Conheça quem deu a volta por cima

Na terceira reportagem, conheça a história de Eli, que deu a volta por cima após perder o emprego. Confira, ainda, dicas para retornar ao mercado de trabalho


Publicao em 06 de julho de 2016

Reportagem

Andre Tajes

andre.tajes@pioneiro.com

Foto

Roni Rigon

roni.rigon@pioneiro.com

Arte

Charles Segat

charles.segat@pioneiro.com

Infografia

Guilherme Ferrari

Conheça quem deu a

volta por cima



Conheça quem deu a volta por cima



Rotina de mãe, dona de casa e padeira




Trabalho, cuido do meu filho e estou muito faceira.



O desemprego não tirou o sono e muito menos o sorriso estampado no rosto da vendedora Eli Vieira, 52 anos. Sem trabalho com carteira assinada há mais de dois anos, ela encontrou na cozinha da própria casa o ganha-pão para ela e os filhos João Carlos, 21, e Luiz Enrique, seis.

– Não estou infeliz por estar desempregada. Quem passou por um aneurisma e uma gravidez aos 46 anos, passa por tudo. As contas não me fazem perder o sono. No dia seguinte preciso estar bem para trabalhar – destaca.

Sem o emprego formal e com as contas da casa vencendo, coube à cunhada Paula Benfica Lemos dar o empurrão que precisava para iniciar a produção de pães. Logo depois vieram as pizzas e os grostolis.

– Minha cunhada elogiava muito meus pães e insistiu para eu vender para ela. Levei outro pão para ela levar aos colegas da escola. As professoras gostaram e comecei a vender. Hoje estou pagando todas as minhas contas.

Além do incentivo, o amor pela gastronomia que vem de berço ajudou na decisão de enfrentar a crise trabalhando em casa.

– Minha mãe, Vicenza, conta que aos nove anos eu já fazia pão – diz, orgulhosa.

A nova rotina é tão ou mais puxada do que a do emprego formal. Nas quartas e sextas, Eli madruga. Às 4h30min já está na cozinha para dar início à produção das encomendas. Nos demais dias da semana, começa às 7h. O trabalho termina sempre às 15h. Depois, é hora de sair para fazer as entregas dos pedidos.

– Minha rotina é de mãe, dona de casa e padeira. Se já era uma boa administradora, agora sou especialista no assunto. Trabalho, cuido do meu filho pequeno e estou muito faceira com meu trabalho – ressalta, referindo-se à administração das três funções.

Sem salário fixo, Eli conta que precisou reduzir as contas de casa e o principal corte foi na escola particular e no transporte escolar para o caçula – juntas, as contas chegavam a R$ 700 por mês. Mesmo com a redução, não conseguiu honrar 100% os compromissos básicos.

– Não gosto de pagar minhas contas atrasadas. Só aconteceu porque não tinha dinheiro para pagar.

Hoje, novas encomendas não param de chegar. Seu faturamento alcança os R$ 2,5 mil por mês. Seu último salário com carteira assinada era de R$ 1,4 mil. Ela sabe que precisa investir em novos equipamentos para produzir mais. Mas Eli é cautelosa.

– Ainda não posso fazer dívidas.

Mesmo satisfeita com sua produção de pães, Eli alimenta o desejo de retornar ao mercado para ter "segurança e direitos trabalhistas".

– Gostaria de ter um emprego fixo, mas para os empresários, o fato de eu ter um filho pequeno é um problema na hora da contratação.



Se possível, continue estudando. Veja algumas opções

Para manter o estudante na faculdade, proporcionar que ingressem em cursos de pós-graduação ou para capacitar recém-formados, três instituições de ensino de Caxias do Sul oferecem opções de qualificação para universitários e profissionais em início de carreira.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) lançou o programa Analista FGV, com foco em duas áreas específicas: Finanças e Recursos Humanos. Os cursos suprem uma demanda até então não atendida pelas opções de qualificação disponíveis no mercado e capacitam para as práticas do dia a dia, ensinando técnicas de gestão financeira e de RH. As aulas começam em agosto e a formação tem duração de 10 meses (120 horas/aula). O custo é de 12 percelas de R$ 520.

A Universidade de Caxias do Sul (UCS) colocou em prática uma nova política de ampliação de descontos para alunos que se matriculam em cursos de especialização ou em MBAs. Os descontos variam de 30% (à vista) 20% (para alunos graduados na UCS) e 15% (para quem possui diploma de outras instituições). O aluno que deseja quitar o curso de pós-graduação parcelado tem descontos de 10% a 15%.

A FSG conta com o crédito universitário próprio denominado Pra Valer, em que o aluno paga 50% durante o curso e 50% após a conclusão.

Para os trabalhadores que não têm dinheiro para investir, a solução é esperar até o segundo semestre. O programa Mundo do Trabalho realizado em parceria da prefeitura com a Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan) pretende oferecer capacitações gratuitas, mas ainda não há definições dos cursos, do número de vagas e da data para início das aulas.

Cursos para você se profissionalizar

O Pioneiro elencou algumas opções pagas no valor de até R$ 2,3 mil




InstituiçõesCursosPeríodoInvestimento
UCS Confeitaria para Eventos e Restaurantes 17/10 a 21/10 R$ 925
Unisinos Boas Práticas de Manipulação em Serviços de Alimentação 6/8 a 13/8 R$ 491
Unisinos Gerenciamento de projetos 10/8 a 21/9 R$ 985
FSG Gestão comercial Início 1º/8 R$ 846
FSG Gestão em recursos humanos Início 1º/8 R$ 846
Ftec Web Design até janeiro de 2017 R$ 2.274
Escola do Pompéia Análises clínicas Início 26/9 R$ 600
Escola do Pompéia Instrumentação cirúrgica Início 15/8 R$ 750
Senai José Gazola Iniciação à eletrotécnica (EAD) 25/6 a 31/12 R$ 60
Senai José Gazola Básico em costura industrial 22/8 a 4/11 R$ 894
Senai José Gazola Consertos e ajustes de roupas 25/7 a 4/8 R$ 360
Senai José Gazola Customização e reparos de peças do vestuário 15/8 a 21/9 R$ 850
Senai Construção Civil Assentador de placas de cerâmicas 8/8 a 27/9 R$ 548
Senai Construção Civil Construção em alvenaria 11/7 a 24/8 R$ 548
Senac Caxias do Sul Bolos artísticos início 7/7 R$ 739
Senac Caxias do Sul Cuidador infantil início 7/7 R$ 1.100



Gratuito




Os estudantes da Ftec que estão desempregados têm direito a cursar uma disciplina gratuita. Em Caxias, 156 universitários aderiram ao programa "Perdeu o emprego, disciplina de graça".

Para participar é preciso estar devidamente matriculado na Ftec ou ter obtido aprovação no vestibular e comprovar que perdeu o emprego nos últimos 12 meses.

O aluno pode escolher uma disciplina de qualquer curso superior e cursá-la sem custo durante um semestre letivo inteiro.

'Não se isole'




Retornar ao mercado de trabalho pode não ser uma tarefa simples. No entanto, as chances são maiores se você explorar seus diferenciais. Ter desenvolvido um bom trabalho em empregos anteriores e ter bons relacionamentos é fundamental. Muitas empresas valorizam mais os candidatos que chegam por indicação.

Para a doutora em Psicologia e professora na área de Gestão de Pessoas, Debora Frizzo, o profissional precisa descobrir e explorar os pontos fortes, os diferenciais, as qualidades e usá-las a seu favor. Segundo ela, quando as coisas vão bem, todos têm espaço e vez no mercado.

– No momento de crise, é importante construir na sua cabeça estratégias positivas para manter-se ou conseguir uma nova colocação no mercado de trabalho – argumenta.

Debora ressalta que nenhuma dica ou estratégia poderá ser útil se a pessoa se deixar contaminar ou dominar por sentimentos e ideias negativistas, pessimistas e de derrota.

– Mesmo sem emprego, não se isole, não se entregue a uma postura de desânimo. Nos momentos difíceis, todos procuram funcionários, colegas, pessoas que possam ajudar e transmitem positivismo. Seja uma pessoa que as pessoas querem ter por perto! – explica Debora.

Ao lado, confira as dicas da especialista.

8 dicas importantes




|1. Currículo com informações precisas.

|2. Jamais invente fatos e situações. Sinceridade e transparência são qualidades que toda empresa busca em um novo funcionário.

Conheça quem deu a volta por cima

|3. Quando for chamado para uma entrevista, não se atrase. Cuide da sua apresentação.

|4. Enquanto estiver em busca de uma recolocação no mercado, não fale mal ou critique seus locais de trabalho anteriores.

|5. Antes de uma entrevista de seleção, procure se informar sobre a empresa para a qual está sendo selecionado, qual seu perfil, seu negócio e seus valores.

|6. Não responda as perguntas com respostas monossilábicas (como por exemplo: sim, não, é, pode ser). Isso transmite uma imagem de desinteresse.

|7. Cuide da sua comunicação não verbal. Repare na sua postura corporal, gestos, ua expressão facial. Se destaca quem consegue transmitir uma postura confiante e otimista.

|8. Cuide de sua qualificação profissional e técnica. Procure sempre se atualizar na sua área, faça cursos, frequente palestras, procure oportunidades em entidades de classe e instituições de ensino.