TEXTO

Alex Sander Magdyel*

 

*Aluno do 7º semestre do curso de jornalismo do Bom Jesus/Ielusc e faz estágio em “AN” desde março/2016.

EDIÇÃO

Jean Balbinotti

 

IMAGEM

Maykon Lammerhirt

e Leo Munhoz BD

 

DESIGN

Gabriela Florêncio

Apesar dos bons resultados obtidos em competições estaduais para atletas de até 18 anos, falta de apoio na fase adulta faz com que muitos jovens de Joinville desistam de se profissionalizar

Quando o trabalho de base é bem feito na esfera esportiva, os resultados invariavelmente aparecem. Em Joinville, jovens promissores são descobertos todos os anos e em diferentes modalidades. Prova disso é o desempenho do município nos Joguinhos Abertos de Santa Catarina, competição que reúne atletas de até 18 anos. Em 28 edições do evento, a cidade faturou o título 11 vezes, dez nos últimos 12 anos.

 

Da descoberta à preparação e às equipes de competição, o trabalho ganha forma. A partir daí, o caminho para os atletas treinados em Joinville ascenderem a uma carreira no esporte se torna bem mais estreito. Na fase adulta, os incentivos não são os mesmos, e muitos atletas precisam mudar de cidade ou então desistir do sonho de ser um atleta profissional.

 

Neste sentido, é preciso prestar atenção no que se refere às atribuições do governo para o esporte em Joinville. Nem tudo é de responsabilidade da Prefeitura, mas há muito a ser feito por quem assume esta área e tem a missão de fomentar o esporte na cidade além da iniciação.

 

A Fundação de Esportes, Lazer e Eventos de Joinville (Felej) é o órgão responsável por uma série de atividades que visam a dar uma melhor qualidade de vida aos joinvilenses. Entre elas, está o fomento à participação dos jovens em atividades esportivas, o que pode ser feito por meio de programas de incentivo e resultar em atletas e equipes da cidade competindo em eventos locais, regionais, estaduais e nacionais.

 

O investimento da Felej em 2015 foi de R$ 6,94 milhões. Só no Programa de Iniciação Desportiva (PID), o município aplicou R$ 501.725,04, dando oportunidade a crianças e adolescentes a participarem de atividades esportivas. No último registro, em junho deste ano, o PID atendeu a 7.048 atletas. Todas as semanas, cerca de dois mil passes de ônibus são distribuídos a atletas que precisam se deslocar para os treinos.

 

Além disso, há 411 pessoas que são contempladas com o Programa Bolsa-atleta do governo municipal. O valor mensal investido pela Felej é de R$ 259,4 mil, e a bolsa é concedida a atletas e técnicos. Destes, 48 beneficiados são competidores de modalidades de paradesporto. O valor disponibilizado para cada um varia entre R$ 250 e R$ 2 mil.

 

Um dos atletas beneficiados pelo programa é o nadador Murillo Tavares. O jovem de 19 anos recebe o auxílio desde 2011, quando foi campeão infantil (13 a 14 anos) nos 100 metros peito do Troféu Chico Piscina, em São Paulo. Para ele, o grande desafio para o esporte em Joinville é investir ainda mais na base. Murillo revela que hoje o incentivo do poder público é maior se comparado a quando ele era mais novo. O atleta começou com apenas sete anos, por influência do seu avô.

Murillo recebe a bolsa-atleta para disputar os Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc). O valor, segundo ele, é de cerca de R$ 750 mensais, o que não é suficiente para se dedicar exclusivamente ao esporte. A rotina de Murillo começa cedo. Ele acorda às 6h e só vai dormir depois da meia-noite. Na parte da manhã, se reveza entre o trabalho e o estágio que faz em uma universidade de Joinville. À tarde, treina no Joinville Tênis Clube, e à noite, faz o curso de educação física na faculdade. Mesmo admitindo estar na sua melhor fase física e técnica, o jovem já não tem ambições com a natação.

 

– É complicado por causa da questão financeira. Tenho que pagar a faculdade, o financiamento de uma moto e ainda o treino. Com um patrocínio, ficaria bem mais fácil – destaca Murillo.

 

Outro problema é com os uniformes de competição. Se fosse competir hoje, ele teria de usar sunga em vez de bermuda fast, que não se encontra no mercado por menos de R$ 1 mil. Outra dificuldade para quem pratica natação em Joinville é o fato de não haver uma piscina olímpica. As da cidade são de 25 metros – as olímpicas medem 50 metros. Detalhes que fazem a diferença.

Para investir na base, a Felej aposta na construção de um centro esportivo que contemple várias modalidades. Há quem diga que o ideal seria um espaço para treinamento e grandes competições.

 

A Felej, representada pelo gerente técnico Kelvin Nunes, entende que a necessidade no momento é de um espaço focado em iniciação esportiva. Previsto inicialmente pela Prefeitura para final de 2015, o projeto do Centro de Iniciação Esportiva (CIE), com capacidade para receber de três a quatro mil pessoas, ainda não saiu do papel e nem tem prazo para isso.

 

–  A gente precisa construir um centro esportivo que atenda às demandas da zona Sul de Joinville. Lá, teremos novas oportunidades e poderemos receber mais crianças – garante.

 

O espaço servirá para as aulas do PID, mas Kelvin acredita que não será necessário contratar mais técnicos para orientar os alunos. A proposta do CIE é oferecer aulas de atletismo, basquete, vôlei, handebol, futsal e ginástica rítmica.

 

O gerente administrativo e financeiro da Felej, Juliano Will, explica que o projeto já está em fase final de aprovação. O valor orçado para a obra é de R$ 3.464.719,65, recursos garantidos pelo Ministério do Esporte por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).

 

– Logo, logo, será iniciado o processo licitatório – diz Juliano.

 

Em 2014, a Prefeitura e a Caixa Econômica Federal assinaram um termo de compromisso para a implantação do CIE no bairro Santa Catarina, na zona Sul da cidade. O CIE será voltado para prática de modalidades olímpicas, não olímpicas e paradesportivas para crianças e adolescentes com idade entre oito e 16 anos. O centro terá 2,7 mil metros quadrados de área construída e ficará na rua Nossa Senhora de Belém. O terreno de 4,9 mil m2 foi cedido pelo município.

Uma coisa parece ser consenso entre aqueles que lidam com esporte em Joinville. Não dá para contar apenas com incentivo do governo para alavancar o esporte. Fazer com que o resultado alcançado na base alcance o alto rendimento exige investimento da iniciativa privada. O governo pode não ter os recursos necessários para desenvolver alguns projetos, mas tem a obrigação de viabilizar parcerias com organizações públicas e privadas para garantir estas ações. Este é um cenário ainda complicado em Joinville, fora da maioria das grandes competições nacionais.

 

– O grande desafio da gestão pública é conseguir trazer o investimento privado mais perto. Nós temos um projeto muito grande de iniciação, falta braço ao poder público para tornar essas crianças um referencial no esporte – explica o gerente da Felej Kelvin Nunes.

 

Para buscar investimento com a iniciativa privada, a Felej conta com um projeto do Ministério do Esporte, de R$ 2,1 milhões, já cadastrado no departamento de captação de recursos da Acij. Os recursos devem ser utilizados para melhoria das instalações. Hoje, há apenas uma empresa que contribui anualmente com a Felej. Os R$ 180 mil anuais são utilizados no PID.

É consenso entre dirigentes esportivos que uma das missões de quem assume o governo é democratizar o acesso às ações de esporte, lazer e atividades físicas na cidade, além de incentivar a população para a adoção de hábitos e atitudes saudáveis. Por isso, na avaliação deles, é importante aumentar a prática esportiva nas escolas.

 

– A educação física foi alijada das escolas. Hoje, até temos quadras cobertas, porém, a atividade não é focada como de importância ao desenvolvimento motor das crianças. De cada R$ 1 investido no esporte, outros R$ 3 são economizados na saúde. Como podem os nossos dirigentes esquecer deste dado importante difundido pela Organização Mundial da Saúde? Se estes dados forem confiáveis, por uma questão racional, o orçamento do esporte deveria crescer significativamente. O esporte é uma atividade principal e não acessória, como vem sendo julgada ao longo dos anos – afirma João Carlos Andrade, presidente da Federação Catarinense de Ciclismo.

 

Para que novos talentos sejam descobertos, é preciso também que os professores de educação física estejam atentos. Jean Rogers Kupicki, coordenador de competições da Felej, diz que o sucesso dos Jogos Escolares se dá graças aos professores. Conforme a Felej, houve um crescimento do número de escolas participantes nos Jogos Escolares, e a qualidade também aumentou. Cerca de 75 escolas participaram da última edição dos jogos, um recorde, segundo a Felej.

 

Para a técnica de atletismo Margit Weise, que foi a primeira treinadora da velocista Tamiris de Liz, o desporto escolar inexiste tanto local como nacionalmente.

 

– Enquanto o Brasil não acordar que o esporte tem que ser praticado e difundido dentro da escola, vamos ficar eternamente na mesmice. Tem que ter uma política para os desportos escolares, por meio de espaços decentes, onde se possa desenvolver as atividades dentro das escolas. Sem estes espaços, sem esta política, vai ficar nesse sufoco de ficar contando para ver se vai ou não ganhar medalhas nas Olímpiadas – ressalta Margit.

 

Um exemplo a ser seguido, diz Margit, são os Jogos Estudantis da Primavera. O evento tem mais de 40 anos e reúne mais de oito mil estudantes das redes municipal, estadual e particular de ensino.

Joinville tem hoje uma Arena “meia- boca”. A definição é de Amarildo João, presidente da Felej, administradora do estádio, e reflete o que muitos torcedores do JEC pensam quando chegam no local para assistir aos jogos. Inaugurada em 2004, a Arena continua em obras. Já se falou em anexar restaurantes e até cinema ao estádio. Entretanto, os esforços hoje se concentram em obras nos banheiros e vestiários, além da instalação de cadeiras nas arquibancadas coberta e descoberta, o que ainda não começou, pois parte da arquibancada precisa ser recuperada.

 

O prazo para conclusão da obra é dezembro deste ano. Segundo Amarildo, o cronograma está sendo seguido dentro do prazo. A Felej gasta em torno de R$ 88 mil mensais com as contas de água, luz e manutenção da Arena – o gramado fica com o JEC. O que não é cogitado no momento, diz o presidente da Felej, é a cobertura do estádio.

OS NÚMEROS DA PASTA

  • Programas 2015

PID

Valor investido em 2015: R$ 501.725,04.

Atualmente, há 96 núcleos na cidade, sendo 48 em escolas municipais, 15 em escolas estaduais e 33 em outras entidades e associações.

Felej na Comunidade

Em média, 25 bairros são atendidos por ano. Neste ano, já foram 12.

Atletas e técnicos beneficiados – 411.

Média mensal de recursos aplicados – R$ 259.400,00.

Bolsa-atleta

 

Arena Joinville

R$ 88 mil mensais

Competições das quais os times da Felej participam

Parajasc, Olesc, Joguinhos Abertos e Jogos Abertos de SC.

Quadro de servidores da Felej:

49 professores de educação física, seis estagiários e 16 funcionários da área administrativa.

2013

R$ 4.700.451,52

Esportes de alto rendimento

R$ 1.876.919,55

Alimentação e transporte de

atletas em competições

R$ 473.981,00

2014

R$ 6.185.511,96

2015

R$ 6.947.843,06

2016*

R$ 2.695.843,06

* até 30 de junho

  • Investimento anual
  • Recursos aplicados em 2015