Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
mauro.vieira@zerohora.com.br
















Vítimas do próprio sucesso. Ao tornarem-se prósperas, as famílias gaúchas que povoaram várias regiões no Uruguai, na Argentina e no Paraguai viraram, ao longo dos anos, alvo da cobiça de grupos políticos e econômicos nesses países. São comunidades que enfrentam, agora, uma fila de problemas, como a insegurança jurídica no Paraguai, a crise econômica na Argentina e o assédio de grandes grupos empresariais pelas glebas que desbravaram no Uruguai. Uma realidade que coloca em risco o futuro das famílias gaúchas instaladas além das fronteiras brasileiras. Há várias explicações para o momento vivenciado por essas comunidades. A mais popular é que, ao tornarem produtivas terras antes isoladas, acabaram integrando essas regiões à economia globalizada. Enquanto no Uruguai e na Argentina as famílias vindas do Rio Grande do Sul implantaram, com sucesso, lavouras de arroz irrigado, no Paraguai, cultivaram extensas plantações de soja. Em 1995, quando Zero Hora percorreu a região, muitas das comunidades não passavam de um amontoado de casebres. Hoje, são lugares tipicamente de classe média rural, que fazem parte do Brasil de Bombachas, uma vasta e rica região que se estende aos países vizinhos e às terras do oeste do território brasileiro povoadas pelos gaúchos. – A nossa estratégia tem sido mostrar aos paraguaios que não estamos aqui para encher os bolsos de dinheiro e depois voltar para nossa terra. Aqui, agora, é a nossa casa. Nossos filhos são paraguaios. Viemos para ficar – explica Francisco Antonio Mesomo, 62 anos, um dos pioneiros da construção de Santa Rita, uma importante cidade paraguaia erguida por famílias gaúchas no departamento do Alto Paraná. Não existe um número oficial de quantos gaúchos se estabeleceram nesses países, mas há centenas deles espalhados por dezenas de comunidades agrícolas. Nos últimos dois anos, porém, são vários os relatos de agricultores com origem no Estado que perderam suas propriedades no Paraguai e hoje moram em acampamentos de sem terra no Brasil. É o mesmo risco que se impõe sobre as comunidades que vivem em terras argentinas e uruguaias – serem expulsas da propriedade na qual trabalharam uma vida inteira. O medo de perder tudo é hoje hóspede na casa das famílias gaúchas que vivem nos países vizinhos.