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santa catarina deixou a sexta posição entre os estados mais produtivos em 2004 para ocupar a nona em 2013 e, enquanto os salários cresceram 4%, a produtividade avançou apenas 1,5%.

Embora o Brasil tenha algumas empresas com eficiência comparável a de países desenvolvidos, temos uma proporção muito elevada de companhias de baixa produtividade, mesmo em comparação com outras economias emergentes, como Chile, México e China. A consequência é uma média baixa na maioria dos setores.

 

Fernando Veloso,

Instituto Brasileiro de Economia

 

Temos um nível de comprometimento muito grande na criação das aves. o frango é produzido com a gestão do dono. O sistema de integração da avicultura e de suínos do Brasil nasceu em Santa Catarina, isso traz um carinho diferenciado à produção.

 

josé antônio
ribas junior,

Presidente da Acav

 

embora detenha o sexto maior PIB do país e o terceiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), Santa Catarina ainda patina na produtividade. Um trabalhador catarinense rende menos do que um paranaense, mato-grossesense ou capixaba. Além do desempenho que acende o sinal amarelo, o Estado vem perdendo posições no ranking nacional. Em 2004, tinha a 6a maior produtividade por trabalhador – um cálculo que considera o PIB estadual dividido pelo número de trabalhadores – conforme levantamento do economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, Ricardo Paes de Barros. Em 2013, havia caído para a nona colocação. Os líderes da lista se mantiveram os mesmos: Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro.

 Na última década, a produtividade dos catarinenses só não avançou menos que no Amapá, Minas Gerais e Distrito Federal. Se Santa Catarina fosse um país, seu índice de crescimento da produtividade estaria à frente do Chile e do Brasil, por exemplo, mas atrás da Venezuela e do Suriname. Não se sabe ao certo porque o Estado perdeu colocações.

– Ainda precisamos entender as origens, as causas desse desempenho – diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte.

 O pior, conforme o estudo de Paes de Barros, é que os salários dos catarinenses cresceram 4% e a produtividade, apenas 1,5%. Quando os rendimentos crescem acima da capacidade produtiva, os efeitos tendem a ser destrutivos para a economia.

 – A consequência imediata disso é que aumenta o custo de produção, encarece o produto final e também fica caro contratar o trabalhador – explica o professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin.

No Brasil, a questão também é um desafio. A produtividade do trabalho no país não cresce ou avança muito pouco desde a década de 1980.  Antes disso, entre 1965 e 1980, aumentou impulsionada pela migração de trabalhadores da agricultura para as cidades, nos setores de serviço e indústria, que têm maior valor agregado.

 Quando o avanço passou a depender de inovações tecnológicas, o Brasil se viu despreparado porque não tinha levado a educação suficientemente a sério. Foi o oposto do que fez a Coreia do Sul, que teve um crescimento impressionante a partir dos anos 1980 e se tornou exemplo de sucesso. É comumente comparada ao Brasil por ter partido de indicadores tão ruins ou piores, mas ter feito progressos muito superiores.

 Desde essa virada, a produtividade vem tendo um desempenho claudicante no Brasil. Em 2016 caiu 1,8% segundo a consultoria The Conference Board. Entre os vizinhos latino-americanos, só Venezuela (-17,3%) e Argentina (-3,6%) sofreram tombos maiores. Entre 2007 e 2014, cresceu 1,9% no Brasil, enquanto os indianos tiveram alta de 6,4% e os chineses, de 7,8%.

Hoje, a produtividade de trabalho no Brasil, que é a simples divisão do PIB pelo número de trabalhadores, equivale à 25% da norte-americana. É aquela história de que seriam necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzir o mesmo que um norte-americano. Isso não quer dizer que a culpa seja do brasileiro. Na verdade, o desempenho do trabalhador só reflete as condições ruins do país.

Esse desempenho tímido explica porque a nossa renda não aumentou como deveria. Nos afastamos de países mais ricos e os menos desenvolvidos se aproximaram do Brasil. Em 1980, a renda por habitante no Brasil equivalia a 36,5% da norte-americana. Em 2016, a 26,2%.

O enriquecimento das últimas décadas veio a reboque da demografia favorável e da formalização do emprego. A produtividade do trabalho foi responsável por apenas 40% do incremento da riqueza gerada no Brasil entre 1990 e 2012, enquanto na China respondeu por 91% segundo a consultoria McKinsey. E embora o crescimento populacional tenha jogado a favor do país até agora, não se pode esperar o mesmo daqui para frente: com o envelhecimento e a taxa de fertilidade mais baixa, o avanço dependerá de maneira definitiva do ganho de produtividade.

TEXTO | larissa linder

O frango era uma iguaria na mesa das famílias brasileiras até a década de 1970. Reservado para ocasiões especiais e almoços de finais de semana, o preparo da ave costumava  ser demorado e custoso. Dos quintais e pequenas granjas para as grandes indústrias, transformou-se em uma alternativa barata nas refeições de todos os dias. Em junho deste ano, chegou ao custo médio de R$ 6,10 o quilo. Estaria em R$ 23,80 se considerado o valor real do produto (descontada a inflação) em 1975, segundo a Embrapa. Isso significa que há 42 anos o preço de uma galinha era quatro vezes maior do que hoje. O cálculo que explica essa matemática virtuosa tem uma variável fundamental: a produtividade.

Líder mundial em ganhos de escala, a avicultura nacional – em especial, a catarinense – tornou-se exemplo em um universo no qual o país ainda avança a passos lentos. O desempenho reflete questões estruturais. Um brasileiro produz, em média, apenas 25% do que um norte-americano. Ou seja: um empregado dos Estados Unidos faz o trabalho de quatro no Brasil. O país está atrás do Peru, do Chile e da Argentina, apenas para citar alguns vizinhos.

Santa Catarina não está no topo de eficiência e vem perdendo posições no ranking entre os Estados. Entre 2004 e 2013, caiu da sexta maior produtividade por trabalhador do país para a nona colocação. Para retomar o caminho do crescimento, a economia catarinense – e brasileira – vai precisar encontrar a chave para o ganho da produtividade.

A solução não é simples nem rápida. Requer investimento e planejamento de longo prazo. Para isso, educação, inovação e gestão de qualidade são alguns dos eixos fundamentais. Entre questões estruturais e deficiências históricas do país, algumas empresas conquistam espaço para avançar de maneira independente. Nas páginas a seguir, conheça esses bons exemplos e saiba o que será preciso para vencer esse desafio.

O desafio catarinense

Passos lentos

se é verdade que encontramos no campo o grande paradigma da produtividade brasileira, também está na avicultura um dos maiores exemplos do benefício dos ganhos de desempenho para a cadeia produtiva. O preço do frango nacional é hoje um quarto do que custava em 1975, segundo cálculos da Embrapa. Investimentos em tecnologia e gestão permitiram que as agroindústrias se tornassem concorrentes globais de peso no setor.

– Estudos que fizemos mostraram que quem se apropriou de 72% dessa vantagem de preço foi o consumidor. Os outros 28% de ganhos ficaram com produtores, agroindústria, distribuição, varejo e outros setores envolvidos nessa cadeia – explica o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia, Jonas Irineu dos Santos Filho, engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (MG) e doutor em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP), que pesquisa custos da avicultura brasileira há 22 anos.

O engenheiro compara os efeitos da tecnologia e dos ganhos de produtividade da avicultura com outros setores de proteína animal, como a suinocultura e a bovinocultura. Todos avançaram muito, mas nenhum gerou impacto positivo tão grande ao consumidor. O preço do quilo da carne suína em junho último correspondia a 31,76% do que custava em 1975, e a bovina, 63,44%.

Ao associar a melhor tecnologia genética, com manejo de ponta e alimentação barata, o Brasil é muito competitivo nos preços internacionais de frango, mesmo enfrentando custos logísticos acima da média mundial. Basta ver que a China está acusando agroindústrias brasileiras de dumping.

– O milho acessível reduz o preço. Como esse é um mercado de competição perfeita, o preço dos insumos cai, o preço do produto cai automaticamente – afirma Santos.

Quem lidera tecnologias para o avanço da produtividade na carne de frango no Brasil são as agroindústrias catarinenses. Com a fundação da Perdigão, há 83 anos, em Videira, e da Sadia, há 73 anos, em Concórdia, Santa Catarina ajudou a criar as bases da moderna avicultura brasileira. As duas empresas deram origem à BRF, terceira maior do mundo em proteína animal. A JBS, líder global em carnes, tem em Santa Catarina a Seara, que nasceu no Estado e é a principal produtora de aves e suínos do grupo. E a maior cooperativa brasileira do setor, a Aurora Alimentos, também é catarinense.

Se os preços do frango no mercado têm uma concorrência perfeita, a produtividade da avicultura em Santa Catarina também tem. Na avaliação do presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antônio Ribas Junior, não dá para dizer que uma dessas três gigantes consegue mais produtividade do que as outras.

A avicultura catarinense adquire genética das duas maiores empresas mundiais do setor, a alemã Aviagen, líder global, e a americana Coeb. De acordo com o presidente da Acav, a primeira decisão das agroindústrias para ter maior produtividade é participar do melhoramento genético realizado por essas duas casas globais. Informam se necessitam de frango com peito maior, coxa maior ou carne mais magra, dependendo da demanda dos mercados. Então, a pesquisa genética foca nessas características e os animais são produzidos pelas empresas para serem avaliados.

 – A segunda participação das agroindústrias é uma parceria com as casas de nutrição para desenvolver modelos de ração e alimentação para que as aves possam expressar melhor seu potencial genético – explica Ribas Junior, ao destacar que hoje há até milhos especiais para cada semana de vida do frango.

Além disso, está nas mãos das agroindústrias toda a pesquisa da produção direta do frango. Elas detêm os modelos de manejo da criação de aves, constituição de melhor ambiente para um melhor desenvolvimento. Santa Catarina já conta com aviários operados online, com informações no meio eletrônico em tempo real. São modelos de criação de ponta no mundo.

Além da genética, outro ponto alto da produtividade avícola é a conversão alimentar. Segundo Jonas dos Santos, nos anos 1950 e 1960, o avanço em nutrição era com o uso de vitaminas e minerais nas rações. Nos anos 1960 e 1970, entraram os aminoácidos. Nos anos 1990 até agora, são considerados a gestão ambiental, fatores metabólicos e estresse, efeitos da nutrição sobre o rendimento, a imunologia e a saúde intestinal. Por isso, hoje, para produzir um quilo do frango de 28 dias é necessário 1,35 quilo de ração. Mas segundo Ribas Junior, há dentro das casas genéticas algumas linhas de pesquisas que já alcançaram um quilo de frango com 1,1 quilo de ração.

Além da vanguarda na avicultura brasileira, Santa Catarina se diferencia pela melhor condição sanitária. Não há outro local do mundo comparável ao Estado em termos de livre de algumas doenças e qualidade sanitária do plantel, observa Ribas Junior. Enquanto diversos países foram atingidos pela gripe aviária, o Brasil nunca teve essa doença. Além de o único do país reconhecido no exterior como livre de aftosa sem vacinação, grande parte da pesquisa feita no Brasil em avicultura começa no Estado. Dificilmente há uma tecnologia mundial ainda não adotada pelos catarinenses.

– Temos um nível de comprometimento muito grande na criação das aves. o frango é produzido com a gestão do dono. O sistema de integração da avicultura e de suínos do Brasil nasceu em Santa Catarina, isso traz um carinho diferenciado à produção – observa Ribas Junior.

Apesar dos grandes desafios, a agricultura brasileira conseguiu se tornar um bom exemplo de produtividade. De importador de alimentos, o país passou a exportador. A criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1973, foi decisiva para essa conquista.

– A partir da década de 1950 e principalmente, de 1970, passamos a nos preocupar muito com produtividade (na agricultura), até porque o trabalhador saiu do campo para a cidade. O investimento massivo em pesquisa foi definitivo – diz o pesquisador da Embrapa Eliseu Roberto de Andrade Alves, PhD em economia agrícola.

Essa aposta do governo em pesquisa, que beneficiou todo um setor de maneira horizontal, aliada à oferta de crédito subsidiado e orientado, deu resultados impressionantes. Um deles foi fazer brotar soja no cerrado, o que transformou o país no segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Hoje, um hectare de terra no Brasil produz 90% a mais do grão do que em 1977.

Os números não são tão bons em outros setores. Entre 2000 e 2009, enquanto a produtividade da agropecuária teve alta de 4,3% ao ano em média, a dos serviços aumentou em apenas 0,5%, e da indústria amargou quedas anuais de 0,4%, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Durante muito tempo acreditou-se que somos mais pobres principalmente porque nos especializamos em setores menos produtivos, ou seja, haveria mais gente em empregos que no final geram menos valor agregado. No entanto, alguns estudos vêm desmistificando essa visão. Um deles, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, demonstrou que se tivéssemos a mesma distribuição de pessoas por setor que os Estados Unidos, nossa produtividade seria 68% maior. A conclusão surpreendente, no entanto, é que se o Brasil mantivesse a disposição setorial de hoje, mas com o mesmo desempenho por setor que têm os norte-americanos, o resultado brasileiro seria 430% maior. Em resumo, o problema não é somente a especialização em determinados setores, mas a ineficiência em todos.

– Embora o Brasil tenha algumas empresas com eficiência comparável a de países desenvolvidos, temos uma proporção muito elevada de companhias de baixa produtividade, mesmo em comparação com outras economias emergentes, como Chile, México e China. A consequência é uma média baixa na maioria dos setores – diz Fernando Veloso,  um dos autores da pesquisa.

Há uma dezena de razões para a ineficiência brasileira. Fora das empresas, existem muitos obstáculos: a infraestrutura ruim, a burocracia – especialmente para abrir e fechar empresas –, o sistema tributário – há 27 legislações só para o ICMS, por exemplo – e a pouca inserção do país no comércio global. Muito desses aspectos, contudo, estão mais relacionados à competitividade. Uma companhia pode ser produtiva e não ser competitiva. É o caso do agronegócio que, apesar de ser produtivo, perde competitividade quando as commodities entram nos caminhões e enfrentam as estradas e os portos ineficientes do país. Da porta para dentro das empresas estão os fatores que interferem diretamente na produtividade.

TEXTO | estela benetti

Avicultura global

O exemplo que
vem do campo