Falta de cuidados com imóveis como este, na Rua São Paulo, gera insegurança a vizinhos e pedestres

Reféns da ação

Falta de incentivos para preservação e descaso dos proprietários de casarões antigos em Blumenau levam residências à decadência conforme levantamento feito pelo Santa

do tempo

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o portão, cadeados e grades enferrujadas são os primeiros sinais do abandono. Além dos vidros que faltam nas janelas e telhas que desabam quase todos os dias, o segundo piso do imóvel localizado no número 373 da Rua São Paulo apresenta rachaduras e a parede da parte dos fundos do imóvel está inclinada. A situação da residência preocupa vizinhos e pessoas que circulam pela região. Assim como a casa de alvenaria, ao menos sete imóveis mapeados pelo Santa nas últimas quatro semanas chamam a atenção sobre a dificuldade que as políticas públicas enfrentam para estimular a preservação do patrimônio histórico da cidade.

 

Fazem parte da lista imóveis particulares ou públicos que não são tombados ou que estão em processo de tombamento. Alguns são de interesse cultural para a Secretaria de Planejamento, outros nem isso. Para o secretário responsável pela pasta e presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural Edificado (Cope), Juliano Gonçalves, o desafio de manter os imóveis conservados na cidade passa pelo desenvolvimento de uma política que estimule os proprietários:

 

- Temos que criar um mecanismo de maior atratividade para o dono do imóvel. A questão é como desenvolver uma contrapartida real para que a pessoa preserve. O proprietário precisa ter incentivo para que a comunidade desfrute do patrimônio privado.

 

Gonçalves reconhece que quando o imóvel é tombado ou possui interesse cultural, cria restrições a construções também em seu entorno. O desafio do poder público é desenvolver mecanismos que possibilitem o restauro do patrimônio privado para que a comunidade usufrua do bem.

 

- Todos os órgãos que atuam na preservação do patrimônio atuam de forma coercitiva e impõem restrições e obrigações ao proprietário. O que temos que criar são questões mais atrativas - avalia.

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Situação do imóvel causa preocupação

 

esmo não sendo tombados pelo patrimônio histórico e cultural da cidade, os imóveis - alguns erguidos no início do século 20 - também contam a história das famílias que ajudaram a fundar Blumenau. No entanto, as ruínas começam a tomar conta de muitos casarões e o tempo mostra a sua ação. Em alguns casos, partes dos telhados não existem mais e as paredes, encharcadas de infiltrações, começam a ruir. O empresário Heitor Fischer, 52 anos, reside ao lado do imóvel localizado na Rua São Paulo há oito anos e conta que sua casa foi assaltada recentemente. De acordo com ele, o principal suspeito é um homem que ocupava a parte dos fundos da casa abandonada. O imóvel foi invadido pelo segundo piso, através do vão do ar-condicionado e foram levados televisor, notebook e outros itens. Segundo o morador, o prejuízo total foi de cerca de R$ 10 mil.

 

- Na época registramos a ocorrência na delegacia, mas minha preocupação também é que a casa caia - afirmou.

 

A residência não é tombada e está desocupada desde o ano passado após a morte da inquilina, que mantinha uma pensão no local. Após receber o imóvel, a proprietária, Denise Ramos Eltermann, o colocou à venda por R$ 340 mil. Conforme o site da imobiliária, a área possui 297 metros quadrados e o imóvel tem três quartos, uma sala e uma cozinha.

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Potencial cultural é deixado em segundo plano

 

s construções antigas contam muito sobre a história de uma comunidade, mas quando um imóvel histórico começa a ruir, parte das memórias de um povo também vai junto. O potencial cultural de cada construção é deixado em segundo plano pelos herdeiros, que muitas vezes não possuem condições financeiras ou interesse de recuperar o imóvel. Essa é a avaliação da historiadora Sueli Petry, que acredita que aspectos econômicos pesam muito mais no momento de decidir entre a venda ou conservação dos imóveis.

 

- A questão está na mão dos herdeiros, que deixam o prédio entrar nesse estágio para depois vender. Quando falamos em patrimônio histórico não podemos esquecer que a lei existe e muitas vezes os proprietários esquecem os benefícios que ela concede - disse Sueli, diretora do Departamento Histórico-Museológico de Blumenau.

 

Ela questiona quais são as referências arquitetônicas que Blumenau cultivou no decorrer de seus 165 anos. Para a historiadora, o casarão onde morou o ex-prefeito de Blumenau, Alwin Schrader, e hoje abriga a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, é um exemplo de sucesso no qual o imóvel histórico foi restaurado e hoje desempenha função social na cidade.

 

- A Europa sobrevive pelo seu potencial de grandes casarões e monumentos que são utilizados para várias funções. Em Blumenau, ainda não temos essa sensibilidade. É uma questão de mentalidade - finaliza.

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