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ESPECIALISTAS ANALISAM CENÁRIO Diante da dívida milionária (R$ 508 milhões) da Secretaria de Saúde de Santa Catarina e dos impactos diretos no atendimento à população, entidades e gestores ligados à área reforçam a necessidade de se discutir medidas para solucionar o problema. Ganha força principalmente o debate sobre o conceito de saúde pública e a maneira como ela funciona no Brasil. Para Walter Ferreira de Oliveira, especialista em saúde pública, é preciso uma mudança mais profunda no sistema para que as coisas melhorem. Para ele, o princípio é que a saúde não pode “esperar” as pessoas adoecerem. – Ainda se tenta resolver as coisas depois do problema instalado, consertando mal o que foi feito. É necessária uma mudança de cultura – defende. Entre os especialistas, é praticamente consenso que a insuficiência do modelo e dos valores que financiam o sistema público anda lado a lado com falta de planejamento e com problemas de gestão que, mesmo em uma área de despesas imprevisíveis, como a saúde, poderiam e deveriam coordenar melhor a destinação dos recursos. Confira o que algumas lideranças do Estado na área propõem para mudança.
A situação da saúde não é assim de agora. Vem de muitos anos de falta de orçamento suficiente e uma gestão do governo do Estado que não resolve os problemas. Falta muito planejamento, integração dos municípios e Estado e com o orçamento ainda menor na crise, os problemas explodem. Vivemos um caos. A solução para isso é primeiro o governo assumir a saúde como dever dele. Passaram pelo menos dois secretários que não tiveram projeto nenhum para a saúde. A segunda coisa é melhorar o orçamento. E em terceiro que a gestão seja focada para resolver os problemas. Hoje só se pensa em cortar custos. Não se visualiza melhorar serviços, zerar fila, uma gestão comprometida. Simone Bihain Hagemann, presidente do SindSaúde/SC
Para mim o problema é gestão. Quando o gestor faz planejamento ele tem que pensar em como financiar esse trabalho da saúde. Precisa haver um meio para falar para a população, que vai prestar esse determinado serviço, mas precisa de tanto dinheiro. E o governo que diz que a saúde é uma das prioridades, tem que subsidiar. Lógico que a gente entende que com a crise há diminuição na arrecadação. Mas com isso, tem que priorizar ainda mais saúde e educação. Gestão é isso também. Helga Bresciani, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina
Acredito que só com mais recurso mesmo para resolver o problema. Aqui no Estado já teve alteração aumentando o índice do orçamento de 12% para 13%, 14% e 15% (a partir de 2019), mas esse orçamento ainda não dará conta. Só com mais recursos. Pode acertar algumas questões de gestão, claro que também ajuda, mas entendo que todos os entes responsáveis pela saúde precisam investir mais. Neodi Saretta, deputado (PT) e presidente da Comissão de Saúde da Alesc
Financiamento e gestão são os mais sérios dos problemas da saúde, mas não é só uma coisa ou outra. Houve uma grande proposta de enfoque na saúde em nível internacional, há uns 30 anos, que gerou a ideia do nosso SUS. Só que a proposta foi muito mal gerida no Brasil. Ainda se tenta resolver as coisas depois do problema instalado, consertando mal o que foi feito. A superpopulação do mundo não permite mais que se espere as pessoas adoecerem para dar jeito. Só hospital, ambulância, solução rápida é ilusório. É preciso uma mudança de cultura. Por exemplo, não ter o hospital como centro do atendimento em saúde, o grande centro tem que ser a atenção primária. Tratar a pessoa no seu local, na sua casa de preferência, para que não precise ir ao hospital. Walter Ferreira de Oliveira, especialista em Saúde Pública
Temos um SUS que é universal, igualitário e extremamente bem redigido, bem pensado. Mas nenhum outro país no mundo consegue entregar um sistema abrangente como o SUS se propõe a ser com esse grau de investimento que o Brasil desde 1988 vem fazendo em saúde. Quando o governo na sua Constituição promete um sistema tão abrangente como o Brasil promete, precisa ter um investimento condizente com essa expectativa. Criou a expectativa, mas não deu as condições para que se concretizasse. Você vê uma tabela desvalorizada, o sistema é descentralizado, mas a manutenção do sistema hoje basicamente é toda federal. Necessita melhoria na gestão também, analisar desempenho de profissionais, ver por qual motivo a saúde não chega na ponta. Rafael Klee de Vasconcellos, presidente da Associação Catarinense de Medicina
Quem gerencia hoje o recurso do Fundo Estadual da Saúde é a Secretaria da Fazenda, e deveria ser pela própria Saúde. O posicionamento do conselho é que o recurso da saúde tem que ser gerido e realmente colocado nesse fundo. Se existe um plano estadual de saúde, conferências, plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias, tudo específico da saúde, automaticamente esse recurso não deve ficar sob a gerência da Fazenda. A lei diz isso. Cleia Aparecida Giosole, presidente do Conselho Estadual de Saúde de SC
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