Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
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Cidade da Região Amazônica com o clima mais parecido com o do sul do Brasil, Vilhena (RO) ganhou, na última década, o jeito dos municípios agrícolas em torno de Passo Fundo. Tudo gira ao redor da soja. As lavouras tomaram o lugar da criação de gado na década de 1990. Até 1995, quando Zero Hora conversou com os gaúchos da cidade, o cultivo da soja não era aconselhável devido aos altos custos do transporte. Em 1997, com a inauguração da Hidrovia do Rio Madeira, que liga, por uma extensão de 1,1 mil quilômetros, Porto Velho (RO) a Itacoatiara (AM), não só o plantio foi viabilizado em Vilhena, como também a cidade se tornou ponto de passagem de toda a produção de grãos do noroeste de Mato Grosso. – Por aqui, circulam 800 caminhões por dia. O número dobra na safra de soja – indica José Antonio de Macedo, fiscal aduaneiro. A cidade tem 75 mil moradores. Mas, todos os dias, chegam pessoas novas vinculadas ao comércio de soja, principalmente sulista, informa Ari Biazzi, dono de um bolicho à moda gaúcha que vende produtos do Rio Grande do Sul. O crescimento do número de clientes também é testemunhado por Ivanildo Araujo, presidente da Associação Comercial de Vilhena. O produtor gaúcho de soja que está se estabelecendo na região de Vilhena é diferente do conterrâneo que desbravou outras regiões. Ele traz ideias associativistas. Adair José Menegol, 31 anos, está dividindo a administração dos negócios com o pai, Vilson Antonio Menegol, 61 anos. Na sua opinião, o alastramento das lavouras de soja na região não deve significar o fim da pecuária, mas a modernização da criação de gado, o que significa ocupar um menor espaço para engordar a tropa usando tecnologia. – Com o desenvolvimento da agricultura, nós ampliamos as nossas necessidades de insumos, principalmente. Aqui, estamos longe dos grandes fornecedores que ficam no Sul e no Sudeste. Portanto, temos custos maiores – calcula.



A saída para o problema do custo, ele aponta, é trabalhar de maneira associada, formando cooperativas para comprar insumos. Acredita que seja possível, no futuro, aproveitar a abundância de grãos produzidos na região e montar uma fábrica de ração que seja controlada por uma cooperativa, como as que existem no Rio Grande do Sul. A intenção de Menegol é clara. Uma fábrica de ração viabilizaria a instalação na região de aviários e suínos. O que significaria uma possibilidade de atrair as grandes agroindústrias, que iria gerar centenas de empregos. A Hidrovia do Rio Madeira colocou Vilhena no mapa dos produtores de soja do Brasil. O lugar que irá ocupar vai depender da estratégia que será usada para solucionar os problemas da atividade, que não são poucos.