Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
mauro.vieira@zerohora.com.br
















As famílias gaúchas de agricultores estabelecidas na Argentina e os agropecuaristas argentinos se queixam de Cristina Fernández de Kirchner, presidente do país. A criação de impostos e as restrições à exportação de carnes e grãos, colocados em execução pela política agrícola governamental, estão causando um enorme dano ao meio rural. Nas províncias argentinas de Misiones, Entre Rios e Corrientes vive um contingente significativo de famílias de gaúchos e também de grandes empreendimentos agrícolas de grupos econômicos do Brasil. Em toda a região, a conversa é uma só. – Esperar para ver no que vai dar a política da Cristina – resume Dante Norberto Feistauer, 64 anos. A família dele migrou de Carazinho para Alvear e La Cruz na década de 40. É dona de uma grande plantação de arroz e de criação de gado na Argentina. Feistauer é líder de um grupo de agricultores gaúchos que vive no território argentino e tem tentado negociar com as autoridades para voltar a exportar a produção.



– O nosso drama é que só podemos vender para o mercado interno. Mas os argentinos não têm dinheiro para comprar. Mesmo que tivessem, não conseguiriam consumir toda a produção. Esse é o problema – descreve. A exemplo de outros gaúchos radicados na Argentina, até que o problema se resolva, Feistauer diminuiu a atividade econômica na propriedade rural de volta a Itaqui, no lado brasileiro do Rio Uruguai, e abriu uma sorveteria, um velho sonho. O seu medo é que a crise dure e, com isso, desvalorize o patrimônio construído a duras penas na Argentina.



Os pequenos proprietários que se estabeleceram em Misiones não estão voltando ao Brasil. Estão mandando seus filhos. Em janeiro, meio sem jeito, Arturo Golz, 51 anos, estava sentando à mesa, tomando um refrigerante na Estação Rodoviária de Porto Soberbo, comunidade rural na barranca do Rio Uruguai, ligada por uma balsa a El Soberbio, cidade em Misiones. Seus pais, Fernando e Lilian, migraram do Rio Grande do Sul para a Argentina nos anos 60 e hoje vivem em uma pequena propriedade rural. O constrangimento de Golz é causado pela sua situação econômica. Ele esperava um ônibus que o levaria para a região de Caxias do Sul, onde seus parentes tinham conseguido para ele um emprego de safrista na colheita da uva. – Vou trabalhar três meses, juntar um dinheiro e voltar – comentou Golz. Golz não é o único otimista. A crise não irá comprometer o futuro, acredita Pablo Rocha Marques, 23 anos, estudante de Medicina Veterinária na UFRGS, em Porto Alegre. A família Marques planta arroz e produz gado no lado argentino. – Apesar de tudo, produzir na Argentina é mais barato do que no Brasil.