Rosane Budag Tiro Esportivo A primeira olimpíada 
da carreira

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e gerente financeira a colecionadora de títulos. A trajetória da catarinense Rosane Budag no tiro esportivo é de encher os olhos. Aos 42 anos, sendo 12 dedicados a atleta profissional, Rosane é a líder do ranking brasileiro e se prepara para disputar a sua primeira Olimpíada. A atiradora de Blumenau tem mais de 15 títulos nacionais e experiência de sobra em torneios sul-americanos. Nada mau para quem começou a atirar para aliviar o estresse após a gravidez e logo em seguida já bateu o recorde brasileiro da modalidade.

 

Apesar de ser apaixonada por Santa Catarina, Rosane vive há três anos em Curitiba (PR). Atleta de alto rendimento da Marinha, ela explica o motivo da ida para o Paraná e também conta detalhes da sua rotina de treinamento para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, onde espera fazer bonito e conseguir uma medalha.

 

 

Em quais modalidades você vai competir na Olimpíada?

Eu vou atirar na carabina de ar comprimido, que a munição é o chumbinho, e atira indoor e a 10 metros. E o centro do alvo é um pino de caneta. É a mosca que a gente tem que acertar a 10 metros. E a outra modalidade é carabina três posições (3X20). Damos 20 tiros deitados na posição de snipper, 20 tiros de joelho e 20 de pé. Ambas as modalidades não existe apoio, é tudo com o corpo livre. Nessas três posições atiramos a 50 metros, com munição 22 e o stand é aberto, aí tem interferência de vento, chuva, frio ou calor.

 

 

Quando e como foi que ficou sabendo que estava garantida nos Jogos?

Há um mês que o COB soltou uma lista para a imprensa e vi que estava classificada, mas em off eu sabia desde janeiro mais ou menos. Porque foi feito um sistema de classificação dos atletas brasileiros que começou há dois anos. E eu fui pontuando. No ano passado, no campeonato sul-americano que teve no Chile eu ganhei as provas, fui recordista e isso me deu uma vantagem muito grande.

 

 

Como você está se preparando para a competição no Rio?

Nunca foi feito um treinamento tão forte com a equipe brasileira. São três mulheres e cinco homens, mas a gente tem viajado direto fazendo treinamento fora do país, até porque o nosso stand de tiro ainda não está liberado para treinamento. A equipe brasileira não pode treinar onde vai ser a Olimpíada e isso é o maior absurdo do mundo, porque não está pronto ainda. Estamos treinando muito forte. De janeiro até a Olimpíada nós vamos passar só 54 dias no Brasil. É uma preparação bem forte visando o melhor rendimento de todos os atletas.

 

 

Como é o treinamento físico de um atleta de tiro?

A gente faz academia, alguma coisa de aeróbico, que sempre tem que ter porque o batimento cardíaco é muito importante. Na hora da prova o batimento baixa muito, abaixo de 80. A gente também faz algum exercício de yoga, meditação com música para acalmar e conseguir treinar a respiração.

 

 

Por que você resolveu mudar para Curitiba?

Faz três anos que estou em Curitiba. Foi uma opção pessoal. Morei 18 anos em Joinville, representava a cidade de Joinville. Mas em Joinville, por não ter aeroporto internacional, me atrapalhava bastante. Chegava das competições em Curitiba e tinha que descer de ônibus ou de carro. Então foi para facilitar a minha vida no esporte.

Você começou a atirar para aliviar o estresse. Pode explicar melhor?

O meu segundo filho nasceu muito prematuro e ficou muito tempo na UTI. Eu estava muito estressada. Eu trabalhava como gerente financeira de uma multinacional e como meu ex-marido praticava tiro esportivo eu comecei a frequentar o clube e dar uns tirinhos, para desestressar.  E aí em seis meses eu já bati o recorde brasileiro. Eu fui gostando e me dedicando cada vez mais. Depois já não conseguia mais trabalhar e competir, então decidi ser atleta. Hoje eu sou contratada como atleta de alto rendimento da Marinha e também no tiro olímpico do Time Brasil.

 

 

Hoje você consegue viver só do esporte, mas nem sempre foi assim, né?

Durante 10 anos da minha carreira do tiro eu ainda era civil e não militar. E isso dificulta bastante, porque eu tive que comprar todo o equipamento, as duas armas, munição e tudo isso é muito caro para quem é civil. Para o militar tem um pouco mais de facilidade, compra com isenção, ganha a munição para treinar e na época foi bem difícil até conseguir montar todo o equipamento. Foram anos de investimento.

 

 

Como vê o desenvolvimento do esporte em SC?

Em Joinville eu tinha algum apoio da Fundação, mas não tinha bolsa. Eu nunca consegui apoio nenhum de Santa Catarina. Eu tive um apoio de uma empresa de Joinville, que me patrocinou durante um ano, foi bem legal, depois cortaram o patrocínio. A dificuldade em Santa Catarina é muito grande, ninguém apoia. É muito difícil viver na corda-bamba. Já em Curitiba eu consegui me associar ao clube Santa Mônica, que é onde eu treino. Eles me deram um pequeno apoio, mas fora isso não recebo nenhum outro benefício. O tiro não é um esporte muito divulgado, ainda é colocado como algo ruim, mas na verdade é um esporte olímpico como outro qualquer. Tem muito preconceito, infelizmente.