Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
mauro.vieira@zerohora.com.br















No horizonte onde as plantações de soja, milho e algodão tomavam todo o espaço, até onde a vista alcançava, já podem ser vistos grandes aviários. A presença dessas instalações mostra que está acontecendo uma diversificação da produção com frangos, que poucos acreditavam que fosse se firmar em Lucas do Rio Verde e nas outras cidades povoadas por gaúchos no norte de Mato Grosso. A proliferação das chaminés das fábricas de beneficiamento de carne sinaliza o tamanho da aposta que está sendo feita.



– A diversificação com frangos ainda não se consolidou por ela mexer em uma questão cultural do modo de vida no Nortão – observa a agricultora e professora Luciane Bertinatto Copetti. Ela explica que a maioria dos agricultores da região tem a sua origem nas pequenas propriedades rurais gaúchas, onde a produção é extremamente diversificada: grãos, leite, suínos, frangos e tudo que der dinheiro. Isso significa, chama a atenção a professora, que a mão de obra familiar é intensamente ocupada. Ao se instalarem no Nortão, esses gaúchos se transformaram em grandes produtores de grãos e fibras, um perfil de trabalho completamente diferente, proporcionado pelo alto grau de mecanização da atividade e pela exigência da presença do produtor em apenas duas ocasiões: no plantio e na colheita. Isso significa maior tempo livre para o lazer. – Não é fácil abdicar desse estilo de vida. Sei disso pela minha própria experiência – testemunha. Luciane é casada com Wilson Copetti, e o casal tem dois filhos: Jean, 23 anos, e Eduardo, 16. A família é dona de uma fazenda de 1,2 mil hectares, a 60 quilômetros da área central de Lucas do Rio Verde. Há dois anos, foram instalados oito aviários na propriedade, cada um com a capacidade de produzir 25 mil frangos por semestre. Desde então, o estilo de vida dos Copetti mudou. Os filhos acabaram se mudando para a fazenda. – Agora, todo dia é segunda-feira – brinca Jean. Não foi um sonho romântico que levou a família Copetti a diversificar. Foi a possibilidade de ganhar mais dinheiro. Esse é o atrativo que está impulsionando os projetos de diversificação no Nortão, aposta o prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino José Franz, que é gaúcho. – Quando as nossas famílias vieram lá do Rio Grande do Sul para cá, eram semterra e sem- dinheiro. Em pouco mais de três décadas, construímos uma das mais ricas comunidades do interior do Brasil. Portanto, temos a capacidade, o dinheiro e a oportunidade de agregar mais ganhos a nossa atividade. O resto é trabalho – aposta.




Além do frango, há projetos grandiosos sendo colocados em prática na produção de leite e de suínos. A presença das agroindústrias está acelerando a urbanização da região. A soma de tudo isso significa a criação de mais empregos. – No momento, nossa maior necessidade é a falta de operários. Temos discutido várias opções para resolver o problema. Uma delas é fazer um programa arrojado de atração de trabalhadores nordestinos – revela. Outra possibilidade que vem sendo debatida é a de trazer trabalhadores dos países vizinhos, Bolívia e Peru. O surgimento de novos empreendimentos de diversificação em outras cidades da região deve agravar ainda mais o problema de falta de mão de obra, como em Sapezal, cidade onde grandes grupos empresariais de grãos – como Maggi, Bom Futuro e outros – e a implantação da suinocultura e da avicultura andam a passos largos, explica Antonio Vefago, empresário e líder comunitária na cidade. Essa é a realidade em 2011.