PARENTES

Integrados e minimamente estabilizados em Santa Catarina,
cada vez mais haitianos trazem familiares para o Brasil

star num abrigo com 800 pessoas espalhadas em colchões pelo chão de um grande galpão em Brasileia, no Acre, não era bem o que Chenet Thomas, 37 anos, tinha em mente quando decidiu partir do Haiti, em julho de 2013. Formado em Administração com ênfase em Gestão, sabia que os primeiros dias em solo brasileiro seriam difíceis, mas nada como aquilo. Ao todo foram 17 dias até chegar a Santa Catarina. Junto com ele, havia outros homens jovens em busca de trabalho. Sem a certeza de que uma oportunidade viria, esperavam com nada mais que pequenas malas, documentos e pouco dinheiro.

 

Ao longo de dois anos em Blumenau, Thomas trocou de emprego e agora investe em cursos aos sábados. Depois do de eletricista quer fazer o técnico em mecânica. Quando viu que as coisas se encaminhavam chamou o irmão Maxilien, que permanecera no Norte do Haiti. Desde o ano passado os irmãos moram juntos e trabalham plantando flores nos canteiros e pavimentando as ruas da cidade para a Companhia Urbanizadora de Blumenau (URB). Dividem o mesmo objetivo: proporcionar a mais familiares uma vida melhor no Brasil.


Thomas sonha com um mínimo de estabilidade financeira para poder trazer a esposa e os dois filhos, um de cinco e outro de nove anos. Como ainda não a alcançou, envia dinheiro para a família e admite que agora a melhor solução é a esposa manter o emprego no Haiti.

Para Obertsonn Lexin, 29, o pai de Paulino, arriscar foi preciso na hora de trazer a mulher. Ela chegou um ano depois dele e logo começou a trabalhar em Blumenau. A esperança agora é trazer até dezembro a filha de seis anos que está com os avós e tios.

 

- A viagem agora é para reunião familiar. Chegam esposas, pais e filhos de haitianos que já estão há algum tempo no Brasil e querem construir família aqui - relata o chefe do Departamento de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Acre, Russelino Barbosa.

E

- Muitos que já estão aqui há dois ou três anos e têm laços afetivos com quem está lá têm necessidade de trazê-los o mais breve possível. Mães com dois ou três filhos nos procuram para legalizar a vinda deles ao Brasil - conta a professora da Univali e coordenadora do escritório, Giselda Cherem.

 

Ainda que tenham ocorrido avanços visíveis na reconstrução do Haiti e mandar dinheiro seja cada vez mais difícil devido à alta do dólar, Chenet Thomas não cogita um retorno por enquanto. Prefere arcar com o custo extra na ajuda mensal que envia à esposa e às duas filhas - uma parte do salário pouco superior a R$ 1 mil.

 

- O nascimento dos filhos no Brasil, sua integração na sociedade e os vínculos que se criam vão promovendo mudanças na expectativa de retorno ao país de origem, embora isto nunca signifique um abandono definitivo - analisa a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, Rosita Milesi.

 

O abrigo acreano para os estrangeiros, agora estabelecido na capital Rio Branco, acomoda esposas, crianças, irmãos e idosos que pretendem encontrar os familiares já estabelecidos e integrados. Em Balneário Camboriú, 90% dos haitianos que procuram o escritório de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) querem auxílio para trazer parentes ao Brasil. Por meio de convênio com a Polícia Federal, estudantes e professores prestam atendimento gratuito aos refugiados.

 

Mais de
9,5 mil vistos permanentes

foram expedidos  no Brasil de 2011 a 2014

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