Universos distintos

O Ribeirão da ilha aproximou ana, acostumada à agitação de são paulo, de girlei, nativo que prefere uma casa com quintal e contemplar a natureza

as comunidades formadas a partir das primeiras freguesias de Florianópolis, dois ofícios são bem tradicionais entre as famílias locais: o de pescador e o de agricultor. Os avós do advogado Girlei Silveira, 35 anos, faziam farinha e plantavam mandioca no terreno onde hoje ele a mulher, a engenheira paulista Ana Paula Mercadante, 34, construíram a casa, no Alto Ribeirão da Ilha. De universos culturais distintos – Ana veio de uma cidade de 1 milhão de habitantes, Campinas; Girlei foi criado no segundo bairro mais antigo da cidade, o Ribeirão –, eles se encontraram graças ao aluguel de uma casa no Campeche, há quase 13 anos.

– Minha mãe tinha uns apartamentos lá para locação. Ana fez o contato com uma das inquilinas para dividir o aluguel. E aí fomos nos conhecendo – revela Girlei.

– Eu me mudei para Florianópolis em abril de 2004. Em julho, eu comecei a estudar e o conheci quando fui morar no Campeche. Liguei para ele e perguntei: “Você é o dono? Você pode vir me buscar com a minha mala?” – lembra Ana Paula.

Se o romance começou por causa do mercado imobiliário, área sempre em expansão em Florianópolis, hoje é exatamente dessa especulação que eles procuram se desapegar para viver como antigamente: nada de morar em prédios e apartamentos pequenos, e sim numa casa com pátio, varanda e espaço para contemplar a natureza e para os filhos – a primeira filha do casal está a caminho.

– O terreno eu tinha herdado da família, cada irmão ganhou uma parte. Acho que o nosso modo de vida é alternativo em relação ao que se tornou Florianópolis, uma cidade pequena para muita gente. Quando isso acontece, começa a especulação e surgem os grandes prédios. Nenhum parente meu mora em apartamento. A gente não é acostumado a viver nesses grandes edifícios – diz Girlei.

O modo alternativo, nesse caso, seria viver como o típico manezinho sempre fez: dentro de uma casa, com área grande. Muitas construtoras fizeram ofertas generosas para comprar terrenos na região, com pagamento em dinheiro e apartamentos.

N

Choque cultural

no Sul da Ilha

Florianópolis é considerada por muitos uma cidade cosmopolita, grandes centros cuja população mistura nativos e pessoas de outros Estados, países e culturas. Ana Paula Mercadante brinca que já tem o green card (documento de naturalização dos EUA) de manezinha.

– O desafiador é o choque cultural. É uma capital, mas com cultura bem tradicional. Na minha família, todo mundo estudou, dá aula em universidade. Já o Girlei é o único da família que terminou o ensino médio e fez faculdade. É advogado hoje e esse é um valor que eles têm – afirma Ana.

Além disso, ela ressalta que contemplar a natureza foi um hábito que aprendeu com o marido:

– Eu venho de uma cidade onde se vai de casa para o shopping, estuda e estuda. Já ele me diz: é importante estudar, mas vamos cuidar da natureza, separar o lixo.

Para Girlei, o mais interessante do convívio com outras culturas é aprender que não existe certo e errado, seja na hora de uma opinião política ou de fazer comida.

– O grande barato de se envolver com alguém de fora é aprender a dosar as diferenças. A troca de informações culturais, desde a língua, a cultura, a música. Hoje, é difícil dar opinião sobre qualquer coisa. A vivência de culturas diferentes só nos enriquece – defende o marido.

O Ribeirão da Ilha é o segundo distrito mais antigo de Florianópolis, depois de
Santo Antônio de Lisboa. Desde 1506, há registros de navegadores portugueses
e espanhóis na baía do Ribeirão. Alguns historiadores afirmam que 50 casais dos Açores se estabeleceram na região, entre 1748 e 1756.

A freguesia foi criada em 11 de julho de 1809 e, no centro histórico do bairro, casarios em arquitetura colonial portuguesa resistem ao tempo. As casas geminadas foram construídas no entorno da Igreja Nossa Senhora da Lapa, erguida em 1806 com cal e óleo de baleia vindo da praia da Armação.

Se hoje a região é a uma das maiores produtoras de ostras do Brasil, no passado tinha característica agrícola. Chegou a ter 80 engenhos de farinha no começo do século 20.

No Ribeirão da Ilha é onde fica também a
maior via pública de Florianópolis.
O marco zero é no entroncamento com as rodovias Francisco Magno Vieira (SC-405) e Francisco Tomás dos Santos (SC-406), popularmente conhecido como Trevo do
Erasmo, e segue até o ponto final de ônibus da Caieira da Barra do Sul, no começo da trilha para Naufragados. Do começo ao fim, a rodovia tem aproximadamente 21 quilômetros. É considerada continuação da SC-405 e foi municipalizada quando Luiz Henrique da Silveira governou o Estado pela primeira vez, entre 2002 e 2006.

Baldicero Filomeno,

a maior rua da cidade

Lucas e Erwin

Mariza e Ebehart