TEXTO

Hassan Farias

EDIÇÃO

Jean Balbinotti

 

IMAGEM

Salmo Duarte

DESIGN

Gabriela Florêncio

Ruas pavimentadas, sistema de transporte público eficiente e redução de alagamentos estão entre os desafios mais importantes da futura administração

Diminuir a incidência de alagamentos na cidade, reduzir os problemas de pavimentação e melhorar o sistema de transporte público são alguns dos desafios da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra) de Joinville. E eles deverão ter continuidade no próximo ano, quando a administração da Prefeitura inicia um novo ciclo.

 

Mas um dos problemas mais graves que se apresentam é o da falta de recursos. Conforme o secretário da pasta, Romualdo França, os municípios, em geral, destinam poucos recursos para a área de infraestrutura porque há demandas mais urgentes, como a saúde, que exige grandes investimentos por parte da Prefeitura.

 

– Se tivéssemos a destinação de cerca de 3% do orçamento do município, já teríamos uma realidade diferente. Claro que não ia se avançar com grandes obras, mas nos permitiria ter um melhor resultado e apresentar uma melhor condição para a sociedade joinvilense naquilo que é do dia a dia – explica.

 

Para 2017, o valor orçado pela Prefeitura de Joinville na área de urbanismo ultrapassa os R$ 387 milhões. Deste montante, mais de R$ 133 milhões serão aplicados em obras de infraestrutura pública. França esclarece que obras sem recursos públicos geram um limite quase intransponível, e a saída é buscar outras fontes de renda.

 

De acordo com ele, a Secretaria de Administração e Planejamento está atenta às possibilidades que existem nos ministérios e nas agências de fomento internacionais para a realização de financiamento, desde que os juros permitam e a capacidade de endividamento do município seja possível de absorver os valores.

 

– A gente compreende que o País vive um momento turbulento, mas a estrutura da Seinfra está prontinha para, havendo recursos, fazer frente a essa demanda – afirma.

 

A área de infraestrutura de um município está diretamente ligada às obras que afetam o dia a dia da população, como pavimentação de ruas, drenagem urbana, iluminação pública e transporte coletivo.

 Ruas sem asfalto ou asfaltadas e cheias de buracos continuam sendo reclamações constantes entre os joinvilenses e também devem ser encaradas como desafios pelo futuro prefeito, embora nenhum dos candidatos sinalize quantos quilômetros serão asfaltados em suas gestões. Dados da Seinfra apontam que o município contava com 1.807.726 metros de ruas em 2014, sendo que 58,8% delas estavam pavimentadas com asfalto ou calçamento (paralepípedo e lajota).

 

O mesmo levantamento mostra que a região Centro-Norte, que compreende 11 bairros da cidade, era a mais adiantada, com 86,39% das vias asfaltadas ou calçadas. Já a região Oeste, que inclui o bairro Vila Nova e parte da Zona Industrial Norte, era a que apresentava menos ruas pavimentadas (32,92%).

 

Os moradores e comerciantes da rua Tenente Antônio João, no Bom Retiro, na zona Norte, sofreram com os buracos e a poeira por anos. A população chegou a fazer protestos para reivindicar obras de infraestrutura. No início deste ano, a via finalmente recebeu  asfalto para substituir o paralelepípedo e muitos moradores comemoraram a mudança.

 

– O que passamos aqui foi horrível. Nós trabalhávamos de portas fechadas por causa do pó, e tinha clientes que ligavam para saber se a rua ainda estava naquela situação antes de virem. Diziam que não iriam colocar o carro em uma rua assim. Agora, está uma maravilha – afirma Silly Ransdorf, que é proprietária de um comércio há 26 anos na via.

 

O secretário Romualdo França acredita que a pavimentação é importante para a população que ainda vive em ruas de saibro por entender que não é apenas uma questão relacionada à lama e à poeira, mas que envolve também temas como saúde e limpeza.

 

– O grande desafio é destinar recursos para fazer a manutenção preventiva das ruas com pavimentação – ressalta.

 

França argumenta que a cidade tem a característica de alongar a manutenção preventiva das ruas, o que leva a Seinfra a fazer reparos dos asfaltos e obras de recapeamento em 48 ruas da cidade por meio de recursos da Agência de Fomento de SC (Badesc).

 

– A gente entende que deveríamos fazer a manutenção preventiva a cada cinco anos, mas não estamos conseguindo. Estamos fazendo agora ruas que têm de 25 a 30 anos sem manutenção – conta.

O transporte coletivo é um dos alvos frequentes de reclamações por parte da população joinvilense. Dados coletados pelo Projeto QualiÔnibus, divulgados no final do ano passado, revelam que a maior insatisfação dos passageiros é referente ao gasto com os bilhetes, seguido pelo conforto dos pontos de ônibus. Os dois quesitos ganharam notas abaixo de quatro, em uma escala que ia de zero a dez.

 

As melhores notas obtidas foram, respectivamente, para informação ao cliente, facilidade para pagar e atendimento ao cliente.

 

Segundo o secretário da Seinfra, Romualdo França, o valor da passagem individual do transporte coletivo é um reflexo direto do volume de usuários – hoje, ela custa R$ 3,70, comprada antecipadamente, e R$ 4,50 dentro dos ônibus. Ele afirma que, se houver um grande número de passageiros, a tendência é que diminua o custo do bilhete. Na visão dele, essa migração das pessoas para o transporte público é o maior desafio do município.

 

– Com os valores que nós temos, se tivesse um volume maior de usuários, que fosse possível reduzir em torno de 15% a 20% o preço,  a atração seria grande e a camada social mais carente poderia ser mais bem atendida – diz França.

 

França salienta que com mais usuários, menos veículos de passeio estariam circulando pelas ruas de Joinville. Por isso, ele defende que o município priorize o transporte coletivo e incentive o uso das bicicletas e o caminhar seguro das pessoas.

A arquiteta e mestre em engenharia de transportes, Vanessa Naomi Yuassa Colella entende que se for realizada uma comparação entre a renda média da população e o valor da passagem em Joinville, o preço cobrado é alto. Segundo ela, para que as pessoas deixem o veículo individual em casa e passem a utilizar o transporte coletivo é necessário que haja vantagens.

 

– Se o valor da passagem não é barato e a qualidade não é adequada, a pessoa não vai fazer essa migração. E não é apenas o transporte público em si. O usuário precisa sair de casa e chegar até o ponto de ônibus. O tanto de caminhada máxima é de 300 metros, se for mais do que isso, não se torna mais atrativo. São várias análises que precisam ser feitas – explica.

 

A especialista, que também é professora da Univille, afirma que hoje não existe um modal ruim, mas o que falta é uma aplicação de forma adequada. Ela ainda diz que os dados coletados pelo projeto QualiÔnibus poderiam ser usados para que fossem realizados os investimentos nas áreas em que a população enxerga haver mais problemas. Seria também uma forma de auxiliar na migração das pessoas para o transporte coletivo.

A drenagem urbana é um dos desafios importantes da cidade para os próximos anos para reduzir os riscos e impactos causados pelos alagamentos à população. Estão sendo realizadas obras no rio Mathias, na região central, mas ainda é necessário avançar nas obras em outras bacias espalhadas por Joinville. O problema é encontrar recursos para a realização de todo o trabalho.

 

Atualmente, as prefeituras passam por problemas financeiros e não têm recursos para realizar essas obras. Para o secretário de Infraestrutura Urbana, Romualdo França, a solução é buscar financiamentos, como o realizado com a Caixa Econômica Federal para as obras do rio Mathias, ou junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que foi procurado para financiar a próxima etapa do projeto de drenagem, que deve avançar pela bacia do rio Itaum, na zona Sul da cidade.

 

O objetivo do projeto de macrodrenagem é reduzir o nível de água que avança pelas ruas e o tempo em que elas permanecem dentro do sistema viário, avançando para os imóveis.

Segundo França, fala-se em redução porque não é possível resolver o problema das enchentes em Joinville. Ele explica que a região é extremamente vascularizada por recursos hídricos.

 

– Se tivermos resultado na busca de recursos e conseguirmos implementar as obras no rio Itaum, Joinville começa a ter uma outra realidade. A gente conseguiu isso com o rio Morro Alto, onde tivemos um resultado muito bacana nos últimos três verões.

 

As obras do rio Mathias devem ser concluídas em janeiro de 2018, de acordo com a Seinfra. França admite que o município enfrentará dificuldades para terminar dentro do prazo devido às interferências encontradas na área central. Hoje, os trabalhos estão na rua Fernando de Noronha e a expectativa é de que, até outubro, cheguem à rua Otto Boehm.

O advogado Ismael Rigobelli e a secretária Roseni de Fátima Oliveira Rigobelli trabalham em um escritório na rua 9 de Março, no Centro, e estão acostumados a conviver com os alagamentos na região. Ambos já perderam documentos e até computadores por causa da invasão da água no local. Agora, em todo final de tarde, colocam uma proteção na porta antes de irem embora para tentar proteger o escritório da água.

 

– A nossa expectativa é de que com as obras (de macrodrenagem do rio Mathias), a situação melhore e não haja mais alagamentos. Essa é nossa esperança – diz Roseni.

 

Foi o que aconteceu em outra parte da região central, onde se encontra a bacia do rio Morro Alto, que já passou por obras de macrodrenagem. O proprietário de uma lavação na rua Timbó, André Borges de Oliveira, recorda que antes os alagamentos eram muito comuns quando a maré subia ou havia chuvas fortes. Segundo ele, os moradores começaram até a colocar os imóveis à venda por causa do problema. No entanto, após as melhorias, a situação mudou e hoje as enchentes se tornam raras.

 

– O único alagamento que tivemos foi no ano passado, mas é porque subiu a maré e deu chuva forte, inundando várias partes da cidade. Já deu chuva muito forte e não encheu aqui. A gente vê que até o rio não enche mais tanto como antes – diz.