Q

uando Gabriel Victor Garcia nasceu na pequena cidade de Tijucas, com 26 mil habitantes, em 27 de junho de 2004, foi um momento de alegria e preocupação para toda a família.

Portador da síndrome de Treacher-Collins, doença rara que afeta a forma como os ossos da face se desenvolvem, os pais não faziam ideia do que iriam enfrentar.

 

Foram anos de batalhas e busca por tratamentos médicos, até que em 2012 a vida de Gabriel, na época com 8 anos, mudou. Nesta época, seu caminho cruzou com o do então estudante de odontologia da UFSC, Felipe Damerau Ouriques.

Com 23 anos, Felipe estava no 9º semestre do curso, e os alunos já atendiam gratuitamente a população na clínica da UFSC.

 

– Foi meio que um chamado, eu me senti presente nessa história, não sei explicar da onde veio, mas é muito gratificante. Na verdade fomos começando uma amizade muito legal, ele era meu paciente, eu era aluno, fomos evoluindo com o tempo. E eu comecei a ver que saindo da nossa zona de conforto, conseguimos fazer um pouquinho a mais pelo outro.

 

Gabriel também se recorda de quando conheceu o amigo:

– Toda semana eu tinha que ir na universidade, mas primeiro não era o Felipe, sempre trocava os dentistas, até que começou a ser ele e foi legal.

 

Meses depois, Felipe resolveu criar o projeto Gabriel Social. Com a ajuda de um amigo, produziu um vídeo e colocou na internet contando a história do menino. Naquele momento iniciava a campanha para conseguir um aparelho auditivo para Gabriel, tratamento que precisaria ser feito em Campinas, São Paulo, em um hospital de referência.

 

 

Da ideia inicial surgiu uma enorme corrente de solidariedade que começou em Florianópolis e se espalhou pelo Brasil. No final de 2012, um grande espetáculo foi realizado no Centro Integrado de Cultura (CIC), “Gabriel Social in Concert”, com a organização e participação de artistas, todos de forma voluntária. Até o Gabriel fez sua apresentação, tocando piano no palco para uma plateia em lágrimas.

 

Em julho de 2013, finalmente Gabriel ouviu pela primeira vez. A ativação do aparelho foi registrada por seu anjo da guarda Felipe, que o acompanhou a Campinas junto com a mãe de Gabriel, Sônia Garcia.

 

– Foi um dos momentos mais marcantes pra mim – recorda Felipe.

 

Quatro anos já se passaram desde o primeiro encontro, e amizade entre os dois só se fortaleceu. Felipe se formou dentista e já concluiu um mestrado. E Gabriel, hoje com 12 anos, continua se desenvolvendo, com viagens periódicas para Campinas para realização de cirurgias de correção facial, que devem durar até ele completar 18 anos.

 

Sônia, mãe de Gabriel, diz que faltam palavras para agradecer tudo o que o “anjo da guarda” e todos que ajudaram fizeram pelo filho:

 

– Nossa vida se divide entre antes e depois de ter conhecido o Felipe. Ele é um anjo que apareceu na vida do Gabriel e da nossa família. Gabriel se inspira nele, já falou que quer ser doutor igual o Felipe – diz, emocionada.

 

Para o jovem dentista, o acompanhamento da Hora e da RBSTV deu ainda mais credibilidade para o projeto:

 

– Eu não tinha a menor ideia de onde iríamos chegar, mas depois que imprensa começou a se envolver, nós trabalhamos juntos. Vemos tantos projetos que surgem, tantas pessoas que querem fazer o bem, mas chega num momento que as pessoas se perdem, ou tomam um rumo contrário, ou acaba aquele dinheiro não chegando na pessoa certa. Eu acho que o nosso projeto foi muito verdadeiro, a TV e o jornal deixaram que ele ficasse verdadeiro: mostraram começo, meio e fim.