Brasil - promete Dieubon.

 

Sprung considera os haitianos dedicados e determinados. Quer que fiquem. Os gestores da empresa, que antes demonstravam receio, hoje concordam com o chefe. A perspectiva é de crescimento e o empregador projeta uma nova etapa:

 

- Há vários que já tinham uma profissão e formação no Haiti. Tem engenheiro, desenhista e professor. Vamos fazer uma avaliação de expectativas para ver se conseguimos melhorar a posição deles, já que todos ainda estão em serviços bem operacionais.

 

Os dois arrastam o português, mas esbanjam estilo. O figurino inclui boné de aba reta, roupas largas e camisa de time de futebol. Dos pomerodenses, adquiriram o hábito de usar a bicicleta como meio de transporte. Tudo é recomeço, mesmo longe dos filhos não tem tempo ruim.

 

No alojamento (um galpão de tijolinhos à vista no Centro da cidade) os haitianos de Pomerode compartilham alegrias e dissabores de se estar longe de casa, em uma viagem que não sabem se terá fim. O quarto é coletivo e as paredes exibem as regras da casa: o silêncio é obrigatório durante a noite. Na sala de poucos móveis e uma televisão passam a maior parte do tempo quando estão no lar coletivo. Não desgrudam do celular. Ao som de kompa, ritmo caribenho parecido com o merengue, dividem as tarefas domésticas e aprendem a lidar com a distância.

 

- Todo dia depois que chego do trabalho entro em contato com a minha família para falar como foi meu dia. Tenho que ter um motivo para voltar, mas por enquanto não tenho. Quero ficar - resume Techelet.