Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
mauro.vieira@zerohora.com.br















Gaúchos que semearam a soja e se perfilaram entre os grandes produtores do grão no mundo a cidade de Barreiras, no sul da Bahia, estão mudando para o ramo da prestação de serviços. A produção de grãos está migrando para municípios vizinhos, como Luís Eduardo Magalhães, que, até os anos 90, era apenas um povoado denominado de Mimoso. O lugar ficou conhecido no Brasil por ter o posto de combustíveis que mais vendia óleo diesel no país. Uma consequência da intensa exploração agrícola da região.



A transformação de Barreiras em uma cidade de prestação de serviços acontece a um ritmo acelerado. Em 1995, Zero Hora encontrou o agricultor Ademar Juliani, que morava em Barreiras e plantava 2,5 mil hectares de soja em Mimoso. Muito atento ao humor do mercado de grãos, na época ele usava tecnologia de ponta, como a irrigação, para aumentar seus lucros. Em 2002, Juliani deu uma guinada na sua vida, resolveu apostar no lazer e gastronomia. Descobriu que seus conterrâneos gaúchos estavam investindo em cavalos de raça para o lazer. E que a tão apreciada carne de carneiro estava sendo trazida do Sul para o churrasco da gauchada. – Arrendei os 2,5 mil hectares e investi na criação de cavalos crioulos e carneiros. Não me arrependo. Com o lucro, estou plantando abacaxi no litoral da Bahia, outro bom negócio – comenta. Em Barreiras, está instalado o escritório dos novos negócios de Juliani. Funciona no mesmo endereço onde era o da lavoura de soja. Na época, no escritório, acontecia um vaivém de mecânicos, agrônomos e vendedores. Hoje, apenas a secretária Shirley Xavier Miranda, em uma sala com música ambiente, cuida de tudo, usando a internet e o celular. Juliani vive viajando a negócios. Como ele, há vários outros gaúchos que mudaram de ramo por estarem atentos às novas possibilidades. Por exemplo: de 1970 a 2000, o número de habitantes na cidade cresceu a espantosa cifra de 531% – os primeiros a chegar foram os agricultores, depois vieram os homens de negócios. – Hoje, o ramo da hotelaria e de restaurantes é o novo eldorado – explica Franklin Canarim Melo. Melo cresceu ajudando nas lides da fazenda seu pai, Mario Luiz Fernando Melo, que migrou com a família de Soledade para Barreiras, nos anos 80. O jovem é casado com a engenheira Clarissa Hatsue Frantz . Os dois resolveram investir no ramo de restaurante e de outros pequenos negócios. Sua mãe, Sayonara, também desistiu da fazenda e comprou um hotel. Apenas o pai continua sendo agropecuarista. – A cidade está crescendo. Estão surgindo faculdades novas e indústrias, e muita gente está chegando por aqui. A hora é agora – aposta Sayonara.






Foi atraído pelas boas oportunidades de ganhos que o casal de médicos Humberto Takizawa Berner, neurocirurgião, e Yamara Gomes da Silva, neurologista infantil, deixaram uma situação economica estável, há um ano e meio, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para trabalhar em Barreiras. Berner lembra que, quando chegou à cidade, acostumado aos padrões do Sul, levou um "choque". Mas, logo depois, percebeu que as condições de trabalho eram melhores que as oferecidas no Sul. – E os nossos ganhos são justos – acrescenta. Yamara também acabou se envolvendo com o trabalho e esqueceu as diferenças entre o Sul e a Bahia.