Morreram129 homens e 25 mulheres na faixa etária dos 21 aos 25 anos.

*Idade desconhecida

Do total contabilizado, em duas mortes não foram informados o sexo e em outra a idade da vítima.

Ivone Ferreira de Souza busca matar a SAUDADE nas fotos do filho Kleber.

 

Kleber morreu numa curva do km 86 da BR-470, quando um Celta invadiu a contramão da pista em que ele trafegava, em Rodeio. É assim que acontece quando os filhos se vão antes do tempo natural: para os pais, o vazio. A interrupção precoce dos sonhos de quem mal começara a vivê-los. São os jovens que mais morrem no asfalto da rodovia. Entre 2005 e 2014 foram-se 136 meninos com idade a partir dos 21 e que não passaram dos 25 anos. Quase empatado na lista das maiorias tristes da BR-470 está outro pedaço da juventude: no mesmo período morreram 132 rapazes entre 26 e 30 anos.

A reportagem entrou em contato com o condutor do Celta, veículo que colidiu com o carro de Kleber Paul Dorow. Mas Cristiano Schill não respondeu à solicitação de contato.

Ivone é uma das MÃES dos 136 jovens, com idades entre 21 e 25 anos, que morreram na rodovia.

os 22 anos Kleber Paul Dorow planejava abrir o próprio negócio. Com a mãe montaria a filial da empresa de produtos de limpeza em que ele trabalhava desde os 16 anos. Tudo já estava meio encaminhado para 2016: vender a casa em Ascurra, comprar um terreno em Presidente Getúlio, cidade natal da família, construir um sobrado. A parte de baixo seria depósito e garagem. O piso superior da casa teria três quartos para a vida nova, sendo um para a mãe, Ivone Ferreira de Souza, 49, a quem Kleber queria sempre por perto.

Os planos de tantas mudanças foram polidos numa manhã de domingo, 21 de julho de 2013. Kleber acordou cedo e repassou todas as ideias com a mãe, que o criou sozinha com as duas irmãs desde o divórcio, há 18 anos. Com as irmãs mais velhas casadas, Kleber era o único filho que restava em casa para Ivone mimar. Naquele último domingo, mãe e filho saíram para almoçar juntos. Na volta para casa apareceram os três melhores amigos de Kleber. Os jovens foram ao plano imediato: sair para dançar na Festa do Colono, em Indaial.

- Disseram que ele dançou tanto naquele dia - conta Ivone com o sorriso virando lágrima.

Não quis emendar a festa com os amigos e resolveu voltar para Ascurra. Às 21h30min daquele dia ainda ligou para a mãe, avisando que estava voltando para casa. Antes do fim do domingo, quando vieram trazer a ela a notícia de que o filho se envolvera num acidente, Ivone duvidou. Achou que Kleber tinha saído de carona com um amigo e que o carro estava na garagem de casa. Não estava. ALN. As letras da placa soletradas pela mensageira deram a certeza que sim, o carro envolvido no acidente era o Gol preto do filho.

 

A mãe de Kleber não ACREDITOU quando recebeu a notícia da morte do filho.

Felipe Gamba, 25 anos, ainda transita pelo número de risco e pela BR-470. Desde os 18 anos percorre a rodovia todos os dias entre Gaspar e Blumenau para chegar ao trabalho e, eventualmente, quando precisa auxiliar em alguma entrega na transportadora da família. Gamba se considera um bom motorista, que nunca se envolveu em acidentes na rodovia. Mesmo tendo testemunhado colisões e imprudência na BR, o jovem admite que já se arriscou:

- Me arrependo mais em casos de ultrapassagem, de tentar ir e ter que voltar porque vem outro carro ou de o outro carro precisar dar lado.

A coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Mobilidade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iara Thielen, observa que as estatísticas de mortes de jovens na BR-470 seguem o padrão dos números no país e no mundo. A explicação para tantas mortes entre homens dos 21 aos 25 anos pode ser resultado de dois fatores, segundo Iara:

- Um é o desejo de quebrar as regras: o jovem nunca vai admitir que não controla o ambiente no entorno. E o segundo é a tendência ao individualismo, quando a pessoa acredita que está sozinha no trânsito, se arrisca e não respeita o outro.