ntre as vitrinas e o movimento dos calçadões do Centro de Florianópolis, uma melodia traz os pensamentos de volta ao ambiente e faz com que todos tirem os olhos do celular para procurar de onde vem aquele som. Essa é a reação comum dos expectadores, que mesmo sem convite especial, param para contemplar as notas que saem da flauta do músico João Luiz D’Altoé Martins, o Jota Martins, 31 anos.
Há um ano, Jota mostra seu talento pelas ruas da cidade, uma forma que encontrou de transmitir o que, para ele, é o objetivo da música: sensibilizar. Na Lagoa da Conceição, em um canto em meio à natureza, encontrou seu refúgio e o equilíbrio necessário para ficar em paz e tocar seus instrumentos sem
incomodar os vizinhos. O estilo de vida simples foi construído aos poucos, quando Jota aceitou que
queria viver da música.
Ele teve seu primeiro contato com os instrumentos na infância, em Criciúma. Aos oito anos, um primo o apresentou o violão. Depois, na escola, começou a participar da fanfarra e experimentou outros instrumentos.
– Eu soprava e fazia barulho, mas nada muito sério, tocava violão bem mais ou menos. Até que um dia meu pai trouxe um clarinete para casa, aí comecei a estudar realmente, ler partitura, praticar – conta.
Em 2004, mudou-se para Florianópolis para estudar na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A facilidade com os números o levou para a Engenharia de Produção Mecânica, deixando a música de lado. Durante o curso, teve a oportunidade de fazer um intercâmbio de seis meses na Austrália e conta que, na volta para o Brasil, também regressou para a música:
– Tive a oportunidade de repensar minha vida, me conhecer melhor e vi que sentia falta do violão, de tocar. Voltei a tocar e procurei bandas de amigos em Criciúma – relembra.
Conciliando a música e os estudos, Jota se formou engenheiro, mas viu que não era a profissão que
queria seguir:
– Nenhuma das bandas que eu tocava dava grana, mas fui amadurecendo a ideia. Comecei a estudar
mais com professores, fazer aulas na Escola Livre de Música e vislumbrar algumas coisas. Fui vendo que a engenharia é legal, me dava dinheiro, mas não me trazia felicidade ficar em um escritório, não fazia
muito sentido.
Mesmo com as dificuldades na carreira musical, ele não pensa em voltar a exercer a antiga profissão:
– Tenho prazer e felicidade em fazer isso. Não penso em ficar famoso. Meu grande lance com a música é a sensibilização.
Nome: João Luiz D’Altoé Martins, o Jota Martins
Idade: 31 anos
Comunidade: Lagoa da Conceição - Florianópolis
Talento: músico
NAS REDES
Facebook: Jota Martins
Jota relata que começar a se apresentar nas ruas foi uma quebra de paradigmas muito grande para ele, pois na sua concepção só ia tocar na rua quem não tinha escolha, mas viu que era o oposto:
– Na rua as pessoas param para ouvir porque gostam, não porque pagaram e criaram uma expectativa. Eu estou tocando e tem gente que vem falar comigo, pede outro som, posso interagir, diferente de um palco, que gera um afastamento. Tem gente que conta a história inteira da sua vida, se emociona, isso para mim é um grande prazer.
Dentre todos os instrumentos que sabe tocar, a flauta foi a eleita para suas apresentações sob as marquises:
– A flauta grita dentro de mim. É um instrumento milenar. Quando ouvi a primeira vez, me encantei. Foi um rock, eu mal acreditava que aquele som vinha de uma flauta.
Na rua as pessoas param para ouvir porque gostam, não porque pagaram e criaram uma expectativa.
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