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Passos lentos

Santa Catarina tem muita tradição na indústria e é um Estado muito dinâmico, então as entidades precisam ser proativas. Tem Estado que tem três ou quatro vezes o nosso tamanho e não tem a quantidade de empresas que temos.

 

Jefferson de
Oliveira Gomes,

Diretor do Senai SC

pensávamos que colocar funcionários em uma mesma mesa faria com que eles conversassem mais e trabalhassem menos. Juntamos as pessoas e o que aconteceu foi o contrário: um acaba demandando serviço do outro, aumentando a produção.

 

cristian brandão,

Diretor da Duriarte

alimentar os animais, dar água, vacinas e gerenciar estoques de ração estão entre as rotinas mais comuns nas granjas de suínos. Essas tarefas fundamentais para a criação dos animais também se tornaram a chave para o ganho de produtividade da Aurora Alimentos. Em 2008, a cooperativa de Chapecó decidiu investir para aprimorar processos na suinocultura, considerada ainda defasada em relação a outras áreas da companhia.

Treinou os criadores e, para incentivá-los, estabeleceu metas mensais, que determinam a remuneração. Deu certo. O custo de produção caiu 26,3% de 2008 para cá, e o lucro, aumentou. Não fosse isso, diz o diretor de agropecuária, Marcos Antônio Zordan, os preços do quilo do suíno seriam hoje impossíveis para o negócio.

O que a cooperativa fez, em resumo, foi olhar com cuidado para a gestão. Gerir bem envolve evitar desperdícios, não se acomodar, pensar em todos os setores ao mesmo tempo e de forma estratégica. Uma atividade tão ampla quanto importante.

Um estudo publicado neste ano, conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos, mediu a importância da gestão ao comparar, em um grupo de 35 mil empresas, aquelas com os melhores e os piores desempenhos. Chegaram à conclusão de que a gestão era responsável por 18% da disparidade entre os dois grupos. Importava mais que pesquisa e inovação (17%), qualificação da mão de obra (11%) e investimento em tecnologia da informação (8%).

O peso desse elemento para a produtividade ajuda a entender o desempenho ruim do Brasil. O país pode se orgulhar de ter companhias com eficiência comparável às de nações desenvolvidas. Ao mesmo tempo, os países ricos têm empresas tão mal geridas quanto as piores encontradas por aqui. A diferença é que no Brasil há uma proporção muito maior de companhias de baixa produtividade.

Em um ranking global que avalia o desempenho empresarial em 35 países, o World Management Survey, os brasileiros ocupam a 21a posição, à frente da China, mas atrás do Chile e do México. Há muito espaço para melhorar. De acordo com o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) Fernando de Holanda Barbosa Filho, um agravante é que o país estimula a sobrevivência de empresas ineficientes:

– Você tem setores inteiros pouco produtivos que recebem incentivo por meio de investimento subsidiado. Um exemplo é a indústria automotiva que só sobrevive com programa de redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). O problema é que, no Brasil, quem tem mais poder de chorar ganha. O empresário vai até Brasília e consegue um benefício do governo, em vez de o governo resolver o problema como um todo – avalia o pesquisador.

Na visão do presidente do Excelência SC, organização que promove a melhoria da gestão nas empresas, Roberto Zardo, o Brasil pratica um certo “paternalismo pernicioso”. Mas ele ressalva que outros motivos rebaixam a qualidade da gestão, como a ausência de uma visão de longo prazo. No caso específico de empresários pequenos e médios, diz, há um complicador, porque costumam cuidar de várias áreas das empresas ao mesmo tempo.

– A única coisa que o empresário não quer é perder dinheiro. Mas ele acaba ficando consumido pelo dia a dia da empresa e perde a visão estratégica do todo – avalia.

O relativo mau desempenho empresarial brasileiro também tem relação com o capital humano. Afinal, o problema da baixa qualidade educacional atinge também uma parcela do empresariado.

– Até pouco tempo atrás você tinha uma reclamação muito grande de falta de mão de obra qualificada. Só que nosso empresário tem a mesma educação que os trabalhadores. Alguns conseguiram fazer curso superior, outros não. Será que muitos estão se capacitando em gestão? No fundo, a gente tem uma deficiência, que todo brasileiro tem, que é uma educação ruim – avalia o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca.

 Outro fator que joga contra o país é a baixa inserção no comércio global. A concorrência tem sido apontada, inclusive pela World Management Survey, como um impulsionador da produtividade, já que obriga empresas a se profissionalizarem e reverem processos. Os especialistas divergem quando o assunto é o protecionismo brasileiro. Todos, no entanto, concordam que uma maior participação no comércio global tende a ser vantajosa.

– Toda empresa tem que ter um pé no comércio internacional. Na medida em que ela participa do comércio internacional, ela se expõe à concorrência e é obrigada a fazer uma reciclagem interna – diz a presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante.

Os países que se tornaram referência em gestão fizeram desta uma preocupação nacional. O líder do ranking mundial no assunto é o Japão, que passou a investir em gerenciamento de qualidade em 1950. Embora tenham feito isso com a ajuda inicial dos norte-americanos no pós-guerra, os asiáticos acabaram criando modelos próprios, ultrapassaram e incomodaram os Estados Unidos décadas mais tarde, especialmente no mercado de automóveis.

– Os americanos se preocuparam quando os carros japoneses começaram a fazer sucesso. Foram até o Japão para ver o que estava sendo feito de diferente e desenvolveram princípios para a boa gestão. Depois disso, criaram um prêmio, em 1987, que existe até hoje e reconhece empresas com excelência – diz Zardo.

Em Santa Catarina, o Excelência SC, movimento presidido por Zardo, dissemina boas práticas de gerência desde 2004. No país, a iniciativa pública mais recente é o programa Brasil Mais Produtivo (B+P). Consultores do Senai visitam as indústrias, fazem um diagnóstico, alteram o que for preciso e monitoram os resultados. O custo para a companhia seria de R$ 18 mil, mas o governo federal subsidia R$ 15 mil. Os outros R$ 3 mil só são pagos se houver um ganho de pelo menos 30% de produtividade em até quatro meses. Os resultados, contudo, costumam aparecer muito antes. No Estado, neste ano, 306 indústrias estão no programa, com o ganho médio de produtividade de 42%. A meta era atender 280.

– Santa Catarina tem muita tradição na indústria e é um Estado muito dinâmico, então as entidades precisam ser proativas. Tem Estado que tem três ou quatro vezes o nosso tamanho e não tem a quantidade de empresas que temos – diz o diretor do Senai SC, Jefferson de Oliveira Gomes.

TEXTO | larissa linder

na performance de uma empresa, o desempenho das lideranças importa mais do que investimento em tecnologia ou qualificação da mão de obra. Para avançar, os executivos brasileiros também precisam se preocupar com formação e dar mais importância à gestão

GESTÃO

A Duriarte demorou a sentir os efeitos da crise. A fabricante de esquadrias de alumínio de Indaial viu a luz vermelha acender apenas este ano, quando as clientes, as construtoras, passaram a sofrer com inadimplência e a receber até carros como pagamento por apartamentos de alto padrão comprados na planta. Foi quando a situação apertou que a empresa, pequena e familiar, passou a se preocupar em ser mais enxuta.

– A crise nos fez pensar na produtividade. Meu pai disse que precisaríamos cortar despesas, não poderíamos repassar nenhum custo a mais para o cliente – conta Cristian Brandão, que atua na administração da Duriarte junto ao pai e ao tio.

A visita do Senai-SC, portanto, veio na hora certa. Os consultores bateram à porta da empresa para apresentar o Brasil Mais Produtivo (B+P). O investimento baixo, de R$ 3 mil, em troca de consultoria e uma promessa de aumentar a produtividade convenceu. Segundo Brandão, o retorno veio em 22 dias, embora o acompanhamento tenha durado três meses.

Com o trabalho de consultoria, houve ganho de 109% de produtividade, o que representa R$ 82 mil a mais de faturamento, e 90% de redução na movimentação dos funcionários durante o processo de produção. Para se chegar a esses resultados, foram feitas apenas mudanças simples como o local onde as ferramentas são guardadas ou a forma como os trabalhadores são distribuídos na fábrica.

– A gente achava, por exemplo, que colocar os funcionários em uma mesma mesa faria com que eles conversassem mais e trabalhassem menos. Juntamos as pessoas e o que aconteceu foi o contrário: um acaba demandando serviço do outro e pressionando, aumentando a produção – diz Cristian.

Segundo Jefferson de Oliveira Gomes, a empresa não fazia gestão de gargalos, o que provocava uma “imensidão de desperdício”:

– Muitas dessas indústrias são criadas por um ex-funcionário que trabalhou em uma fábrica, aprendeu a fazer muito bem uma peça, por exemplo, juntou um dinheiro e resolveu abrir o próprio negócio. Então ele sabe fazer o produto com qualidade, mas não tem boa noção de administração.

Esquema eficiente

É mais ou menos a história da Duriarte, fundada pelo pai de Cristian, Nivaldo Bernardino Lopes de Sousa, ex-funcionário de uma pequena fábrica, e pelo tio, José Eleodoro Cimardi. Ao longo de 17 anos, a empresa cresceu e passou de fabricante de caixas de correio a fornecedora de esquadrias para grandes construtoras do litoral catarinense, incluindo as de alto padrão em Balneário Camboriú.

Em 2011, a Duriarte fez uma intervenção para melhorar a produtividade. À época, foi motivada e subsidiada pela gigante Alcoa, fornecedora de matéria-prima. Mas, com o tempo, segundo Cristian, a empresa relaxou no acompanhamento dos processos. Desta vez, garante, isso não vai se repetir.

Em busca de eficiência, a empresa fez alterações em outras áreas além da produção. Mudou, por exemplo, a forma de selecionar novos funcionários para evitar rotatividade alta. Hoje, tem processos seletivos mais longos, que incluem testes práticos. Passou também a fazer reuniões semanais para estabelecer e acompanhar metas.

– Estamos mais atentos à gestão e ao desperdício. Estamos inclusive voltando para nossa sede antiga, para economizar no aluguel. Não vamos demitir nem reduzir, mas seremos mais eficientes e vamos produzir o mesmo com menos espaço. A economia vai ser de R$ 40 mil – comemora.