REDE PÚBLICA AVANÇA

MAIS rápido que a privada

N

o sistema público brasileiro, a taxa de partos normais gira em torno de 60%, já nos serviços privados é quase um terço disso, 16% – o que mantém a média nacional baixa. Santa Catarina caminha na mesma direção. Na rede pública do Estado, em 2016,  56% dos nascimentos foram por parto normal. Na rede privada, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não tem um levantamento geral, somente por operadoras. Mas para se ter uma ideia, em 2015 somente 17,2% dos partos realizados na Unimed Grande Florianópolis (maior operadora do Estado) e 7,4% na Agemed foram normais. No ano anterior, essa taxa era de 13% e 15,5%, respectivamente.

Os números indicam que além de estarem muito abaixo do que preconiza a Organização Mundial de Saúde (85%), na Agemed ainda houve redução pela metade de um ano para outro. Em nota, a operadora afirma que a “decisão quanto ao parto é tomada pela beneficiária em conjunto com o médico assistente, de acordo com a orientação técnica deste”.

Já a Unimed Grande Florianópolis, também em nota, reforça que promove mensalmente o curso de gestantes e a oficina de preparação para o parto que “objetiva conscientizar as famílias sobre os benefícios do parto adequado e contribui para a mudança cultural do modelo”.

Um dos fatores que colabora com o alto índice de partos cirúrgicos na rede privada é a taxa de disponibilidade do médico. Ou seja, para garantir que o mesmo profissional que acompanhou todo o pré-natal realize o parto, a gestante tem duas opções: pagar o preço para realização do parto (que no Estado varia entre R$ 2 mil e R$ 5 mil) ou agendar o nascimento do bebê para um horário em que o profissional esteja de plantão, deste modo, não precisará pagar custo adicional. Caso contrário, assim como em unidades públicas, terá de ser atendida pelo médico plantonista do hospital conveniado.

 

Estado não tem nenhum

Centro de Parto Normal

Já entre as instituições públicas, há índices próximos ao recomendado, como o Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí (66,4%), Maternidade Darcy Vargas, em Joinville (64,7%), e Hospital Universitário da UFSC, em Florianópolis (64,3%).

Para a coordenadora da Rede Cegonha em SC, Carmem Delziovo, a adesão do Estado ao programa federal que incentiva o parto humanizado é um dos fatores que explicam esse avanço. Atualmente, a Rede Cegonha atua em todos os municípios na capacitação da atenção básica para o pré-natal, além de ajudar no custeio de serviços dos maiores hospitais públicos do Estado.

– O aumento da discussão e do interesse das mulheres, que começaram a ler mais sobre o assunto, aliado ao movimento organizado no Estado pelas doulas [profissionais capacitadas para dar apoio às gestantes], têm feito a diferença. Tanto que fomos um dos primeiros Estados a aprovar a lei das doulas e contra a violência obstétrica – explica.

Apesar dos índices melhores, o atendimento público no Estado também ainda tem muito a avançar. Prova disso, está na implantação de Centros de Parto Normal (CPN), uma das ações da Rede Cegonha e que é apontada como saída para uma assistência de parto mais humanizada. Nesses locais, a mulher é acompanhada por enfermeiros obstetras em um ambiente preparado para o parto normal.

Atualmente, há 14 CPNs registrados pelo Ministério da Saúde e 16 em fase de implantação no país, sendo um deles em Itajaí, no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen. Porém, através de assessoria de imprensa, a direção diz que ainda não tem previsão para a habilitação nem para o início de funcionamento.

Para a coordenadora de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Maria Esther Vilela, apesar de Santa Catarina ter avanços em políticas públicas, ainda enfrenta muitas resistências para o avanço do parto normal.

– Em Santa Catarina a gente não tem nenhum CPN, ou seja, há uma resistência à mudança de modelo e à inclusão das enfermeiras obstétricas e obstetrizes. Eu acredito que o centro é a saída. Trata-se de uma unidade exclusivamente para partos de baixo risco, onde só tem enfermeiras obstétricas – explica.

Maria Esther diz que a implantação do CPN é um desafio, porque “é mudar a relação de poder entre médicos e enfermeiras”.

Para comprovar a eficiência do modelo, ela cita que nos países com bons indicadores de saúde materna são as enfermeiras obstétricas que realizam os partos de baixo risco, e não os médicos. Para implementar isso no Brasil, ela defende mudanças nas maternidades e no ensino da medicina, mas afirma que isso também passa pela cultura do país.

 

parto normal em hospitais públicos

Brasil

Em Santa Catarina:

2015

2014

2015

2016

ÍNDICES POR HOSPITAIS (2016)

DADOS PRELIMINARES ATÉ DEZEMBRO DE 2016 NOS HOSPITAIS QUE FAZEM PARTE DA REDE CEGONHA

PARTOS NORMAIS NA rede privada

Fonte: Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

 

Unimed Grande Florianópolis

 

2013

2014

2015

agemed

2013

2014

2015

brasil

2013

2014

2015

fique de olho nos direitos

Todas as gestantes devem ter apoio contínuo e individualizado durante o trabalho de parto

Uma mulher em trabalho de parto não deve ser deixada sozinha, exceto por curtos períodos de tempo ou por sua solicitação

Lei determina que mulheres tenham acompanhantes de sua escolha durante o trabalho de parto, não invalidando o apoio dado por pessoal de fora da rede social da mulher, como uma profissional contratada

Mulheres em trabalho de parto podem ingerir líquidos e, se não apresentarem fatores de risco iminente para anestesia geral, podem ingerir dieta leve

Os métodos naturais de alívio da dor, como mudança de posição, devem ser oferecidos à mulher antes da utilização de métodos farmacológicos

A mulher deve ser incentivada a adotar qualquer outra posição que ela achar mais confortável para o parto

A episiotomia (incisão efetuada na área muscular entre a vagina e o ânus para ampliar o canal de parto) só deve ser usada em casos especiais e sua indicação deve ser justificada

REPORTAGEM

Karine wenzel

fotografia

MARCO FAVERO

edição

MÔNICA JORGE

Edição de vídeo

léo cardoso