10% da soja brasileira ganham o mundo a partir da Babitonga

Quando assumiu a Prefeitura de Joinville em janeiro de 2013, Udo Döhler sabia que teria grandes desafios pela frente.

Passados dois anos e meio de mandato, ele recebeu a reportagem do jornal "A Notícia" nesta terça-feira (14) para fazer um balanço da sua gestão. Durante duas horas de entrevista aos colunistas Jefferson Saavedra e Cláudio Loetz e ao editor-chefe Domingos Aquino, Udo comentou suas principais decisões, suas angústias, seus acertos e o que planeja para o restante do mandato.

Ele disse estar satisfeito com os resultados obtidos pelo seu governo até agora e mostrou-se preocupado com dois temas específicos: a administração do Hospital Municipal São José, que para ele deveria ser feita pelo Estado; e a aprovação do Lei de Ordenamento Territorial (LOT), que vai estipular novas regras para a cidade e ainda tramita na Câmara de Vereadores.

Mas Udo também mostrou-se descontraído e até brincou com os jornalistas quando indagado sobre as próximas eleições, lembrando que em 2012 ninguém acreditava na sua eleição e, na reta final, ele venceu o pleito com boa margem de votos. Udo também ratificou que o seu único compromisso é com a população de Joinville.

— Se me perguntarem hoje qual é o meu partido, direi que é Joinville.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo prefeito Udo Döhler.

Em busca de uma solução para o São José

Grande desafio da gestão de Udo Döhler, a administração da saúde municipal é uma sombra que o prefeito não faz questão de esconder.

Udo explicou que no começo de sua gestão, cerca de 30% do orçamento eram destinados às folhas de pagamento dos servidores da saúde. A ideia era reduzir este número para 27%, já que a média do stado é de 22%.

No entanto, a configuração da saúde em Joinville forçou a prefeitura a aumentar este número para 37%.

Durante a entrevista, Udo enfatizou que tal como existem problemas com o Hospital Municipal São José, existem também soluções. Segundo ele, o grande problema é que a unidade atende exames de alta complexidade, mas o problema é que se o Hospital São José fechar as portas hoje, isso não representaria apenas um caos para Joinville, mas um caos para toda a região Norte de Santa Catarina.

— São Francisco, Itajaí, Garuva, Guaramirim, Barra Velha, Itapoá, todos são atendidos aqui no São José, e é por isso que a conta não fecha. Já discuti o problema com o governador Colombo e com o Ministro da Saúde, mas então esbarramos no problema que é o atraso no repasse de verbas do governo federal, mesma dificuldade pela qual passa o governo estadual — disse.

O prefeito disse ainda que atender pessoas de outros municípios pode até ser viável — o hospital estaria sendo ampliado justamente para suportar esta demanda —, mas que deveria então existir uma contrapartida do governo estadual. A estadualização da folha de pagamentos também seria uma opção, também debatida com o governador Colombo, mas que ainda não houve um consenso.

— Nada fora do normal que haja atraso no repasse de verbas estatuais
e federais, mas o que o município pode fazer numa situação dessas?
Ou ele fecha um posto de saúde ou ele fecha uma escola,
não tem saída — disse .

E, após 30 meses, a saúde melhorou? Na avaliação do prefeito, as pessoas continuam reclamando, cobram a falta de remédios e a falta de sensibilidade nas unidades de saúde, porque algumas pessoas não conseguem ver nossos avanços na área.

— Aumentamos em um terço os leitos do Hospital São José, estamos quase terminando o setor de oncologia, entregamos três unidades básicas de saúde novas e reformamos cinco, além das dez que estão em construção. Com isso, a demanda e a pressão do servidor vão fazer este número
chegar a 40% do orçamento. Quase o triplo do que é de direito.

Joinville precisa de planejamento

De acordo com Udo, há muitas pessoas e entidades em Joinville que pensam nos problemas da cidade com base no Centro. Para ele, o problema não está no Centro, mas nas periferias. É lá que o governo precisa atuar mais fortemente.

— Existem duas Joinvilles diferentes: a central e a periférica. É evidente que a população mais carente está lá, onde a demanda por necessidades básicas como educação, saneamento, infraestrutura e saúde são gritantes. Isso só reforça a importância das subprefeituras. Elas não estão lá apenas para ajudar a população a chegar perto do poder público, mas também para ajudar a Prefeitura a ver e a entender as demandas da população.

Udo defende que os grandes investimentos em drenagem, por exemplo, têm a maior parte do seu foco em melhorar os problemas destas regiões. Para ele, a grande verdade é que o planejamento será a chave do futuro de Joinville.

— Sabemos que podemos ter problemas hídricos e elétricos nos próximos 30 anos, pois a expectativa é de que a população da nossa cidade dobre neste período. Por isso, a missão é pensar para frente. Quem vai ficar com os louros de ter completado ou finalizado as obras é indiferente, mas alguém precisa começar, alguém precisa prospectar e se preparar. O cenário mundial aponta que a previsão não é das melhores para o futuro e, neste contexto, quem estiver preparado, tiver uma gestão eficiente e um plano diretor funcional vai conseguir se manter à frente — defende.

LOT é missão da base governista

A relação da Prefeitura com a base governista na Câmara de Vereadores continua inabalada. Ao menos é o que garante o prefeito, que afirma manter o diálogo constante com o Legislativo. De acordo com Udo, o grande tema das conversas tem sido o maior projeto da administração municipal para 2015: a aprovação da Lei de Ordenamento Territorial (LOT) no Legislativo.

— Este é um projeto grande, importante e complexo de todos os pontos de vista, mas não bastasse isso, nós ainda temos um problema no horizonte que é o ano de 2016. É ano eleitoral, portanto, se a LOT não for aprovada ainda em 2015, também não será em 2016, pois entram novos grupos de pressão, novas forças na política regional, muito interesse e especulação e com isso a lei vai se prolongando.

Udo explica que quando assumiu o governo, a administração recomeçou a LOT da estaca zero, fazendo todas as audiências públicas e alinhando o projeto com a comunidade. Ele explica que o texto final é resultado de um esforço em conjunto da Câmara de Vereadores, Prefeitura e Ippuj.

— Temos que fazer um esforço nesse sentido, por isso insisto no diálogo com a base governista e, a partir desta desta conversa, entendemos que a terceira reforma administrativa não sairá da Prefeitura neste ano. É importante enviarmos mais esta demanda para o Legislativo quando ele já tem em mãos um projeto tão complexo quanto a LOT.

Ele adianta que, naturalmente, o Executivo terá outras demandas mais leves, como a implantação do IPTU progressivo, a volta do estacionamento rotativo e a outorga onerosa, para submeter à Câmara, mas nada tão pesado quanto a LOT.

Altura dos prédios
é discutida na LOT

Diferenças entre o Udo empreendedor e o Udo prefeito

Indagado sobre as diferenças que ele percebe entre o empresário, dono de uma das maiores têxteis da região, e o administrador público e prefeito da cidade mais populosa do Estado, Udo afirmou estar satisfeito. Segundo ele, desde o começo da sua gestão, escuta as pessoas perguntarem sobre as grandes diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, e, na visão dele, não existem diferenças.

— Uma empresa, quando não é bem gerida, bem administrada, ela fecha, quebra. Você não pode fazer isso com uma cidade. No momento atual, se você pegar e ver o balanço das grandes empresas do País, elas estão todas quebradas, sinal de que há problemas de gestão em todos os lados. Existem algumas singularidades na administração pública, é claro. Há a instabilidade do quadro funcional, mas a busca pela produtividade existe sempre, mesmo sendo uma tarefa difícil — explica.

Tal como defendeu desde o começo de sua gestão, Udo ainda acredita que existe muita burocracia desnecessária. Ele acredita que são tempos burocráticos que muitas vezes podem ser otimizados, e utiliza o exemplo da Secretaria do Meio Ambiente (Sema).

— Tínhamos um prazo de 150 dias para a emissão de licenças. Hoje, conseguimos reduzir este número para 30 dias. Precisamos passar por esta experiência para ver que o sistema de fundações não funciona. Para extinguir a Fundema e criar a Sema, nós centralizamos todos os processos no mesmo prédio para simplificar, para poupar recurso. O mesmo sistema que nos ajudou lá em cima a criar uma economia e uma sensação de segurança nas licitações e no setor de infraestrutura, vai migrar no tempo certo para a Sema e simplificar tudo por lá também — garante Udo.

Cenário eleitoral para 2016

Acreditando que o cenário do ano que vem será composto por quatro ou cinco candidatos para a eleição municipal, Udo entende que partidos como o PT, PSD e PSol devem apresentar candidaturas próprias, enquanto o PSDB pode tanto lançar um candidato quando criar uma aliança, mas que ainda é cedo para saber.

— Por enquanto, avançamos muito pouco na reforma política do Brasil. Não conseguimos nada relacionado ao voto distrital, então a corrida está muito pessoalizada. Hoje, o eleitor está cansado dos mesmos nomes, dos mensalistas, dos grandes esquemas de investigação. Temos um cenário bem diferente daquele que enfrentamos em 2012 — diz.

Sobre o PMDB, o prefeito entende que existe um apelo grande do partido para a sua reeleição, e que também planeja e projeta a Joinville do futuro. Por isso, a ideia é não abrir mão deste trabalho ainda.

— Nosso partido está unido. Dialogamos bem e acho que nas eleições de 2016, o que vai pesar de verdade são as pessoas por trás dos partidos, os candidatos. Da última vez, tivemos a mão forte de LHS ajudando na condução da corrida eleitoral aqui em Joinville e, sem dúvidas, isso vai fazer falta. Mas o partido é forte e acho que temos plenas condições de chegar lá mais uma vez. Acho que será uma eleição de baixo investimento, não se gastará tanto quanto em 2012, justamente porque o cenário é outro. O eleitor está vendo como está a situação, economicamente falando. As pessoas querem que as coisas mudem, então, realmente as coisas estão bem imprevisíveis — completou.

Diálogo com as entidades

Ex-presidente da Associação Comercial Industrial de Joinville (Acij), Udo Döhler explica que históricamente, a Acij saiu do seu território e começou a pensar na cidade, sempre comprando brigas institucionais, como a dos bombeiros voluntários, a da baía da Babitonga e a dos parques da cidade de Joinville.

— É claro que existem algumas divergências, como a reivindicação deles por um novo hospital em Joinville, por exemplo. A defesa da entidade é que investir na reforma de um hospital é gastar muito dinheiro para pouco retorno. Mas construir um novo hospital envolve uma nova gestão, uma nova equipe, é muito mais caro. É só compararmos o que aconteceu com o Hospital Infantil. Em dez anos, fizemos a ordem de serviço e conseguimos mudar a realidade daquela instituição. No caso do São José, estamos em vias de concluir o plano diretor da unidade, então não é um gasto inútil investir nele. Mas o diálogo existe e é saudável. É só uma questão de alinharmos todos os interesses envolvidos — diz Udo.

Investimentos na infraestrutura

Para o prefeito, o grande avanço de sua gestão em Joinville está na área da infraestrutura. Udo destacou a complementação das obras na rua Tuiuti, o binário do Vila Nova — que entra na segunda fase ainda em 2015 —, as obras na rua Minas Gerais e as resoluções nos entraves da duplicação da avenida Santos Dumont. Ele explica que nas obras previstas para o futuro imediato de Joinville, já há projetos prontos, embora existam alguns "elefantes brancos" pelo caminho.

— O projeto da Dona Francisca, por exemplo, é um caso onde o traçado original da reforma foi malfeito. O viaduto que estava previsto para aquela região não contemplava a rua Arno Döhler, então o projeto teve de ser renovado. O Ippuj trabalhou nisso, já enviou para o Estado e ele voltou de lá com dez readequações de nossa responsabilidade. Quanto isso estiver pronto, aí sim poderemos dar um encaminhamento.

Udo defende ainda que o avanço no sistema viário é sem precedentes, só que existe dificuldade para se enxergar estes projetos.

— A última obra pesada no sistema viário foi a Marquês de Olinda, do então prefeito Wittich Freitag. Depois disso, nossa gestão foi a única a tirar do papel obras realmente pesadas. Ainda temos três pontes nos nossos planos, todas as obras em corredores de ônibus e um terminal na rotatória da Univille, tudo fruto de um pacote de 105 milhões do PAC, um investimento gigantesco.

Para o prefeito, a  duplicação da Santos Dumont sempre foi um projeto ambicioso, e ele destaca que agora ela está em obras, fruto de uma readequação que precisava ser feita.

— Evidentemente, esbarramos com o problema das desapropriações, o fantasma desta obra desde que ela entrou no Plano Diretor da cidade, mas já encontramos soluções, como o binário com a rua Tenente Antônio João. Não fossem as adequações que fizemos no projeto original, o valor das desapropriações seria superior ao valor da obra em si. Hoje, posso dizer que a Santos Dumont está resolvida.

Ponte no Adhemar Garcia

Na avaliação do prefeito, a ponte do bairro Adhemar Garcia foi motivo de grande frustração para todos os envolvidos.

— Nós idealizamos um projeto bom, completo e que atendia a uma parcela da população que de fato precisava desta obra. Até mesmo as verbas foram asseguradas pelo governo federal, mas o País chegou a um momento econômico onde, infelizmente, este dinheiro só existe no plano hipotético. O governo não tem a verba necessária para uma obra deste porte, e embora tudo tenha sido garantido lá no começo, tivemos de aceitar o fato de que não poderíamos mais contar com Brasília para fazer o projeto sair do papel.

Contudo, Udo destaca que uma grande surpresa deve recolocar o projeto nos trilhos.

— O Fundo Financeiro da Bacia da Prata (Fonplata) apareceu como um novo financiador para a ponte do Adhemar Garcia. Eles atuaram como um agente que olhou para a cidade de Joinville e acreditou no potencial da região, disponibilizando uma verba de U$ 40 milhões para a construção da ponte, um dinheiro que não existe agora no governo federal para ser liberado, mas que veio de bom grado do Fonplata.

Drenagem de rios

Joinville tem um plano gigantesco de macrodrenagem para os próximos anos. O prefeito explica que após a oficialização do repasse milionário do Ministério das Cidades para as obras da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) do Jarivatuba, o ministro Gilberto Kassab (PSD) firmou um acordo com a Prefeitura para viabilizar o recebimento de R$ 2,3 bilhões para a macrodrenagem dos rios de Joinville, com intuíto de ajudar a resolver os problemas crônicos das enchentes na cidade.

— Foi uma surpresa. Lembramos ao ministro Kassab que este foi um compromisso firmado em sua visita a Joinville em fevereiro deste ano, e ele se prontificou a montar uma equipe de trabalho para estudar a viabilidade na liberação dos recursos. O ministro revelou ainda que Joinville será a cidade piloto para este grupo que estudará o plano de drenagem. Ou seja, é um voto de confiança do ministro para a criação de um plano diretor de drenagem para nossa cidade. A gente sabe que Joinville tem um problema histórico com cheias, enchentes e devastação por causa das marés aqui na região, então é a busca de uma solução para uma demanda que é sim emergencial.

Investimentos na educação

Ainda na área de infraestrutura, o prefeito alega que das mais de 160 escolas, o Executivo teve de reformar 89 delas nestes em dois anos e meio, com obras que ficaram entre R$ 400 mil e R$ 1 milhão.

— Tínhamos ginásios abandonados, escolas com as estruturas comprometidas. Imagine a tragédia que seria se o telhado de uma destas escolas desabasse em cima de seus alunos? Além do problema da climatização, que sabemos o quão grave se torna no verão. Bom, em um ano, climatizamos todas as nossas escolas, algumas dependendo apenas da instalação e da parte elétrica. Todos os professores receberam seus notebook, os tablets foram entregues à todos os alunos do 6º ao 9º ano. É um sinal de que estamos acertando o passo, fruto de uma atenção redobrada com a educação — acredita Udo.

Modelo de gestão

Para o prefeito Udo Döhler, o grande legado do seu governo é o avanço no modelo de gestão, embora ele entenda que não tenha sido demonstrado adequadamente para a população devido a sua complexidade.

—Tenho convicção de que, não fossem os nossos avanços, Joinville estaria com problemas sérios. Não gosto de pensar no passado, estou à frente da Prefeitura e me forço à olhar para frente, mas não posso ignorar o fato de que chegamos aqui e nos deparamos com uma Prefeitura encolhida e envelhecida. Mais do que a modernização, houve um aumento significativo na segurança dos nossos processos. Com esse sistema, as chances de se perder ou de se adulterar um documento são mínimas — justifica o prefeito Udo Döhler.

Udo se refere à modernização no sistema de controle, estratégia da administração para permitir, por exemplo, acompanhar com mais cuidado os processos licitatórios de Joinville. Ele explica que a primeira medida foi centralizar as licitações, que estavam espalhadas, e tornar todo o processo mais seguro e confiável.

— O resultado imediato foi uma redução de custos de aproximadamente 40% nos valores, quase metade do preço. Também conseguimos avançar, e muito na quitação das nossas dívidas. Parcelamos quase todo o passivo da Prefeitura, que era enorme, com juros e correções monetárias. Hoje, temos uma situação em que o fornecedor do município está absolutamente satisfeito — disse.

O prefeito entende que, apesar de trabalhoso, o processo sinalizou um novo padrão de qualidade para Joinville.

— Foi isso que nos permitiu aumentar em 80% a oferta de vagas em creches e CEIs. Uma coisa é consequência da outra. Se eu aumento o número de vagas, preciso aumentar o número de professores, gestores, cozinheiros, assistentes sociais e assim por diante. Isso criou um descompasso. Por isso, sempre digo que a nossa demanda aumentou e a nossa receita diminuiu.

A macroeconomia e o desenvolvimento

Para o prefeito Udo Döhler, nas cidades de porte médio do Brasil, a prioridade é cuidar das folhas de pagamento. Ele acredita que se o País não conseguir voltar logo para os trilhos, todo o dinheiro das cidades será gasto em compromissos tributários.

— O desaquecimento da economia no País é de cerca de 15%, num balanço entre a indústria, o comércio e os serviços. Com isso, temos uma quebra considerável de arrecadação pública. Joinville ainda vai passar por uma outra situação, pois o desaquecimento está mais forte no setor automotivo e, com isso, o setor de autopeças, que é forte aqui na cidade, estará perdendo mais do que os 15% previstos — explicou.

Em Brasília, o Ministro Levy propôs um reajuste fiscal, uma manobra que assusta algumas indústrias tradicionais, que atuam na construção civil, no setor moveleiro, no setor têxtil e que são os grandes empregadores do País. O prefeito disse que em uma conversa com o ministro Levy, ele afirmou que estes setores não alteraram em nada a economia do Brasil, o que é um grande equívoco, na análise de Udo.

— Nenhum setor demitiu tanto quanto este e, daqui para frente, os números vão aumentar e o País evidentemente não está preparado para esta demanda. Até agora, tivemos um avanço muito discreto do ajuste fiscal no Brasil e isso precisa ser cobrado diariamente. É daí que vem o dinheiro, é a chave do cofre. A inflação fechou em 6,3% no primeiro semestre deste ano. Se no segundo semestre esse crescimento se manter, fecharemos o ano com mais de 12%, um índice muito acima do previsto, que era de 9%. Para tudo ficar dentro do planejado pelo governo federal, a inflação teria de aumentar no segundo semestre o mesmo que aumentou no segundo trimestre, e nós já sabemos que isso não vai acontecer — diz.

Capacidade de endividamento

— A Prefeitura de Jonville tem, sim, capacidade de endividamento. Do contrário, não teríamos conseguido as verbas para a drenagem de rios, as reformas e as obras que conseguimos. O que a Prefeitura não tem é capacidade para gerar recursos próprios. Eu posso financiar uma ponte, uma escola, obras de mobilidade, mas não posso financiar folhas de pagamento. Nosso saldo para as desapropriações da avenida Santos Dumont, por exemplo, é de R$ 45 milhões. O gasto com a folha de pagamento é de R$ 60 milhões. É só fazer as contas. Todas as desapropriações da avenida não dão uma folha de pagamento do município. É um gasto do qual não conseguimos escapar.

Os trâmites burocráticos

Para Udo, outra necessidade urgente é eliminar o que ele chama de "burocracias odiosas". O prefeito avalia está conseguindo mudar isso, mesmo que de forma lenta, e vê avanços nesse quesito em sua gestão.

— Temos o melhor IDEB do Estado e o sexto melhor do País na educação. Na saúde, acontece a mesma coisa, temos um quadro competente. Nosso problema é que em algumas áreas da administração municipal foram adquiridos certos vícios ao longo dos últimos anos e estes vícios precisam ser quebrados — explica.

Segundo o prefeito, existem desvios de conduta e casos de corrupção no município, mas a dificuldade é que não se pode enxergar apenas o corruptor ou o corrupto. É preciso analisar a situação de uma forma diferente.

— Nada adianta se as denúncias não chegam. Há casos onde uma delação premiada poderia resolver as coisas, mas as pessoas não falam, não protocolam e nos deixam de mãos atadas. Precisamos avançar neste sentido, quebrando isso aos poucos, e estamos fazendo. Até mesmo na área da saúde. Em um movimento só, tiramos quatro gestores que não foram capazes de se adaptar. É por isso que tivemos avanços importantíssimos, mas isso a população não vê. A população só vê a fila. Não se acabam com as filas. Se gerenciam as filas — defende o gestor.

Para ele, não há diferenças entre os setores público e privado. O problema é que, na sua opinião, o setor público estaria "apodrecido".

— Quando a Prefeitura começou as suas atividades, tudo ficava aqui dentro. Depois, criamos as fundações. Foi quando começaram as discussões sobre quem gerenciava o quê. Agora, a briga é pela permanência desse sistema, que já se provou ineficiente. Quando criamos as subprefeituras, por exemplo, sofremos  uma dura enxurrada de críticas, onde as pessoas alegavam que não funcionaria. É claro que levou um ano para este projeto começar a caminhar sozinho, mas agora é lá que as pessoas estão sendo atendidas — defende.

Nas obras previstas para o futuro de Joinville, já temos diversos projetos prontos, embora existam alguns “elefantes brancos” pelo caminho.

ANÁLISE DOS COLUNISTAS De AN

Claudio Loetz,

colunista de Economia

Obras, projetos e desejos do prefeito Udo

Uma abordagem múltipla sobre temas variados da cena administrativa, econômica e política de Joinville marcou a entrevista do prefeito Udo Döhler ao “AN” (leia nas páginas 4 e 5). Sereno na argumentação, admite dificuldades em setores importantes, como saúde e produtividade do servidor municipal. No campo da saúde, diverge frontalmente da Associação Empresarial de Joinville. A Acij insiste na construção de um novo hospital. Udo pede que o governador Raimundo Colombo ajude a melhorar as condições dos atuais.

Sem recursos do orçamento (ainda “uma peça de ficção”, concorda), Udo corre atrás de dinheiro de ministérios, em Brasília, e do banco andino Fonplata para deslanchar obras de maior envergadura na complexa área da infraestrutura. Na entrevista, listou o que anda fazendo e projetos mirando anos adiante.

O prefeito se diz satisfeito com a agilidade na tramitação dos processos junto à Secretaria de Infraestrutura, ao mesmo tempo em que reconhece que a velocidade com que as licenças de empreendimentos andam na Secretaria do Meio Ambiente ainda é gargalo a ser superado. Udo quer a construção de um parque tecnológico próximo ao local onde será erguido o campus da UFSC, às margens da BR-101. Ambos são coisas para muitos anos adiante, certamente. O parque só será viável se houver aporte de investidores privados.

A menos de um ano e meio do fim do mandato,  o prefeito encara, ainda, problemas do cotidiano, como buracos nas ruas e queixas nas filas por parte dos contribuintes-cidadãos. Depois de ter retomado o crédito junto a fornecedores,  repete o que tem dito desde o começo da sua gestão: falta dinheiro para as cidades médias brasileiras – Joinville aí incluída. E a crise econômica elevou as dificuldades.

A percepção de que há penúria nas finanças não o impede de querer o segundo mandato. A lógica passa por convencer o eleitorado de que a melhoria da eficiência na administração reverte-se em ganhos efetivos para a qualidade de vida da população. Udo sabe disso. Sabe, também, de que eventual vitória nas urnas, em outubro de 2016, o levaria à condição de líder político mais importante da região Norte de Santa Catarina, região geoeconômica que concentra mais de um terço da riqueza estadual e reúne mais de 800 mil eleitores.

Antes de sonhar com essa possibilidade, tem de mostrar que a Joinville dos bairros distantes está melhor do que antes. A expansão do município dividiu Joinville.

Temos a Joinville do Centro e dos bairros adjacentes – onde a discussão se dá em torno das regras definidas no projeto da Lei de Ordenamento Territorial (LOT), do trânsito difícil e de estacionamento rotativo. Temos também a Joinville da periferia. Lá, buracos, esgoto, trânsito caótico e falta de medicamentos em postos assombram a vida das pessoas.

Governar para a maioria e sanar as encrencas cotidianas é um compromisso do político. Conseguir equacionar os problemas e encontrar soluções para eles, ao mesmo tempo em que pensa para a próxima geração, é o que se espera do gestor público.

jefferson saavedra,

colunista de Política

2016 na leitura de Udo Döhler

Pré-candidato à reeleição, Udo Döhler não acredita em bloco de oposição contra a candidatura dele em 2016. "Não dá certo, já foi feito em outras eleições", resume o prefeito de Joinville, em provável lembrança do segundo turno de 2012, quando parte dos candidatos que ficaram fora da disputa se juntou ao adversário do peemedebista. Udo acredita que, além do nome do PMDB, serão mais "quatro ou cinco candidatos".

Para o prefeito, PT, PSOL e PSD terão candidato próprio. Ainda na avaliação dele, o PSDB também deverá ter um nome na cabeça de chapa, mas há possibilidade de aliança. Em mais uma entrevista em que considera Joinville como seu partido _ frase muito usada por Wittich Freitag, duas vezes prefeito _ Udo diz que o relacionamento com o PMDB é bom e admite que Luiz Henrique da Silveira faz falta, embora confie na tese de que os eleitores estarão mais preocupados em observar os candidatos do que exatamente suas ligações políticas.

Na conversa com "AN", Udo disse ter bom relacionamento com a base aliada, contou que hoje tem encontro com a bancada do PMDB, mas não disse os motivos pelos quais não teve mais encontros reunindo todos os aliados, como costumava fazer antes de ser derrotado na eleição para a presidência da Câmara.

Também negou _ no entendimento dele _ que a nomeação de Francieli Schultz, irmã da promotora Simone Schultz, possa criar constrangimento com o Ministério Público. "Isso é especulação lateral", diz. Francieli foi escolhida, segundo o prefeito, pela capacidade técnica e familiaridade com serviços da Secretaria de Saúde, como a contratação de instituto. O prefeito foi pródigo em elogios à ex-secretária Larissa Nascimento e reafirmou que ela saiu porque quis, por problemas pessoais.

Edição

JEAN BALBINOTTI

Textos e produção

ÁTILA Froehlich

Design e desenvolvimento

CRIS MACARI

Fotografia

SALMO DUARTE E

BANCO DE DADOS

Hospital São José

Binário do Vila Nova

Drenagem do Rio Mathias

Avenida Santos Dumont

Vitória eleitoral em 2012

Rua Dona Francisca

O problema não está no Centro, está nas periferias. É lá que o governo precisa atuar mais fortemente e é lá que a nossa força precisa estar concentrada.

créditos