Mirella Eduarda de Oliveira Ferreira chegou a Joinville em janeiro de 2015, mas o sorriso da menina demorou um pouco mais. Ele veio aos poucos, deixando o litoral da Paraíba e a casa onde ficou a mãe, Josiene, o pai, Elionaldo e o irmãozinho, Welthon Eduardo, para encontrar motivos para ser feliz em Joinville. No início, eram os olhos que falavam mais, deixando escapar uma pontinha de angústia pela distância a que o sonho a havia levado: aos 11 anos, ela estava separada por 3.414 quilômetros do lar.

Nascida em Cabedelo, filha de um pedreiro e uma dona de casa, Mirella começou a fazer balé aos sete anos na Escola de Balé Municipal da cidade, localizada na Região Metropolitana de João Pessoa. As aulas aconteciam no Teatro Santa Catarina, em uma irônica coincidência sobre o futuro da menina. Em maio de 2014, quando a Escola Bolshoi foi à João Pessoa para realizar workshops e pré-indicações, ela foi uma das dez crianças escolhidas para viajar a Joinville em outubro e participar da seletiva nacional para as aulas de dança clássica. No fim do processo, tornou-se a única menina de Cabedelo a tornar-se aluna do Bolshoi.

 

A mudança de Mirella, assim como muitos de seus colegas, só foi possível por dois fatores: a ajuda de custo disponibilizada pela prefeitura de Cabedelo, que arca com a moradia e a alimentação; e a existência das mães sociais como Edna Costa. É ela quem irá acompanhar a estudante na maior parte do ano, pelos próximos sete anos — Mirella só retorna para casa nas férias de verão e de inverno. Em um apartamento no Centro da cidade, vivem ainda outras três alunas do Bolshoi, entre elas, a filha de Edna, que motivou a mudança da ex-professora para Joinville, onde abriga jovens conterrâneas da Paraíba.

— Eu tento fazer tudo igual ao que faço com a minha filha. É quartel dentro e fora de casa — brinca a ex-professora — porque a disciplina delas precisa continuar mesmo quando elas não estão na Escola, senão não dá certo.

Apesar do talento e das habilidades físicas, artísticas e cognitivas — confirmadas pela seletiva rigorosa que a Escola Bolshoi faz —, o desempenho de Mirella nos primeiros meses não parecia estar alcançando todas as possibilidades. Era o que percebia a professora Bruna Felício, regente da  turma das meninas da primeira série.

— Ela era muito esforçada, trazia caderno para a sala de aula para anotar as correções. Mas tinha dificuldades porque não confiava nela mesma, não sabia onde podia chegar em força e estrutura — conta Bruna.

Um dia, pouco antes da primeira avaliação, a aula de Mirella teve a participação de lágrimas enquanto a professora chamava a atenção para os erros dos exercícios na barra. Foi o ápice da angústia, mas foi também o início da mudança. Quando o segundo semestre chegou, uma menina muito mais segura entrou pelas portas do Bolshoi.

— Ela amadureceu e conseguiu se desenvolver mais. Isso foi importante para que ela conseguisse chegar à segunda série e estar preparada para os anos seguintes — afirma Bruna.