HOMENS DE NEGÓCIOS

Jeanpaulo Desrosiers divide a rotina entre o trabalho numa indústria
de bicicletas e a lan house que abriu para atender compatriotas

V

em de família o instinto empreendedor de Jeanpaulo Poloville Desrosiers, 27 anos. A mãe teve mercado, ele era comerciante no Haiti e hoje divide a rotina entre a montagem de bicicletas numa empresa de Blumenau e o negócio próprio. Antes de abrir a lan house na casa em que vive, na Itoupava Central, o jovem mapeou os haitianos que circulam entre os blumenauenses. Quis conhecer e saber onde se concentrava o público-alvo para ter certeza de que o empreendimento daria certo.

 

Pendurado na parede da residência-estabelecimento está o aviso em crioulo haitiano (língua oficial do país, assim como o francês) que, no português dos comerciantes locais, significaria algo como: "fiado, só amanhã". Para usar a lan house é preciso pagar na hora. Em um cômodo há três computadores, alguns telefones e a bandeira do Haiti. O empreendimento surgiu da necessidade: faltava aos haitianos um espaço em que pudessem transferir dinheiro, telefonar e usar a internet sem se deslocar muito. E o mais importante: com alguém que falasse a língua deles.

 

Do portão, uma haitiana com bebê no colo procura por "Gazman", o homem de negócios, apelido de Jeanpaulo entre os conterrâneos. Ela parece ansiosa e pede para usar o telefone. Como há muita gente no pátio, leva o aparelho para a rua e de longe ouve-se uma discussão. A ligação cai diversas vezes e a mulher perde a paciência.

 

Cinco minutos de ligação para o Haiti custam R$ 4. Uma hora no computador, R$ 2. A internet sem fio é gratuita, uma festa para os que só precisam mandar recado pelo WhatsApp ou postar fotos no Facebook. Os dois cachorros da casa pouco interagem, mas deixam o clima ainda mais informal. Gazman é o homem que proporciona aos haitianos blumenauenses a sensação de estarem em casa. Ou pelo menos mais perto dela.

 

A vida de comerciante no Haiti terminou dois anos e meio após o terremoto, quando resolveu emigrar. Saiu de Porto Príncipe com destino a Santo Domingo, na República Dominicana, no início de julho de 2013. Seguiu para Quito, no Equador, e de lá foi de ônibus para Brasiléia, município do Acre fronteiriço com a Bolívia.

 

- Quando cheguei em Brasiléia, me perguntei: "aonde eu vou"? Me falaram para esperar porque empresários viriam me contratar - conta o Gazman, um dos 20 escolhidos pela fabricante de bicicletas blumenauense que o trouxe de ônibus numa jornada de três dias.

 

88% dos haitianos de
SC estão empregados, com salário médio de
R$ 1.076

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Na lan house, é no cair da tarde que o movimento cresce. Depois do trabalho, uns chegam de bicicleta e outros a pé. Jogam conversa fora, discutem o que fazer no fim de semana. Jeanpaulo e Oberstonn Lexin, 29, preferem falar de negócios. Em breve serão sócios numa filial da lan house no Testo Salto. Não fosse o alto custo do aluguel, o próximo alvo seria o Centro.

 

O tino para negócios fica evidente no modo de conversar, no jeito como Jeanpaulo cumprimenta os clientes e na educação com que trata os desconhecidos. Dedica-se das 15h às 22h ao negócio próprio. De manhã trabalha na mesma fábrica de bicicletas que o empregou quando desembarcou por aqui. Nas contas do Gazman, quase todo o salário de R$ 1 mil paga as contas da lan house. O lucro que vem dela banca a vida simples que leva em Blumenau.

 

Jeanpaulo é agente credenciado de uma empresa que faz transferências bancárias ao exterior. Quando recebe dinheiro para enviar ao Haiti logo vai ao banco depositar a quantia e entregar o comprovante ao cliente. A agilidade e o horário flexível, das 10h às 22h, são chave para atrair clientes.

 

- Quero expandir porque sei que tem mercado - empolga-se.