40 ANOS DO TABULEIRO

AS ÁGUAS O MANEJO O DESCOBRIDOR
O CRIADOR
O

padre Raulino Reitz, principal idealizador Parque da Serra do Tabuleiro e da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), era um católico darwinista. A definição é da sua sobrinha-neta, Beloni Paulo Merterer. Mesmo após o reconhecimento como expoente de estudos botânicos em Santa Catarina, ele nunca deixou de realizar missas em Antônio Carlos, sua terra natal. Foi assim que a dualidade entre ciência e religião conviveram com o padre ao longo dos seus 71 anos em sintonia. Reitz se dedicou ao catecismo e chegou a lecionar no Seminário de Azambuja, em Brusque, mas conseguiu um lugar na história através dos estudos botânicos.

Além de fazer parte de um gigantesco acervo da flora catarinense, é dele a responsabilidade dos estudos e argumentos que justificaram a criação do Parque do Tabuleiro, além da base teórica para elaborar outras reservas e a própria Fatma, órgão que ele presidiu e ajudou a fundar.

- Foi uma pessoa muito dedicada e inspiradora, e isso estimulou outras pessoas ao redor a trabalhar pelo meio ambiente numa época em que isso não era um tema comum. Se Santa Catarina ainda possui muitas florestas preservadas, com certeza o trabalho do padre Raulino tem uma grande participação - afirma Beloni.

Nascido em 1919, Raulino fez os estudos primários e ginasial no Seminário de Azambuja, em Brusque, onde ficou até 1937, quando cursou Filosofia e Teologia no Seminário Central de São Leopoldo. Foi onde conheceu o padre e botânico Balduíno Rambo. Esses detalhes estarão no livro Histórias de Padres de Santa Catarina, do sacerdote Artulino João Besen, que deve ser lançado ainda em 2015.

-  Quando estava no segundo ano de Filosofia, começou a coletar plantas que depois passariam a integrar o acervo do Herbário Barbosa Rodrigues. O padre Raulino, pela simplicidade e dedicação, foi um exemplo para a ciência e também para a Igreja - conta padre Besen, ex-aluno e amigo do padre Raulino.

Foram mais de 28 mil espécies de plantas catalogadas, sendo 350 descobertas, em meio século de carreira botânica. O padre Raulino Reitz faleceu em 19 de novembro de 1990, após um mal súbito durante uma cerimônia de homenagem a ele na Câmara de Vereadores de Itajaí. Foi sepultado em um jardim ao lado da Igreja Matriz de Antônio Carlos. A espécie? Bromélias, sua planta favorita.

Os dois irmãos mais velhos, Afonso e João, também foram padres. A escolha pela batina acabou sendo natural, assim como o amor pelas plantas. Chegou a escrever um livro sobre a saga da família Reitz da cidade alemã de Hirschfeld até a então região do Alto Biguaçu, hoje município de Antônio Carlos, em meados do século 19.

- Ele tinha muito orgulho de falar que o avô Johann Adam Reitz já plantava Ingá como estratégia de manejo para recuperar o solo de outras culturas. Isso inclusive está na capa do livro sobre a nossa família, que o padre Raulino publicou em 1963 - lembra Beloni.

"Se Santa Catarina ainda possui muitas florestas preservadas, com certeza o trabalho do padre Raulino tem uma grande participação"

Beloni Paulo Merterer, sobrinha-neta de Raulino

"Raulino coletou plantas que depois passaram a integrar o acervo do Herbário Barbosa Rodrigues"

Padre João Besen

A CARTA Após mais de 20 anos pesquisando a flora catarinense, o padre botânico Raulino Reitz produziu um documento (veja acima) de 11 páginas explicando os motivos para criação do Parque do Tabuleiro. No texto datilografado por Reitz no começo dos anos 1970 já é possível observar a preocupação do padre com a preservação dos mananciais, já sob risco do avanço da ocupação urbana e da agricultura. Além disso, ele destaca a diversidade da fauna e da flora na região, mencionando inclusive a barreira fitogeográfica formada devido ao relevo montanhoso próximo ao litoral. Após muita insistência e estudos, em 1975 era criada maior unidade de conservação de Santa Catarina, com cerca de 1% do território do Estado.
MAIS DE 100 ESPÉCIES

oram mais de 100 espécies de plantas batizadas com o nome do padre Raulino Reitz. Além disso, ainda em vida, juntamente com o ecologista Roberto Klein, recebeu o prêmio Global 500 da ONU em 1990, dedicado a pesquisadores que defendem a preservação do meio ambiente no mundo. Mesmo após sua morte, Reitz continuou sendo lembrado, seja por outros botânicos, que batizaram espécies com a terminologia Reitzii para homenagear o mestre.

Uma delas está a caminho de se tornar unidade de conservação. O Refúgio Estadual de Vida Silvestre Raulinoa está em fase avançada de estudos e no próximo ano deve ser efetivada como a primeira reserva ambiental criada especificamente para preservar uma espécie: o arbusto Raulinoa echinata Cowan, planta conhecida popularmente como cutia-de-espinhos. Espécie rara, só pode ser encontrada em Santa Catarina, às margens do rio Itajaí-Açu, entre Lontras e Indaial. Estudos farmacológicos indicam que a espécie tem potencial para ser utilizada no tratamento da Doença de Chagas.

- As homenagens expostas em trabalhos científicos e estudos sobre botânica deixando claro qual é o principal legado do padre Raulino, que é maior do que unidades de conservação, o acervo científico, que está praticamente completo no Herbário Barbosa Rodrigues, em Itajaí - comenta Beloni Pauli Marterer.

F BATIZADAS
O parque em imagens

Veja galeria de fotos do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

 

O MANEJO REPORTAGEM HYURY POTTER - EDIÇÃO RAQUEL VIEIRA FOTOS FELIPE CARNEIRO - DESIGN RONALD BAPTISTA - ILUSTRAÇÕES BEN AMI ESCOPINHO