FIÉIS

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Entre evangélicos e católicos, haitianos procuram na igreja
laços de amizade e apoio para seguir a vida longe de casa

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odos querem falar sobre a bíblia. No altar, na posição de pregador, compartilhar as palavras sagradas nem que seja por alguns minutos é uma missão dominical. A igreja une os conterrâneos ainda desconhecidos e acolhe os recém-chegados, independentemente da religião.

 

Como tudo no processo de integração haitiana ao Vale do Itajaí, o começo foi tímido. A primeira celebração reuniu seis pessoas no quarto de Bertho Saintpierre, 26 anos. Ligado à Assembleia de Deus, foi ele o responsável por organizar os cultos em crioulo de Blumenau. Quando o número de compatriotas cresceu (15 pessoas num quarto), procurou a igreja da Itoupava Central em busca de mais espaço. Há dois anos é na Rua Gustavo Zimmermann, endereço de casinhas com arquitetura germânica, que os estrangeiros se encontram todos os domingos às 9h, faça chuva ou sol. Despedem-se após três horas consecutivas de discussão bíblica, orações e música.

 

Saintpierre senta-se ao fundo. Com sapatos pretos bem lustrados, calça social e camisa bordô meticulosamente passadas, é ele quem recebe os fiéis, a maioria homens. As mulheres que marcam presença, de vestido, lenço ou chapéu na cabeça, acompanham maridos e filhos. Enquanto os da frente debatem uma passagem do Eclesiástico, os demais acompanham as palavras no livro sagrado, em francês ou português.

 

São cerca de 30 haitianos espalhados pelas cadeiras em tom de azul da Assembleia de Deus, mas o número chega a 150 dependendo do domingo. A dinâmica é diferente do culto da noite, em português, que tem a presença de um pastor. Pela manhã há vários pregadores e muita cantoria. Entre a escola bíblica e o momento das orações, o ponto alto da celebração é quando as músicas são cantadas com acompanhamento de bateria e teclado.

 

Quatro homens e uma mulher sobem ao altar. As canções entoadas tão alto contagiam. Braços e pernas se mexem no embalo das palavras. O som só é interrompido após eles dizerem bem alto "merci, merci, merci".

Se até então o crioulo era o idioma do culto, agora o pregador que está no púlpito fala português. O sotaque fica nítido, mas as frases são compreensíveis:

 

- Senhor, mais uma vez queremos te agradecer por teu amor, por tua fidelidade, por tudo que tem feito na nossa vida. Temos uma luta em nossa frente. Transforma a nossa alma, senhor. Nos dê força.

 

- Não podemos arrancar isso deles. A experiência de tê-los em nossa igreja é enriquecedora. Eles dançam, cantam e oram muito. São muito gratos por terem um espaço deles aqui - diz o pastor da igreja Rodrigo Gonçalves.

 

Os haitianos se espalham por diferentes igrejas em Blumenau. Há católicos, em minoria, e muitos evangélicos que frequentam as igrejas batista, adventista e universal, entre outras. Em Pomerode, representantes das igrejas visitam o alojamento para atrair fiéis. Há os que chegam do Haiti sem religião, convertem-se aqui e tornam-se assíduos às celebrações.