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A Onda Dura surgiu como um movimento dentro da Comunidade Cristã Siloé, uma igreja bastante respeitada entre os evangélicos pentecostais de Joinville. A Siloé é para a Onda o que o pastor Evaldo Duque Estrada, fundador e líder espiritual da Siloé, é para seu filho, o também pastor Filipe Falcão Palhares Duque Estrada, o Lipão. O pai é conhecido entre os pastores da cidade por seus posicionamentos firmes, mas sempre manifestados com voz calma e, principalmente, com muita criatividade. É comum entre os fiéis vê-lo subir ao púlpito ou ao palco com uma série de elementos que tornam a pregação quase uma aula ou uma peça de teatro. Em vez de terno e gravata, como a maioria dos pastores, usa camisa florida. Em uma série de pregações chamada "Em obras", para falar de um tema que envolvia a reforma da alma, vestiu um colete amarelo e um capacete de segurança como se fosse um pedreiro trabalhando em uma obra de alvenaria.

 

Internamente, na Comunidade Siloé, a atuação da Onda Dura é tratada como Y, uma alusão à geração Y. Quando o trabalho começou, entre 2007 e 2008, a Onda preconizava a atuação junto aos jovens com idade entre 14 e 24, no máximo 25 anos. Como a própria geração Y cresceu, hoje há integrantes de 40 anos, mas são minoria. A faixa etária predominante dos mais de 2,5 mil jovens que lotam todos os sábados a igreja continua perto dos 20 anos.

QUEM É O PASTOR LIPÃO

O principal líder da igreja, Filipe Falcão Palhares Duque Estrada, o pastor Lipão, tem 26 anos e é paulista. Passou parte da infância no interior do Paraná, mas teve toda a formação espiritual e m Joinville. Mesmo sendo filho de pastores, só se converteu aos 16 anos. Não foi um aluno exemplar e era conhecido por problemas de comportamento.

 

O apaixonado por surf é técnico em automobilística e até planejou carreira em Curitiba ou São Paulo. Hoje, se dedica à igreja, à mulher Larissa e aos filhos Joshua e Zion. Desde que se converteu, passou a estudar a Bíblia. É bacharel em Teologia e cursa sociologia.

Desde o ano passado, enfrenta o primeiro processo. Uma denúncia na Polícia Civil se transformou em termo circunstanciado e hoje tramita no juizado Especial Criminal do Fórum em Joinville. Lipão é acusado de apologia ao crime ou ao ato criminoso envolvendo a relação sexual entre jovens menores de idade. Na decisão, o juiz considerou que a denúncia citava trechos isolados da pregação feita por Lipão, o que não caracterizaria apologia e que o objetivo do pastor é "somente a formação do caráter dos jovens, de acordo com a sua crença".

 

- Entendo que esse processo faz parte da minha missão, da minha cruz. Tenho de enfrentar e mostrar que prego exatamente o contrário, os valores da família, do casamento, do que diz a Bíblia.

HISTÓRIA
O QUE É O ONDA DURA, OU A ONDA, COMO É CHAMADO O MOVIMENTO POR PASTORES E FIÉIS

O Onda Dura ou a Onda, criado como um movimento cristão de jovens em 2007, rompeu barreiras e ganhou o status de nova igreja, um fenômeno que reúne quase três mil adolescentes e adultos todos os sábados na zona Sul de Joinville e está crescendo exponencialmente. Em menos de dez anos, arrebanhou seguidores fervorosos em todo o litoral de Santa Catarina e cidades do Paraná, inclusive em Curitiba. A linguagem é direta, "papo reto" mesmo, sem meias palavras. Pastores e líderes falam diretamente aos adolescentes, na linguagem dos adolescentes, especialmente aqueles que estão conectados à internet em tempo real, 24 horas por dia, e se comunicam com o mundo por redes sociais.

 

O templo principal é um prédio onde funcionava uma transportadora entre as ruas Anita Garibaldi, Max Heiden e Henrique Dias, no bairro Anita Garibaldi. As paredes externas são multicoloridas, o estacionamento é amplo e tudo lembra uma uma casa noturna.

A imagem fica ainda mais similar do lado de dentro. O sistema de som e luz dá o clima de balada, de diversão noturna, que muitos donos de boate adorariam ter acesso.

 

As paredes são pintadas de preto ou de cores vibrantes e há símbolos cristãos por todos os lados. Nada de bancos de madeira enfileirados ou pastores de terno e gravata. Tudo é móvel _cadeiras, cortinas, luzes _ e permite atividades que vão de palestras comportamentais a apresentações de dança, teatro, arte circense e shows de rock, rap ou reggae. Aliás, a Onda Dura é tudo isso mesmo. Bailarinos não vão para a igreja apenas para rezar, vão para dançar também. Roqueiros não vão apenas para cantar os hinos, mas também para curtir solos de bateria e de guitarra. Todos os detalhes da pintura e da decoração, todos os gestos e todos os discursos dos pastores e dos voluntários da Onda lembram o tempo todo: Deus em primeiro lugar, mas com leveza.

Não é um amuleto, não é para matar vampiros, não é para expulsar demônios, não é para impressionar a Deus. A intenção da cruz é conscientizar quem está disposto a seguir a Cristo de que é preciso carregar uma cruz que não é material, mas uma cruz de consciência. FILIPE FALCÃO, o pastor Lipão
A DOUTRINA DA ONDA, SEGUNDO O PASTOR FILIPE FALCÃO PALHARES DUQUE ESTRADA, O LIPÃO CLIQUE E CONFIRA OS VÍDEOS: A CRUZ

Durante 21 dias, milhares de jovens joinvilenses estão colocando à prova sua fé, carregando uma cruz de madeira com meio metro de comprimento junto ao corpo. No trabalho, no ônibus, na escola e até para dormir, eles não desgrudam do objeto, símbolo cristão que para eles representa "a morte da própria vontade para viver a vontade de Jesus Cristo". Eles fazem parte da Onda Dura, um movimento da Comunidade Siloé, que está ganhando cada vez mais autonomia e status de nova igreja evangélica, voltada ao público jovem.

 

A campanha coincide com o período que antecede a Páscoa, a quaresma, e também

tem um sentido de penitência, segundo o pastor Filipe Falcão Palhares Duque Estrada, o pastor Lipão, um jovem de 26 anos, que curte surfe, usa grandes alargadores nas orelhas, tem boa parte do corpo tatuado e em quase nada lembra a maioria dos colegas pastores.

 

- Não é um amuleto, não é para matar vampiros, não é para expulsar demônios, não é para impressionar a Deus. A intenção da cruz é conscientizar quem está disposto a seguir a Cristo de que é preciso carregar uma cruz que não é material, mas uma cruz de consciência - diz o pastor.

CINCO MANDAMENTOS DO MANUAL DA CRUZ, DE ACORDO COM A IGREJA
GPS - A IMPORTÂNCIA DA VIVÊNCIA FORA DA IGREJA

Os grupos pequenos (GPs) são formações de estudo, de apoio, de compartilhamento da fé que se reúnem fora da igreja, durante a semana. São compostos por no máximo 15 pessoas (homens se reúnem com homens; mulheres, com mulheres). Além de participar das celebrações, os grupos pequenos tem o objetivo de conviver, acompanhar, formar e multiplicar. Os GPs cumprem importante papel dentro da comunidade da igreja. É mais do que um momento.

PERSONAGENS

IANATÃ VEIGA DA SILVA

Ianatã Veiga da Silva, 21 anos, adora bikes. Conhece as melhores descidas de downhill – é aquela modalidade do ciclismo que consiste em descer o mais rápido possível um percurso que pode ser no meio da mata, numa escadaria ou uma pista construída – da cidade. As bikes são preparadas para a aventura, muito diferentes dos equipamentos de passeio. Não perde uma oportunidade de praticar o esporte, seja na pista Aurora, do Guanabara, uma das mais frequentadas de Joinville, seja nas descidas da Expoville, do Paranaguamirim ou do bairro Glória, que ele próprio ajudou a fazer.

Além da bike, nos últimos dias ele ganhou mais uma companhia inseparável: a cruz de madeira. Aos 21 anos, Ianatã frequenta a Onda Dura desde 2011. Conheceu a igreja por meio de amigos, começou a participar e hoje vai quase todos os dias como voluntário para ajudar a banda da igreja.

– Depois que comecei a frequentar a Onda, posso dizer que, hoje, é o que eu vivo – diz.

Quanto a carregar a cruz – a dificuldade que alguns jovens possam ter ao ser julgados –, Ianatã tira de letra. Ele acha até engraçado quando está no supermercado ou andando com o objeto nas ruas perto do trabalho e passa a ser alvo de atenção.

– É uma experiência bem diferente. As pessoas querem perguntar, ficam olhando. Algumas perguntam e eu respondo numa boa – explica.

É uma experiência bem diferente. As pessoas querem perguntar, ficam olhando. Algumas perguntam e eu respondo numa boa.

KAUANE LINASSE LEITE

Foi o balé clássico que trouxe a estudante Kauane Linasse Leite para Joinville. Ela saiu de Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul, aos 15 anos, para morar sozinha na cidade do Bolshoi. As convicções religiosas estavam todas baseadas na fé católica. Ao chegar em Joinville, seus primeiros amigos foram os colegas de dança. Foi no Bolshoi que ela viu pela primeira vez a cruz de madeira e ficou conhecendo um pouco da Onda Dura. Mas não foi fácil acreditar.

– Vim uma vez e fiz uma lista com as dúvidas. Achava que havia muitas besteiras. Não acreditava em quase nada. Até que chegou o momento de uma mudança radical na minha vida – diz a jovem.

Seis anos depois, ela é pastora da Onda, gerente de um dos setores administrativos, o de redação, e uma das principais lideranças da companhia de dança Onda Dura, que tem mais de 30 bailarinos e monta espetáculos que unem a dança à arte circense e ao teatro. Todas as manifestações, claro, da igreja.

– Se no Bolshoi a gente dançava com profissionalismo, tem de ser ainda mais para Jesus Cristo – diz, orgulhosa pelo caminho adotado.

Hoje Kauane também cursa psicologia e teologia e passa boa parte da semana ensaiando coreografias para as apresentações da companhia nas cidades onde o Onda Dura está presente e para competições, especialmente o Festival de Dança de Joinville.

 

 

Vim uma vez e fiz uma lista com as dúvidas. Achava que havia muitas besteiras. Não acreditava em quase nada. Até que chegou o momento de uma mudança radical na minha vida.
CELEBRAÇÃO E LOUVOR
NÚMEROS
O CRESCIMENTO DA ONDA
2,5 MIL É número de pessoas que participam das celebrações nos fins de semana na sede 14 É o número de cidades onde há grupos atuantes. São elas:
Joinville (sede)
Jaraguá do Sul
São Bento do Sul
São Francisco do Sul
Itapoá
Itajaí
Balneário Camboriú
Blumenau
Mafra
São José
Tubarão Rio Negro (PR)
Curitiba (PR)
Guaratuba (PR)
edição MARINA 
ANDRADE marina.andrade@an.com.br
texto LEANDRO 
JUNGES leandro.junges@an.com.br
design CRIS
MACARI cristiane.macari@an.com.br
fotos e vídeos RODRIGO PHILIPPS rodrigo.philipps@an.com.br LEO MUNHOZ leo.munhoz@an.com.br
edição de vídeos LEONARDO 
MAIA
leonardo.maia@an.com.br