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om tantas mudanças na comunicação nos últimos 10 anos, quase não recebemos mais cartas na redação da Hora de Santa Catarina. Hoje, nosso contato com leitores é feito mais por telefone, redes sociais e Whats App, mas em 2006, o volume de cartas que chegava era muito grande. E como tudo na vida, a primeira carta a gente nunca esquece.

 

Mary Andreia dos Santos, mãe de Mary Karyne dos Santos, na época com 15 anos, já não sabia mais a quem recorrer para conseguir a cirurgia no joelho da filha adolescente, que esperava há 811 dias por atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A menina estava a caminho da escola em 2004, no bairro Vila Aparecida, região continental de Florianópolis, quando pisou em falso e deslocou a rótula do joelho esquerdo. Passou pela unidade básica de saúde e a cirurgia chegou a ser agendada, mas o procedimento foi desmarcado algumas vezes, e o tempo foi passando.

 

– Eu não podia fazer várias coisas, sentia muita dor ao caminhar. Minha mãe corria atrás, ia na Secretaria de Saúde, reclamava na ouvidoria, mas o tempo foi passando e nada de me chamarem. Quando ela soube que iam lançar o jornal Hora e tinha a oportunidade de mandar a carta, ela aproveitou – relembra Mary.

 

 

 

Dez anos depois, ela ainda tem no joelho as cicatrizes da cirurgia, mas consegue viver uma vida normal. Professora de educação especial em São José, a jovem acredita que se não tivesse saído no jornal, estaria aguardando até hoje:

 

– Eu lembro quando a reportagem esteve lá em casa, e como as coisas aconteceram rápido. Depois de um tempo eu até participei de uma propaganda do jornal, eu falava a frase “Meu coração ficou alegre”, foi muito divertido, muita gente vinha me dizer que eu tinha ficado famosa – recorda, com carinho.

 

O pai de Mary, o técnico em enfermagem Paulo Roberto Machado, 53, destaca que o jornal teve um papel fundamental na história:

 

– Tivemos que recorrer à imprensa para resolver o assunto. Foi só sair no jornal que tudo andou rápido. É assim até hoje, o jornal dá voz para muitas pessoas que não são ouvidas – destacou.

 

Mary, assim como a família, continua leitora da Hora, e deixou uma mensagem para gente pelo aniversário:

 

– Eu queria parabenizar o jornal pelos 10 anos, que continue ajudando muitas pessoas como no meu caso.

 

 

 

  • Com o nosso apoio, a história de Mary teve um final feliz, e assim como a jovem, ao longo destes 10 anos recebemos milhares de mensagens de leitores, que infelizmente aguardam em longas filas do SUS.

 

  • Em 2006, na primeira edição da Hora, a fila de espera, somente em Florianópolis, era de
    1,9 mil pessoas. As especialidades que lideravam a lista eram oftalmologia, otorrino, ginecologia e cirurgia vascular.

 

  • Atualmente, a Secretaria de Estado da Saúde diz não ter o número de quantas pessoas aguardam na fila de espera, e que isso fica a cargo de cada médico, em cada hospital.

 

FILA CONTINUA

 

O caso se tornou destaque na edição número 1, de 28 de agosto de 2006. Após ter a situação exposta no jornal, o Hospital Infantil procurou a família para entender o que poderia ter acontecido para demorar tanto, e no dia 6 de outubro, pouco mais de um mês depois da primeira reportagem, Mary Karyne finalmente passou pela cirurgia que aguardava.