Dona Selma sonhou que estava perdida uma SEMANA antes da morte do filho, Maicon

Selma busca CONFORTO na dor de outras mães,

que sofrem drama semelhante ao dela.

- Uma vizinha, crente, encontrou ele e conversou, tentou convencer a ficar em casa e ir para Gaspar no domingo cedo. Ela me disse que o Maicon não quis, mas antes de sair entrou na igreja, se ajoelhou e pediu perdão a Deus por qualquer coisa que tivesse feito errado - conta dona Selma.

Maicon pôs roupas numa mochila e pegou a bicicleta azul herdada do pai, Pedro Alves Coelho. O chefe da família, também operário da construção civil, morreu aos 52 anos em um acidente na BR-470 há 13 anos. Do caminho de mais de 100 quilômetros que planejava fazer, o jovem servente de pedreiro percorreu cerca de 20.

- Ele era contente toda vida, o sonho dele era ter uma casinha e trazer a mulher e a filha pequena dele do Paraná para cá. Foi um Dia das Mães muito triste - relembra Selma, 61 anos.

Maicon morreu quando uma caminhonete o atingiu enquanto empurrava a bicicleta. O motorista fugiu do local. O servente de pedreiro ficou estirado no asfalto sem socorro.

A reportagem tentou contato com Celso Klaar, acusado de atropelar Maicon, e também com o advogado de Klaar, Pedro Carlos Piedade. No entanto, nenhum dos dois deram retorno. O caso tramita na Vara Criminal de Rio do Sul.

ma semana antes de Maicon Luís Coelho morrer aos 28 anos, Selma teve um sonho. A mãe do rapaz viu-se caminhando em uma estrada parecida com a que mora, no bairro Santa Maria, em Rio do Sul, perto da BR-470. Ainda que familiar, o caminho era outro. Selma percorreu a rua escura até encontrar a porta de uma casa para bater. À desconhecida que lhe recepcionou no sonho, disse:

- Estou perdida.

Selma acordou atordoada. No sábado, 11 de maio de 2013, ela se sentiria perdida de verdade. Quando o telefone tocou às 20h da véspera do Dia das Mães, Selma sabia que algo grave acontecera a Maicon. O sexto filho dos oito que teve e criou no bairro Santa Maria acidentara-se na BR-470. Eram 18h - hora em que os católicos rezam a Ave-Maria -  quando Maicon foi atropelado no acostamento do km 127,3 da rodovia, em Lontras. Desde 2005 outras 87 pessoas se tornaram vítimas da rodovia neste mesmo horário, número que faz do fim de tarde o período mais perigoso para transitar pela BR-470.

Maicon madrugou naquele sábado em que também passaria a integrar a estatística do dia da semana mais mortal nos últimos 10 anos: das 1.153 vidas interrompidas pela BR-470 desde 2005, 237 se foram no tradicional dia de folga.

- Parecia que ele sabia, que sentia que ia morrer - remói a irmã Leoni Alves Coelho da Silva, 37, que com o marido adotou o sobrinho mais velho.

Como fazia sempre, Maicon começou o dia com apenas uma xícara de café com leite. Visitou a irmã, conversou com as vizinhas, almoçou com o sobrinho Cristiano. Durante a tarde foi ouvir música no porão de casa. Então ligou para a mulher e mãe da segunda filha, de um ano e meio, que ele havia deixado no Paraná há cerca de dois meses. O casal se desentendeu. Maicon decidiu ir de Rio do Sul a Gaspar pedalando ainda naquele sábado, para ver o filho.

A maioria das mortes* ocorreu entre 17h e 19h

*Em 40 das 1.153 mortes o horário não
foi registrado.

Sábado e domingo são os dias com mais acidentes na BR-470

Uma morte não teve o dia da semana contabilizado.

Desde o início do levantamento, o ano com menos vítimas fatais foi 2013

Das 1.153 pessoas mortas na rodovia em 10 anos, 117 morreram em junho