Alternativas para não sucumbir à crise

Investimentos em infraestrutura, além da diversificação da matriz econômica, são apontados como saída para o cenário não piorar e Caxias não seguir os passos de Detroit.


Publicao em 03 de agosto de 2016

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Ana Demoliner

ana.demoliner@pioneiro.com

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André Renato, Divulgação

Benjamin Beytekin, DPA

Rodrigo Philipps


Infografia

Guilherme Ferrari

Alternativas para

não sucumbir à crise

Quando questionados qual seria o pior cenário que Caxias poderia vivenciar se a retração industrial persistir, especialistas e lideranças da cidade são quase unânimes em lembrar de Detroit (foto acima). A história da cidade americana que já foi considerada a capital mundial do automóvel é o exemplo mais chocante de como a passividade pode desabar uma economia pujante.

Nos tempos mais prósperos, cerca de dois milhões de pessoas chegaram a viver em Detroit, sendo boa parte delas empregadas em montadoras automotivas. Esse número baixou para 700 mil moradores depois de uma série de fatores que aumentou expressivamente o desemprego na cidade, como a concorrência com carros japoneses e a crise americana de 2008. Em 2013, depois de amargar anos com a economia em baixa, Detroit chegou a declarar falência.

— A cidade se transformou em um museu a céu aberto, com milhares de casas abandonadas. É preciso que a gente sempre olhe para esse exemplo para nunca repetir — acredita Nelson Sbabo, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.

Um das lições que Detroit ensina é que não é saudável a economia de uma cidade depender exclusivamente de um setor. Nesse sentido, empresários e poder público apostam que o turismo caxiense pode ser potencializado e assim ganhar mais representatividade na matriz econômica caxiense, que hoje é dominada pela indústria:

— Não tenho a menor dúvida de que a planta econômica da cidade terá maior fortalecimento do turismo. Temos um potencial enorme a ser trabalhado no interior da cidade e temos ainda atrativos importantes, como uma estrutura completa de serviços e saúde — analisa Emir José Alves da Silva, secretário municipal de Turismo.

Para colocar cada vez mais Caxias no mapa do turismo nacional, Silva conta que o trabalho em feiras e eventos está sendo intensificado para incluir a cidade no roteiro da Serra gaúcha. Programas envolvendo escolas, para trabalhar a cultura de município turístico já nas crianças, também vêm ganhando força.

Distrito industrial — Outra saída bastante apontada para amenizar o cenário de enfraquecimento da indústria é a criação de um distrito industrial. O espaço seria destinado a atrair novas empresas e evitaria a especulação imobiliária. O secretário de Desenvolvimento Econômico, do Trabalho e Emprego em exercício, João Uez, reforça que a cidade conta com um projeto nesses moldes:

— Com o Aeroporto Regional da Serra Gaúcha em Vila Oliva, que depende de recursos do governo federal, será criado naquela região um ambiente propício à instalação de uma área industrial, especialmente de empresas voltadas à logística. Porém, é preciso ter muita responsabilidade pois são áreas que dependem de desapropriação e orçamento. Se o governo federal e o Estado não fizerem a parte deles, o Município não tem como arcar com isso — adianta.

Enquanto Caxias esboça reações para potencializar a economia, confira ao lado exemplos de cidades que já aplicaram essas soluções: Maringá (diversificação da matriz econômica) e Joinville (potencialização do segmento industrial).



Indústria de Joinville empregou mais de 800 neste ano




Com população próxima de 500 mil habitantes e forte vocação industrial, Joinville é a cidade do Sul do país com características gerais mais semelhantes às de Caxias. Em 2015, assim como a cidade da Serra gaúcha, o município catarinense notou uma desaceleração no mercado de trabalho fabril.

Os impactos, porém, chegaram em menor escala por lá: conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Joinville encerrou 5,3 mil postos de trabalho na indústria nos últimos 12 meses. Em Caxias, foi praticamente o dobro no mesmo período: 10,2 mil vagas fechadas no segmento fabril.

Neste ano a disparidade é ainda maior. O setor industrial de Joinville criou 846 novas oportunidades no primeiro semestre deste ano. Em Caxias, 2,7 mil postos foram encerrados.

Além de estar em posição geográfica mais privilegiada que Caxias, a região de Joinville investiu em infraestrutura, como portos e acesso facilitado para rodovias, e planejamento nos últimos anos. Assim, conseguiu atrair empresas importantes.

Entre as companhias que desembarcaram em Joinville recentemente, destaque para a GM, que implantou fábrica na cidade em 2013, e a BMW, que chegou na região (mais especificamente em Araquari) em 2014 e movimenta boa parte da cadeia de fornecedores industriais, com contratos robustos para o mercado norte-americano. Só do modelo X1, foi fechado contrato de 10 mil veículos para os Estados Unidos.



Empresários buscarão inspiração em Maringá




Apesar do poder público ser agente indispensável na evolução de uma cidade, os empresários e a sociedade em geral também têm papel fundamental no desenvolvimento de qualquer região. É com isso em mente que o município de Maringá (PR) tem aprimorado sua economia nas últimas décadas e virado referência em gestão no Brasil.

Tudo começou em meados de 1990, quando a economia do município estava perdendo dinamismo. Com elevada dependência das exportações da atividade agroindustrial, Maringá via, na época, o desempenho geral caindo devido à redução das tarifas de importação promovida pelo Governo Collor.

O cenário foi ainda mais agravado com o Plano Real, já que a cidade contava com uma expressiva indústria têxtil e de confecções (consequentes da grande produção regional de algodão). Com a valorização da moeda brasileira, a competição com peças externas se intensificou.

Diante dessas dificuldades, lideranças locais de empresas, de entidades, políticas e de instituições de ensino iniciaram um processo de discussão para definir um novo modelo de desenvolvimento. A iniciativa ficou conhecida como Movimento Repensando Maringá e acabou se transformando no Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem).

Além de coibir os desvios de dinheiro público, a iniciativa ajuda a combater a falta de planejamento. A aplicação dos estudos é garantida graças à assinatura de um convênio com a prefeitura, que se compromete a utilizar o trabalho do órgão.

Para conhecer de perto o Codem, uma comitiva formada por representantes da CIC Caxias e de sindicatos patronais viaja nesta quinta para Maringá. A ideia é buscar inspiração na iniciativa e replicar o sucesso dessa união de forças em Caxias.



Prefeitura prevê criação de conselho colaborativo




Para debater o desenvolvimento econômico e sustentável de Caxias, está em fase de conclusão o Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico, Tecnológico e de Inovação. A informação é do secretário de Desenvolvimento Econômico, do Trabalho e Emprego em exercício, João Uez. A iniciativa prevê envolvimento de entidades de classe, instituições de ensino e a comunidade.

Outra aposta da prefeitura são investimentos para o ramo de tecnologia. Nesse sentido, o secretário lembra que, em 2014, a administração municipal declarou de utilidade pública uma área vizinha à Universidade de Caxias do Sul para que ali seja implementado um parque tecnológico com objetivo de desenvolver o segmento em parceria com a universidade.

Uez destaca ainda que, desde janeiro de 2013, a prefeitura de Caxias investiu cerca de R$ 3 milhões em estímulo ao empreendedorismo. O montante foi destinado, entre outras iniciativas, para programas como Mundo do Trabalho, Banco de Vestuário e Projeto Pescar.







5 soluções

Lideranças de Caxias apontam estratégias para melhorar a competitividade da cidade




| Diversificar a matriz econômica, com destaque para o turismo.

| Criar um ambiente mais amigável ao empreendedorismo.

| Recobrar um Estado mais eficiente, com menos burocracia e mais investimentos em infraestrutura.

| Traçar um plano de desenvolvimento para atrair novas empresas e reter as que estão na cidade.

| Discutir formas de aprimorar e estimular a capacitação dos trabalhadores.