Rotina de mãe, dona de casa e padeira
Trabalho, cuido do meu filho e estou muito faceira.
O desemprego não tirou o sono e muito menos o sorriso estampado no rosto da vendedora Eli Vieira, 52 anos. Sem trabalho com carteira assinada há mais de dois anos, ela encontrou na cozinha da própria casa o ganha-pão para ela e os filhos João Carlos, 21, e Luiz Enrique, seis.
– Não estou infeliz por estar desempregada. Quem passou por um aneurisma e uma gravidez aos 46 anos, passa por tudo. As contas não me fazem perder o sono. No dia seguinte preciso estar bem para trabalhar – destaca.
Sem o emprego formal e com as contas da casa vencendo, coube à cunhada Paula Benfica Lemos dar o empurrão que precisava para iniciar a produção de pães. Logo depois vieram as pizzas e os grostolis.
– Minha cunhada elogiava muito meus pães e insistiu para eu vender para ela. Levei outro pão para ela levar aos colegas da escola. As professoras gostaram e comecei a vender. Hoje estou pagando todas as minhas contas.
Além do incentivo, o amor pela gastronomia que vem de berço ajudou na decisão de enfrentar a crise trabalhando em casa.
– Minha mãe, Vicenza, conta que aos nove anos eu já fazia pão – diz, orgulhosa.
A nova rotina é tão ou mais puxada do que a do emprego formal. Nas quartas e sextas, Eli madruga. Às 4h30min já está na cozinha para dar início à produção das encomendas. Nos demais dias da semana, começa às 7h. O trabalho termina sempre às 15h. Depois, é hora de sair para fazer as entregas dos pedidos.
– Minha rotina é de mãe, dona de casa e padeira. Se já era uma boa administradora, agora sou especialista no assunto. Trabalho, cuido do meu filho pequeno e estou muito faceira com meu trabalho – ressalta, referindo-se à administração das três funções.
Sem salário fixo, Eli conta que precisou reduzir as contas de casa e o principal corte foi na escola particular e no transporte escolar para o caçula – juntas, as contas chegavam a R$ 700 por mês. Mesmo com a redução, não conseguiu honrar 100% os compromissos básicos.
– Não gosto de pagar minhas contas atrasadas. Só aconteceu porque não tinha dinheiro para pagar.
Hoje, novas encomendas não param de chegar. Seu faturamento alcança os R$ 2,5 mil por mês. Seu último salário com carteira assinada era de R$ 1,4 mil. Ela sabe que precisa investir em novos equipamentos para produzir mais. Mas Eli é cautelosa.
– Ainda não posso fazer dívidas.
Mesmo satisfeita com sua produção de pães, Eli alimenta o desejo de retornar ao mercado para ter "segurança e direitos trabalhistas".
– Gostaria de ter um emprego fixo, mas para os empresários, o fato de eu ter um filho pequeno é um problema na hora da contratação.