| 29/11/2007 05h46min
Para concorrer com o futebol europeu pelo mercado asiático, o Campeonato Brasileiro de 2008 deverá contar a cada domingo com pelo menos um jogo às 11h. O Clube dos 13 negocia a transmissão ao vivo para países como Arábia Saudita, Índia, China e Japão — atingindo até 400 milhões de telespectadores no horário nobre de lá. 
Ainda que o novo contrato injete milhões nos cofres dos clubes, jogadores da dupla Gre-Nal demonstram contrariedade com a brusca mudança de horário. O zagueiro William, do Grêmio, já disputou um campeonato inteiro pela manhã. Foi pela Francana, em 2002, na segunda divisão paulista. A pedido da própria comunidade, os jogos em casa aos domingos eram às 11h (o time até treinava nesse horário, para se adaptar). Depois, os torcedores iam direto para o almoço em família. 
— Era a nossa arma secreta, pois os adversários não estavam acostumados. Mas é algo desumano. É um horário péssimo. Nos obrigávamos a tentar dormir cedo para acordar às 7h. Isso não me 
surpreende: no Brasil, o 
jogador é sempre o último a ser consultado — lamenta William. 
O zagueiro salienta que a partida perde em qualidade. Com o forte sol do meio-dia, o segundo tempo é sempre disputado em ritmo lento: 
— O jogador acaba se desgastando mais, pois não está acostumado a comer muito pela manhã, e o gasto de energia é ainda maior. Imagine enfrentar o Vitória, em Salvador, com aquele calorão do meio-dia? 
Para o atacante Marcel, a adaptação não será fácil: 
— Só joguei nesse horário nos tempos de categoria de base. Precisa uma programação muito bem feita para o time ter um bom desempenho. 
No Beira-Rio, Fernandão mostrou-se bastante contrário à novidade: 
— É uma falta de respeito com o jogador. É pena que cada vez mais o dinheiro esteja mandando. Não vou nem citar o Nordeste. Em parte do ano, o calor de Porto Alegre chega fácil aos 40°C no meio-dia. Só marca futebol neste horário que nunca jogou. Nós, 
atletas, teremos que nos sacrificar. 
Magrão acredita que, em 
virtude do desgaste físico, os jogos das 11h não terão o mesmo nível dos demais: 
— No segundo tempo, depois do meio-dia, com o solzão lá em cima, o rendimento cairá muito. Mas nem adianta falar, pois nós, jogadores, somos os últimos a serem consultados. Nossa classe não tem união suficiente para reivindicar mudanças. 
Iarley preferiu um tom mais conciliador. Com a experiência de quem disputou partidas às 11h, na Espanha, e ao meio-dia, no México, ele entende que os atletas acabarão se adaptando ao horário. 
— É só uma questão de adaptação. Poderemos sentir cansaço na primeira ou na segunda semana, mas, depois, todos nos acostumaremos. 
Torcida 
Comprador assíduo do sistema pay-per-view, Evandro Koenig, engenheiro agrônomo de 44 anos, acha bom o novo horário: assistiria com a família durante o almoço. João Leonel Betencurt, 43, fiscal de tráfego, acha que seria "complicado" ir ao 
estádio. O estudante Ridan Souza, 20, vê o lado positivo e o negativo: 
— Talvez seja legal sair do estádio e ir almoçar. O problema vai ser voltar da praia mais cedo para ir ao jogo no domingo. 
Segurança 
Não há um estudo no futebol brasileiro sobre o comportamento das torcidas em jogos pela manhã. Mas é possível que o consumo de álcool em uma partida às 11h seja menor do que naquelas partidas à tarde ou à noite, o que facilitaria o trabalho da segurança dos clubes e da Brigada Militar. 
— O ambiente será outro. Acho que para os clubes este horário será ótimo — comenta o diretor de administração do Grêmio, Luiz Moreira. 
— Ainda que os jogos sejam pela manhã, manteremos o mesmo trabalho em grandes jogos. Vamos nos adaptar ao horário, sem facilitar na segurança — diz o coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante geral da Brigada Militar. 
Café da manhã será obrigatório 
Os profissionais dos departamentos 
físico, médico e nutricional terão uma série de novas preocupações. Os principais cuidados serão em 
relação à alimentação. Os jogadores que não têm o costume de tomar café pela manhã serão obrigados a consumir algo. E cedo: a refeição tem de ser feita entre três e quatro horas antes da partida. E aqueles que não gostam de ingerir alimentos sólidos? 
— Teremos de trabalhar com suplementos ou a maior ingestão de batidas e vitaminas — explica Lenice Carvalho, nutricionista do Inter. 
Durante o jogo, uma atenção especial será dada à hidratação. O desgaste do sol do meio-dia em locais de temperatura mais elevada pode até aumentar o risco de lesões. Como o futebol tem apenas um intervalo, o bom senso do árbitro será fundamental. 
— Uma parada extra é uma coisa totalmente viável — diz o preparador físico do Grêmio, Flávio Trevisan. 
Eduardo Silva, preparador do Inter, aponta que um ou outro treino semanal pode ser alterado para o horário da partida — uma busca pela melhor adaptação dos atletas. A mudança pode trazer até novas 
preocupações, como o uso de protetor solar para combater a 
exposição excessiva aos raios ultravioleta do sol. 
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