TERRENO FÉRTIL 
PARA A EXPORTAÇÃO

O dólar favorável e a autorização para novos Embarques para a Coreia do Sul, China e México garantem fôlego À produção de suínos e aves no Estado

 

V

em da agropecuária um dos poucos motivos para se comemorar em meio à turbulência da economia brasileira. Dados divulgados no início deste mês pelo IBGE mostram que a atividade foi a única que cresceu em 2015 entre aquelas que contribuem para o Produto Interno Bruto (PIB).

 

A expansão foi de 1,8% na comparação com o ano anterior, bem diferente da indústria, que despencou 6,2%, e do setor de serviços, cujo tombo foi de 2,7%. No geral, a soma de riquezas produzidas no país encolheu 3,8%, o pior resultado em 25 anos.

 

Não é de hoje que o campo tem segurado as pontas de um país mergulhado na crise – ou, no mínimo, impedido desempenhos ainda mais frustrantes do PIB. A boa notícia é que Santa Catarina é um dos protagonistas no setor, especialmente na agroindústria. Líder nacional na produção de carne suína (27% do total) e segundo na de frango (17%), o Estado vem ampliando mercados para esses dois produtos.

 

Em novembro de 2015, dois frigoríficos catarinenses foram habilitados para exportar carne suína para a China e outros quatro receberam permissão para vender frango para o México. No início deste ano, depois de uma década de tratativas, o governo da Coreia do Sul autorizou a importação de carne suína in natura produzida em Santa Catarina, que se tornou o primeiro Estado brasileiro liberado a fazer negócios com o país asiático.

 

Por ter padrões de qualidade de produção reconhecidos e uma privilegiada condição sanitária, com áreas livres de febre aftosa sem vacinação, a agroindústria catarinense já está credenciada a vender proteína animal para países com políticas rígidas de importação, como Estados Unidos e Japão.

 

Lideranças empresariais do segmento, no entanto, avaliam que a participação nesses chamados mercados premium é tímida e que, portanto, há possibilidades de se avançar ainda mais.

 

- Em suínos nossas exportações ainda são insignificantes se comparadas aos países que lideram. Em aves, podemos aumentar a participação com produtos de maior valor agregado na Europa, no Japão e no Oriente Médio, sem esquecer que internamente temos muito espaço a ser explorado - diz José Antônio Ribas Jr, diretor da JBS e presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav).

 

Há esforços também na abertura de novos mercados no exterior, e o dólar na faixa dos R$ 3,70 é um dos principais atrativos para se vender para fora.

 

O presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, reconhece os ganhos, mas também alerta para os riscos da supervalorização da moeda americana:

 

– Em relação à taxa cambial, é preciso cautela. De um lado ela torna o produto brasileiro mais competitivo no mercado mundial. Por outro, impacta no aumento dos custos de produção porque muitos itens são cotados em dólar, como máquinas, equipamentos, insumos e embalagens.

 

Alternativas para o impasse do milho

 

Embora não seja imune à crise, a agropecuária tem dado mais sinais de resistência do que outros segmentos, avalia Airton Spies, secretário adjunto estadual de Agricultura e Pesca. Em Santa Catarina, 60% das receitas desse setor vêm da proteína animal. É, explica Spies, uma produção mais segura porque não fica exposta ao mau tempo, ao contrário dos grãos, cujas safras podem ser prejudicadas por secas ou excesso de chuvas.

 

- A produção de proteína animal tende a ser mais estável. Isso contribuiu, apesar das crises, para que o nosso setor agropecuário tenha crescido – diz Spies.

 

Essa estabilidade, porém, está longe de isentar a atividade de enfrentar desafios. A grande preocupação é com o aumento de custos da produção, e um item merece atenção especial: o milho. O grão representa mais de 60% da dieta de frangos e suínos.

 

A saca, que antes custava em torno de R$ 23, agora sai por até R$ 45 devido à escassez. Há outro problema: o Estado consome cerca de 6 milhões de toneladas de milho, o dobro do que produz. A saída encontrada até agora é trazer o insumo da Região Centro-Oeste.

 

- Para isso é necessária uma operação rodoviária que, de tão grande e cara, está se tornando irracional e absurda - critica Mário Lanznaster, presidente da Aurora Alimentos.

 

O grande temor é que o impasse envolvendo os altos custos do milho estimule uma migração em massa das agroindústrias catarinenses para o Brasil central.

 

Já existem propostas em curso para impedir que isso aconteça. Como as áreas de plantio do grão no Estado são limitadas, é preciso aumentar a produtividade das terras. Hoje cada hectare rende 7.750 quilos, mas há projetos para esse volume subir para 10 mil quilos. Isso não garantiria a autossuficiência, mas ajudaria a reduzir significativamente o déficit.

 

Lideranças do setor, no entanto, são unânimes ao apontar que a solução definitiva para este problema passa por ferrovias, uma reivindicação bastante antiga que baratearia a vinda do milho a Santa Catarina. Enquanto uma ligação direta do Oeste catarinense ao Brasil central não sai do papel, o Estado busca alternativas junto à iniciativa privada para diminuir o déficit do insumo.

 

Já há conversas com a empresa Rumo/ALL para embarcar o grão em Goiás ou Mato Grosso e descarregá-lo em Lages – o restante da viagem até as agroindústrias seria feito por estradas. Ainda é necessária, no entanto, uma análise técnica das condições da malha ferroviária, principalmente no trecho entre Bauru (SP) e o município serrano.

PONTOS DE

OPORTUNIDADE

PONTOS

DE ATENÇÃO

Aumentar a eficiência da produção e industrialização de carnes e grãos como o milho, reduzindo custos e otimizando processos.

 

Usar a cabotagem (navegação entre portos) para trazer milho do Pará pela costa até os portos do Estado. É uma alternativa mais barata do que por rodovias.

 

Vender Santa Catarina como marca de Estado com o melhor status sanitário do país e produtos de alta qualidade, com a criação de um selo de origem que dá segurança a quem compra.

 

Manter o rigoroso controle sanitário, hoje enquadrado entre os melhores do mundo. A qualidade das carnes produzidas em Santa Catarina é o principal cartão de visitas do Estado no exterior.

 

O custo do milho. É preciso encontrar alternativas para baratear o transporte do grão que chega de outros Estados, já que Santa Catarina demanda o dobro da quantidade que produz. Há conversas iniciais para trazer o insumo de trem do Centro-Oeste até Lages. Outra alternativa sugerida por lideranças empresariais é investir em maior capacidade de armazenagem, reduzindo o número de viagens do Brasil Central ao território catarinense.

 

Investir em infraestrutura no meio rural para que o campo se torne atrativo para os jovens empreenderem, garantindo uma geração de agricultores por opção, não por necessidade.