Conhecida historicamente por ser o destino de muitas famílias de outras cidades e Estados que buscam melhores oportunidades, Caxias do Sul vive hoje uma movimentação inversa. Estimuladas principalmente pelo cenário de desemprego — 14,1 mil postos foram fechados apenas nos últimos 12 meses —, muitas pessoas estão deixando o município que em outros tempos já foi sinônimo de esperança e trabalho.
Prova dessa evasão são os números registrados pelo auxílio-mudança oferecido pela prefeitura. O benefício é concedido para famílias de baixa renda que queiram voltar para a cidade de origem.
Há um ano e meio, quando o auxílio foi criado, a média mensal era de cerca de 20 solicitações, conta o secretário municipal de Habitação, Giovani Fontana. Atualmente o número chega a 70, o que representa um aumento de 250%.
— A gente vê esse auxílio como um mal necessário. Ele preserva o município e impede que essas famílias fiquem em uma condição à margem da sociedade. Em suas cidades de origem, normalmente eles contam com parentes e amigos e assim vislumbram um sustento — relata Fontana.
Neste ano, cerca de 270 famílias já solicitaram o auxílio. No segundo semestre de 2015, o número chegou a 300. Considerando que cada família tem em média quatro integrantes, pode-se dizer que mais de 2 mil pessoas deixaram Caxias apenas via auxílio-mudança em um ano.
A alta procura pelo benefício exigiu mudanças provisórias nos procedimentos de solicitação. Normalmente há uma reunião mensal por mês para elencar os pedidos que nortearão o roteiro dos caminhões que levam os pertences das famílias. Em julho, porém, o encontro teve de ser adiado:
— Não estávamos conseguindo suprir a demanda, então não marcamos nenhuma reunião para julho. Assim colocaremos todos pedidos em dia. Em agosto, vamos retomar o encontro mensal — justifica Fontana.
O presidente da Associação de Moradores do Loteamento Popular Mariani, Anivaldo Zancanaro, observa que a maioria das famílias que vem deixando Caxias estava vivendo de aluguel. Mesmo com o desemprego, portanto, quem conseguiu conquistar uma residência própria escolhe permanecer na cidade:
— Quem paga aluguel sabe que vai acabar ficando inadimplente e, por isso, pode até ser despejado. Então eles vão embora para algum lugar em que não precisam ter esse custo fixo — analisa.