Três da mesma família demitidos
Nunca imaginamos que perderíamos o emprego ao mesmo tempo.
As demissões da Medabil
atingiram em cheio a técnica
de segurança do trabalho
Simone Pessini, 34 anos, e o
analista de qualidade Neimar
Lucchetta, 30, casados desde
março deste ano. Os dois trabalhavam
na empresa e viviam
com uma renda mensal
de R$ 6 mil. Agora estão reorganizando
a vida financeira e
pessoal.
– Esse mês (o dinheiro) já
está fazendo falta. Meu marido
recebeu a primeira parcela
do seguro no valor de R$
1.540, o teto da previdência.
Eu só encaminhei o seguro
no início de junho e ainda
não recebi a primeira parcela
– conta Simone.
Sem emprego e com pouco
dinheiro, o casal decidiu
interromper a construção da
casa de dois andares que iniciaram
em janeiro e onde já
investiram R$ 100 mil.
– Vamos parar a obra.
Juntamos nosso FGTS, vendemos
um carro e usamos o
dinheiro para construir nossa
casa. Nossa sorte é que não
tínhamos feito financiamento
– diz Simone.
Apesar das dificuldades, o
casal planeja concluir a obra
na garagem e ocupar o local
em dois meses. As obras na
sala comercial do térreo e a
residência no primeiro piso
estão suspensas.
– Eu e meu irmão vamos
trabalhar para finalizar a
parte de baixo e poder morar.
O casal também cortou
a tevê a cabo e as contas do
celular. Só pouparam o plano
de saúde.
– Nunca imaginamos que
perderíamos o emprego ao
mesmo tempo – lamenta Simone.
Para economizar, o casal
decidiu morar na casa dos
pais de Neimar – seu Nevio,
58 e dona Nilce, 54. Aposentados,
sustentam a casa e ainda
auxiliam o filho Nelvi, 34, que
também perdeu o emprego
de operador de máquinas.
– Meu marido se aposentou
depois de um acidente de
trabalho. Agora, a empresa
cortou o plano de saúde, o
vale-alimentação e está atrasando
o salário. As coisas estão
difíceis. Estou precisando
mexer nas nossas economias
– lamenta Nilce.
Diante da crise, ela precisou
adaptar o orçamento doméstico.
Diminuiu o horário
da funcionária que cuida de
seu esposo para três dias na
semana e em meio turno.
– Gosto muito dela, mas
não tenho como pagar todo o
valor – diz, chateada.
Demitida no dia 13 de
maio, Simone busca uma
nova oportunidade no mercado
de trabalho nos municípios
vizinhos, mas nas
duas entrevistas de emprego
se decepcionou com o salário
oferecido de R$ 1,3 mil.
– Descontando o valor do
transporte sobraria R$ 800.
Achei que nunca iria ouvir
que tem muita mão de obra
qualificada disponível. Hoje
está mais fácil para quem
tem menos qualificação. É
triste – diz Simone que também
é graduada em RH.
Para o analista de qualidade,
demitido no dia 20 de
abril, “a ficha ainda não caiu”.
O consolo é que a demissão
ocorreu devido à crise e não
por falta de competência.
– Saio de cabeça erguida. O aprendizado ficou comigo. Tinha um pouco de medo (da demissão), mas não achei que poderia chegar até mim. Sinto a falta do convívio com os colegas – ressalta.
Para Nelvi Luchetta, demitido no final de maio, a principal preocupação é com a parcela de R$ 630 do financiamento da casa. Ele trabalhou mais de 10 anos em uma metalúrgica da cidade e perdeu o salário de R$ 1,8 mil.
– Fiquei triste e uma lágrima saiu do olho. Era da Cipa. Não podia ser demitido.
Sem salário há dois meses, ele conta com o salário de confeiteira da esposa, Neli, 25, para pagar as contas da casa.
– Este mês, minha mãe pagou o mercado. Não acreditava quando meu irmão falava sobre a crise – conta.