Tenho esperança de retornar ao mercado de trabalho. É o que me mantém de pé e tentando.
Angústia, incerteza, tristeza. Sentimentos que dominam os dias, as noites e as horas de Claudiomiro Justino Reco, 45 anos, nos últimos seis meses. Ele é um dos 15,5 mil trabalhadores caxienses que perderam o emprego nos últimos 12 meses devido ao agravamento da crise econômica. Para se ter uma ideia, em Florianópolis, com a mesma média de habitantes de Caxias, o número de postos fechados é de 7,2 mil (53% a menos).
Até o final do ano passado, o soldador tinha uma vida estável e um emprego de 18 anos em uma grande indústria da cidade. Em novembro de 2015, recebeu a fatídica notícia: “você está demitido”, disse seu gestor, na época. Em menos de uma semana se viu sem plano de saúde, sem vale-refeição, sem salário.
A justificativa da empresa não amenizou o impacto.
– Me explicaram que a fábrica estava passando por uma crise nunca vivenciada antes e não poderiam manter o quadro de funcionários. Levei um choque.
Casado, pai de uma filha de três anos, ele passa os dias entregando currículos nas agências de emprego – já distribuiu mais de 30 – e esperando por um telefonema que o possibilite voltar ao mercado de trabalho.
Empregados e Desempregados (Caged) apontam para números jamais vistos em Caxias do Sul. Na indústria de transformação está o maior número de postos de trabalho fechados: 11.808 nos últimos 12 meses. Avança para o setor de serviços (-2.288) e segue para o comércio (-866).
Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL), a taxa de desemprego de maio foi de -8,83%. No Rio Grande do Sul, o número sem emprego formal ultrapassa os 162 mil trabalhadores. No Brasil, a população desocupada chegou a 11,4 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio.
A falta de trabalho me tira o sono e a alegria de viver
Para o soldador Claudiomiro Reco, as horas passam lentamente. Acostumado a uma rotina intensa, chegou a ter uma jornada dupla para aumentar a renda da família. À noite trabalhava como motoboy em uma casa de lanches, mas optou por deixar o serviço para ficar mais tempo com a filha Júlia, oito anos.
– Agora não tenho trabalho algum – lamenta.
A esposa, Daniella Dutra, ficou desempregada por dois anos. Há 30 dias, depois de muita batalha e um pouco de sorte, conseguiu um trabalho que rende R$ 1,1 mil. É pouco, mas melhor que nada. Não vai dar para honrar todos os compromissos. Claudiomiro avalia a possibilidade de vender o Voyage (ano 2013). Apesar de ser importante para levar e buscar a filha na escola, a prestação de R$ 670 está pesando demais no bolso.
– Não mantemos o carro por status, mas pela saúde da filha.
A menina Júlia tem má formação congênita no coração, chamada de Comunicação Interventricular (CVI), e muitas vezes precisa se deslocar com urgência ao hospital ou ao Postão 24h. O plano de saúde também faz muita falta.
– Tenho esperança de retornar ao mercado de trabalho. É o que me mantém de pé e tentando.
Ele reconhece que poderia ter conduzido sua vida profissional por outro caminho:
– Devia ter feito faculdade e me preparado mais. Mas só queria saber de trabalhar dia e noite. Agora estou desempregado.
Claudiomiro é persistente. Nos últimos seis meses distribuiu mais de 30 currículos em agências de recrutamento. Foi chamado para quatro entrevistas, sem sucesso:
– Está difícil. Ligam e dizem que outra pessoa está mais qualificada e sempre falta alguma coisa.
Dois aspectos, segundo ele, estão dificultando a contratação: a idade (45 anos) e o salário que atingiu em 18 anos na mesma empresa – R$ 2,8 mil mensais. Atualmente, os salários oferecidos são bem menores – entre R$1,2 mil e R$ 1,4 mil:
– Não me importo em ganhar menos.