ESTUDANTES

As aulas em português são difíceis de decifrar, o que não impede as crianças haitianas de tirar notas altas na escola

elo vão da janela, entre cortinas vermelhas estampadas com bonecas, dá para ver a turma do quinto ano B na aula de Artes. A tarefa da tarde é fazer um cartão com papeis coloridos para o Dia das Mães. Na fileira da frente estão Eveline Dervilme e Gine Ericka St. Louis, 10 anos de idade. Tímidas, as haitianas da turma concentram-se na atividade. Eveline recorta papeis coloridos e Gine desenha uma flor com um "eu te amo" escrito em volta.

 

As aulas ainda são difíceis de decifrar. Para estudar na Escola Básica Municipal Lauro Müller, no Badenfurt, trouxeram histórico escolar em francês escrito à mão em um papel verde. Os educadores definiram a série pela idade de Gine e Eveline, e com base no resultado de um teste.

 

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Só 2% dos haitianos mapeados em  Blumenau em 2014 eram analfabetos,  enquanto 23% tinham ensino médio completo

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Os mais novos, como Gine e Eveline, adaptam-se rápido. A professora de Artes da turma do quinto ano, Juliane Vendrami, diz que as pequenas dão pouco trabalho. No começo a comunicação foi por sinais, mas três meses foram suficientes para que surgissem diálogos em português, mesmo que com sotaque francês.

 

Os homens haitianos são mais presentes que as mães na comunidade escolar, conta o diretor Dieter Haertel. Se há alguma dúvida sobre a rotina  os pais o procuram pessoalmente. Alguns já participam da Associação de Pais e Professores.

 

- Primeiro vêm os pais de família, aí procuram emprego e se estabilizam. Depois chegam as esposas e por último os filhos. São extremamente educados e ainda muito tímidos - descreve.

 

Atualmente, 14 haitianos estão matriculados na rede municipal de ensino de Blumenau. Onze na Lauro Müller, um na Felipe Schmidt, um na Lore Sita Bollmann e outra na Paulina Wagner, todas localizadas na região Norte da cidade. As quatro escolas receberam da Secretaria Municipal de Educação informações sobre a realidade do Haiti e dicionários Português-Francês.

 

- Nossa maior missão é inseri-los, e é um desafio. À medida que eles vão se relacionando, vão se envolvendo e aprendendo o português - comemora a diretora de ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Rosita Passold.

A dificuldade com o idioma interfere na comunicação entre os mais velhos, mas não os impede de tirar notas altas, muitas vezes superiores às de brasileiros. É o caso de Juvens St. Louis, 15 anos, irmão de Gine. Não satisfeito com o 9,5 que tirou em Matemática, pediu para fazer a prova de recuperação e conquistou o 10. Apaixonado por informática e tecnologia, quer ser poliglota. Fala crioulo, francês e arranha o português. Os próximos são o inglês e o espanhol, almeja.

 

 

- Às vezes eles entendem mais que os outros que já estão aqui e tiram notas melhores que as nossas - impressiona-se a colega Karina Bernardes, 15 anos.