mala cheia de
boas lembranças

câmbio impulsiona fluxo de visitantes e cria
ambiente para estado se tornar favorito

A

disparada do dólar faz o turista que tem planos de visitar o exterior rever a viagem. Com a moeda americana valorizada, muita gente trocou a visita a outro país por um passeio doméstico. Santa Catarina acabou se beneficiando dessa conjuntura, especialmente neste verão.

 

De dezembro de 2015 a fevereiro deste ano, 8 milhões de pessoas vieram a Santa Catarina – um crescimento de cerca de 30% em relação à temporada passada. A rede hoteleira comemorou uma ocupação média de 92% no Litoral. O excesso de gente que passou por aqui é encarado como uma oportunidade de fixar o Estado na lembrança do turista para que ele volte mais vezes e durante todo ano – não apenas no verão.

 

– Santa Catarina contempla uma série de variações culturais e naturais em suas regiões. O Litoral continua sendo o carro-chefe e vai atrair mais pessoas, mas o Estado tem outras faces em seu interior – diz Valdir Walendowsky, presidente da Santur.

 

Hoje o Estado tem pelo menos dez grandes regiões com apelo turístico, cada uma delas com características igadas à natureza, arquitetura, gastronomia e aspectos culturais. Algumas já se destacam, como o Vale Europeu, que ganhou recentemente uma rota especial de cervejarias artesanais.

 

A Serra é outra com grande potencial para alavancar o segmento. Por lá, o frio passou a ser encarado como um produto turístico e o crescimento do setor de vinhos tem contribuído no desenvolvimento econômico da região. São 35 vinícolas na área de atuação da Vinho de Altitude Produtores e Associados, que trabalha no fortalecimento do segmento. A maioria delas está em São Joaquim. Juntas, produzem 1,2 milhão de garrafas por ano, faturam R$ 200 milhões e agora começam a relacionar a bebida com o turismo de experiência.

 

– Hoje a cadeia do vinho já é a maior de São Joaquim. Ultrapassou as da maçã, da madeira e da pecuária. O enoturismo talvez tenha o maior potencial de crescimento do Estado - destaca Acari Amorim, presidente da entidade.

 

Desafios no planejamento

 

Há estudos que apontam que o turismo movimenta pelo menos 50 atividades da economia – da rede hoteleira ao vendedor ambulante. Capitalizar esse potencial regionalmente passa por estabelecer políticas de fortalecimento da atividade. É neste ponto que ainda há muito a evoluir.

 

Um recente mapeamento do Ministério do Turismo apontou que 193 das 295 cidades catarinenses têm algum tipo de apelo turístico. Mas apenas 20% delas têm, hoje, um plano municipal de turismo, de acordo com a Santur. A falta desse direcionamento oficial faz o Estado perder oportunidades.

 

– Temos que ter políticas de Estado que dão diretrizes estratégicas e ações de governo que executem essas estratégias. É preciso identificar oportunidades e estabelecer um calendário de eventos e participação em feiras onde se possa divulgar Santa Catarina – diz Rogério Siqueira, presidente do parque multitemático Beto Carrero World.

 

Além disso, o excesso de gente nas praias nesta temporada evidenciou problemas antigos que acabaram ofuscando números que, em tese, deveriam ser comemorados. Mas nada foi mais grave e tão criticado do que a balneabilidade.

 

O grande índice de praias impróprias para banho em um Estado reconhecido como um dos melhores e mais procurados destinos turísticos do país prejudicou a imagem do cartão postal.

 

– Economicamente esta pode ter sido a melhor temporada dos últimos 20 anos. Mas não foi maravilhosa exatamente por causa dos problemas de saneamento – diz João Eduardo Amaral Mortiz, presidente do conselho deliberativo da

Associação Brasileira de Indústria de Hóteis em Santa Catarina (ABIH-SC).

 

Há um consenso entre poder público, empreendedores e população que é preciso priorizar ações para um rigoroso combate à poluição nas praias de Santa Catarina. Mas limpar as águas catarinenses, apesar de uma urgência, não deve ser a única preocupação do governo do Estado. Há um consenso de que é preciso aprimorar ainda mais logística e a infraestrutura de serviços para melhor receber os visitantes.

 

– Tem que pensar em qualidade. O nosso Litoral não suporta um turismo de massa – opina Fernando Marcondes de Mattos, dono do Costão do Santinho.

 

 

PONTOS DE

OPORTUNIDADE

PONTOS

DE ATENÇÃO

Explorar as belezas naturais, a gastronomia e arquitetura típicas e os variados aspectos culturais das diversas regiões catarinenses, não apenas no litoral.

 

Aprimorar ainda mais o turismo de eventos: o Estado tem bons espaços e estruturas para receber feiras e encontros corporativos, que atraem público com maior poder de compra.

 

Definição de uma política de Estado que não esteja vinculada a governos específicos, que permitam o desenvolvimento da atividade. Uma das alternativas é estimular municípios a criarem planos de turismo, que pensem no segmento no médio e longo prazos.

 

Infraestrutura. É preciso melhorar o acesso para facilitar a vinda do turista, com investimentos em estradas e aeroportos. Os problemas de balneabilidade das praias precisam ser rigidamente combatidos.

 

Investimentos constantes na qualificação de mão de obra de prestadores de serviços ligados à cadeia turística.

 

Mais diálogo entre o trade turístico: a união de forças entre diferentes agentes, públicos e privados, é fundamental para a promoção do Estado.