Saída de empresas gera efeito cascata na economia

Enfraquecimento da indústria reflete com força em todos os segmentos caxienses. Comércio e serviços são os mais afetados.


Publicao em 02 de agosto de 2016

Texto

Ana Demoliner

ana.demoliner@pioneiro.com

Imagens

Diogo Sallaberry

Jonas Ramos


Infografia

Guilherme Ferrari

Saída de empresas gera

efeito cascata na economia

A perda crescente da competitividade caxiense não é preocupação exclusiva de empregados e empresários do ramo industrial. Trabalhadores e empreendedores de outros setores, como comércio e serviços, também sofrem impactos expressivos quando uma empresa fecha as portas ou expande para outro lugar. O efeito cascata ocorre porque a economia da cidade é extremamente dependente da massa salarial gerada pela indústria. Logo, menos empregos no setor gera redução de poder de compra nos caxienses.

Os números do desempenho econômico da cidade comprovam essa reação em cadeia na economia. Nos últimos 12 meses, a massa salarial da indústria caxiense caiu 25,4%. No mesmo período, o desempenho do comércio apresenta queda semelhante: 27,1%.

— O comércio vive de salários, então essa situação de menos empregos em Caxias nos preocupa muito. Outro problema que a gente vem percebendo é que não está havendo reposição nessas empresas que saem. Ninguém está chegando na cidade — analisa Sadi Donazzolo, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas).

Em resumo, portanto, o enfraquecimento do setor industrial motiva menos vendas nas lojas, menos movimento em restaurantes e queda no nível de emprego de praticamente todos os setores. Nos últimos 12 meses, 1.139 vagas foram fechadas no comércio caxiense e 2.164 postos a menos foram registrados em serviços.

A comerciante Laura de Almeida (foto acima), proprietária de uma loja no bairro Serrano, nota ainda mais um agravante gerado por essa bola de neve: o aumento da inadimplência. Sem emprego, as famílias precisam escolher quais compromissos serão honrados e quais ficarão para outro momento.

— Muita gente já vive com o orçamento no limite, sem margem para nada. Quando alguém na família perde o emprego, não tem jeito, eles ficam sem pagar as contas — lamenta Laura.

O resultado desse cenário no negócio da comerciante é uma loja repleta de estoques cheios. Para tentar movimentar ao menos parte da mercadoria, Laura investe em promoções constantes:

— Estou vendendo muitas peças até com o valor abaixo do custo, assim ao menos mantenho um giro de caixa para comprar a próxima coleção. Mas ultimamente é assim, estou sempre com a loja cheia de estoques — relata.

Atualmente, cerca de 73 mil caxienses estão registrados no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da cidade. No mesmo período do ano passado, o número era de 69,7 mil, o que representa uma alta de mais de 3 mil inadimplentes.



Crisfel mudou para sobreviver




O impacto da saída de empresas de Caxias ocorre de forma mais intensa em algumas lojas do que em outras. Na Crisfel, por exemplo, o reflexo do fechamento da Robertshaw nas vendas foi direto.

Localizada bem próxima do ponto onde ficava a empresa, a loja era parada constante de funcionários da companhia. Antes da transferência da Robertshaw para Manaus, a Crisfel já havia sentido também a saída da unidade da Fras-le que era mantida no bairro Cristo Redentor:

— Durante anos, cerca de 50% das nossas clientes eram funcionárias de indústria da região. Ao meio-dia, que é a hora do intervalo, chegava a ter fila aqui — lembra Júlia Bertoluci, diretora do negócio.

Para se manter no mercado mesmo depois de perder boa parte do seu público, a loja precisou se reinventar. O ambiente passou por uma reforma geral e a proposta de vendas sofreu alterações:

— Percebemos que não teríamos mais esse tipo de venda "oportunista", focada apenas na praticidade e rapidez da compra. Então, adaptamos o espaço para atendimentos mais demorados, com iluminação diferenciada, nova fachada e ambiente destinado aos acompanhantes dos clientes — relata Felipe Bertoluci, gerente de marketing e planejamento da Crisfel.

A transformação do empreendimento tem dado resultado. Nos primeiros meses de casa nova, as vendas cresceram cerca de 65% em relação ao mesmo período do ano passado. Mais recentemente, os resultados têm empatado com 2015, o que também é comemorado, já que no período de comparação ainda havia a Robertshaw na região:

— Vimos que ou mudávamos nosso posicionamento, ou então seríamos engolidos — resume Felipe.



Empresas pequenas e médias perdem força




Caxias sempre foi conhecida por contar com uma cadeia industrial completa, ou seja, a cidade abrange uma grande rede de fornecedores de peças e serviços que mantém as empresas maiores (e também sobrevive graças a elas).

Formada por empreendimentos médios e principalmente pequenos, esse grupo de empresas vem perdendo força com a expansão das empresas grandes para outros Estados e também com as transferências de companhias para outros municípios.

O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), Reomar Slaviero, acredita que falta uma política pública que incentive a prospecção dos negócios menores.

— Todas as grandes empresas de Caxias nasceram aqui, não vieram de fora. Temos, então, vocação para o empreendedorismo. Mas é preciso incentivo para as pequenas, como menos burocracia e linhas de crédito específicas — analisa.