Antes da retração econômica dar qualquer sinal no Brasil, Caxias do Sul já vivenciava um problema sério: muitas empresas estavam indo embora da cidade ou então expandindo para outros lugares. Sem a atual crise, porém, o impacto desse movimento estava camuflado pelos bons índices de emprego e de crescimento do município. Para muitos, parecia que os postos de trabalho levados para outras cidades e Estados — juntamente com a arrecadação de impostos e a massa salarial — não fariam falta.
Agora o cenário é outro. Cerca de 20 mil vagas foram fechadas nos últimos cinco anos apenas no setor metalmecânico caxiense. O ramo que já englobou 55,2 mil trabalhadores no final de 2011 emprega, atualmente, apenas 35,4 mil.
— Faltou um planejamento. Caxias ficou igual o hino nacional: deitada eternamente em berço esplêndido. Ninguém das últimas administrações mudou isso, criando um novo distrito industrial, por exemplo. Caxias se achou no direito de não fazer nada — analisa Nelson Sbabo, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.
A perda de competividade é apontada como principal causa de tantas saídas e expansões de empresas para outras cidades (tanto vizinhas, como Flores da Cunha, quanto localizadas em regiões do Sudeste e Nordeste do país), nos últimos anos. Os gastos com logística, especialmente, dispararam devido à localização da cidade e à infraestrutura precária.
— O município de Caxias tem de ser muito mais competitivo que os de outros Estados porque ele tem um ponto fraco muito grande: as matérias-primas estão no centro do país e a maioria dos clientes também está no centro do país. Nós somos, portanto, a ponta. Caxias tem que ter um diferencial para atrair e manter as empresas do município. Mas não existe um plano de desenvolvimento, de competitividade econômica e estamos hoje sentindo esse reflexo — detalha Jaime Lorandi, presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás).
A falta de acolhimento público (leia-se leis menos complexas e burocráticas) é outro fator citado pelos empresários nas causas que vêm afastando companhias da cidade. Enquanto outros Estados oferecem até incentivos fiscais, sobram entraves ambientais e de infraestrutura em Caxias.
Discutir e implementar soluções para amenizar esse ambiente preocupante se desenha como tarefa urgente. Até porque, alerta Lorandi, esperar pode ser muito tarde:
— Algumas empresas estão querendo ir embora agora e não vão justamente porque estão em crise. Elas estão sem dinheiro para transferir empresas nesse momento. Pode ser que, passada a retração, se acentue o movimento de saída de empresas significativas porque elas estão procurando mais competitividade — alerta o empresário, que também transferiu há sete anos sua empresa de Caxias para Farroupilha (leia mais abaixo).