Tijolos históricos

Ainda vista com facilidade nas regiões rural e urbana de Joinville, a técnica do enxaimel difundida na cidade pode ser considerada única no mundo

As construções de estrutura de madeira preenchida com tijolos, na maioria das vezes sem reboco, hoje dão charme às ruas em que prevalecem geminados, prédios e mansões, virando um símbolo da imigração germânica em Joinville. Mais de cem anos depois da chegada dos europeus, não é preciso muito esforço para encontrar um exemplar. De acordo com a coordenação de patrimônio da Fundação Cultural de Joinville (FCJ), a técnica pode ser vista nas ruas Santa Catarina, Ottokar Doerffel, General Valgas Neves, Blumenau, Boehmerwald e Copacabana, além da Estrada Dona Francisca e do Piraí.

Casa na rua General Valgas Neves, onde há grande concentração da técnica

Em Joinville, há registros de construções com esta técnica de 1865 até a década de 1960. Conveniente para a situação econômica dos imigrantes, o enxaimel foi a solução encontrada pelas famílias para levantar moradias de forma rápida e com baixo custo, aproveitando um conhecimento que vinha com os imigrantes, mas já quase inutilizado na área rural da Europa, onde surgiu. O arquiteto e urbanista Marcel Vieira explica que a técnica apareceu após o século 13, quando a madeira começou a ficar escassa e os europeus aderiram a uma técnica mista de construção, que usava apenas a trama de madeira preenchida por alvenaria.

Família Bennack no início do século 20, na área rural de Joinville

Na Colônia Dona Francisca, a solução construtiva foi adaptada à realidade local, criando aspectos diferentes do que era feito na Alemanha. As adaptações, segundo Marcel, começam na volumetria das casas: em Joinville, elas são menores e têm poucas divisões internas. Alguns exemplares ainda incorporam varandas, recurso para proteção contra a chuva e o calor.

O próprio termo enxaimel não foi trazido da Europa. Uma das hipóteses é de que a palavra seja uma variação da alemã Fachwerk, que significa treliça.

Germanização

Na década de 1970, incentivada pelo poder público, a cidade embarcou em um processo de germanização. Muitos prédios de arquitetura eclética e intensa relação com a história do município sumiram em favor da construção de imóveis que imitavam, com sarrafos pregados nas fachadas, a técnica usada pelos colonizadores.

– Em alguns casos, as paredes eram descascadas para receber o falso enxaimel. A Cipla fabricava placas que imitavam os tijolos, vendidas para serem fixadas à parede – conta Marcel.

Lojas de materiais de construção vendiam tijoletas de proporções similares às utilizadas na colônia. Neste processo de germanização, que oferecia vantagens fiscais aos proprietários, muitos patrimônios da cidade desapareceram, como o prédio do Banco Safra, na rua do Príncipe, e o Mercado Público de Joinville, antes construído com feições arquitetônicas açorianas.