em florianópolis, 44% dos eleitores têm ensino superior completo. isso não impediu que a cidade elegesse essa câmara de vereadores,
que teve 10 denunciados na ave de rapina.

 

jacques mick,

Professor do departamento de Ciência e

Sociologia Política da UFSC

 

atacar é uma estratégia a ser avaliada. pesquisas apontam que o eleitor não gosta de candidato que agride o outro, mas reclama que a campanha deste ano está sem graça.

 

boni thiesen,

Jornalista, atua com comunicação
política desde 1986

 

as regras de financiamento mudaram e o volume de dinheiro disponível para campanha reduziu bastante. na prática, candidatos mais ricos e conhecidos dos eleitores aparentemente foram favorecidos.

 

tiago borges,

Doutor pela USP e professor do departamento

de Ciência e Sociologia Política da UFSC

 

o que influencia a decisão do voto de

5 milhões de pessoas que vão às urnas

escolher prefeitos e vereadores neste

domingo em Santa Catarina

QUEM SOMOS

Repórteres

Lariane Cagnini

Claudine Nunes

Emerson Gasperin

Editora

Julia Pitthan

Larissa Guerra

Editor de fotografia

Ricardo Wolffenbüttel

Designer

Fabiano Peres

Editora de design e arte

Aline Fialho

Editora assistente de design e arte

Maiara Santos

EDIÇÕES ANTERIORES

Para outras edições, acesse o site do Nós.

ma sala ampla e iluminada aparece na tela. Um sujeito sorridente, de cabelo penteado, camisa clara e colarinho confortável começa a falar. Pausadamente, afirma saber que não existe passe de mágica para resolver os problemas da cidade. Diz que os desafios são muitos, mas está disposto a arregaçar as mangas e trabalhar.

Promete ampliar as vagas nas creches e garantir educação de qualidade. Sabe o quanto é difícil para as famílias procurar escola para as crianças e não encontrar. Se compadece com quem acorda cedo em busca de médico no posto de saúde e volta para casa sem atendimento. No trânsito e na mobilidade urbana, também admite que é preciso avançar. Planejamento, soluções integradas e, principalmente, investimento em transporte público são as soluções. E, claro, sem deixar de lado os projetos de pavimentação: chega de pó e lama nas ruas.

Neste momento, imagens mostram a cidade do alto. O mar, o rio, as árvores, as ruas movimentadas. Crianças chegando às escolas. Trabalhadores contentes com um dia de serviço duro e recompensador. O sujeito caminha no meio do povo e recebe fortes apertos de mão. As bandeiras tremulam e a música toca mais alto.

O candidato e o discurso são fictícios. Mas a cena, não. Nas televisões das principais cidades catarinenses, as fórmulas de marketing para vender os candidatos costumam se repetir. Em linhas gerais, os publicitários afirmam que pega bem mostrar a história de alguém que veio de baixo, venceu algumas batalhas, perdeu outras, mas não desistiu e trabalhou duro para chegar onde está. Ou seja, apresentar um personagem que é gente como a gente.

Mas em um período de instabilidade no país – com Operação Lava-Jato, impeachment, Fora Temer e polarização de opiniões – será que essa conversa cola? O ano é de aparente desconfiança com a política e os políticos. Estariam os eleitores mais criteriosos? O que as quase 5 milhões de pessoas que vão às urnas neste domingo em Santa Catarina levam em conta na hora de escolher um candidato? Pesquisadores, publicitários, vitoriosos e derrotados arriscam palpites, mas a verdade é que não há uma resposta única para a pergunta: afinal, o que define o voto do catarinense?

A ciência política se debruça sobre o tema há décadas. Pela vertente sociológica, a decisão do voto é atrelada ao grupo social dos eleitores e dos partidos identificados com eles. A partir desse ponto de vista, o poder aquisitivo e outros traços sociais, como a religião, ajudam a determinar a opção política e, portanto, influenciam na escolha eleitoral.

Do ponto de vista da psicologia social, é a identificação de partido que determina o voto. Baseada na experiência americana, em que democratas e republicanos representam as principais forças partidárias há séculos, essa corrente identifica a escolha eleitoral como parte da socialização do indivíduo. Nesse aspecto, pesa-se o modo como a política é apreendida. Assim, filhos e netos de republicanos teriam tendência maior a votar alinhados com o que aprenderam com pais e avós, por exemplo.

Além disso, a teoria se debruça sobre a análise da sofisticação política. Sob essa ótica, escolaridade e acesso à informação são considerados. Os vínculos afetivos são determinantes para alguns sujeitos. Para outros, a decisão envolve um sistema ideológico de crenças mais estruturado.

No Brasil, o cientista político e professor do departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC Yan de Souza Carreirão realizou um estudo sobre o voto do brasileiro nas eleições presidenciais. O trabalho, publicado em livro em 2002, parte da intenção de desconstruir a ideia que o eleitor médio do país usa a emoção ou a intuição para escolher o candidato e que prefere a pessoa, não o partido.

Carreirão rechaça essa informação e propõe uma análise da decisão do voto que considera outras variáveis, como a escolaridade. Nesse ponto, a situação econômica do país tem uma influência importante. O cidadão faria uma espécie de cálculo para avaliar esse desempenho do governo e a influência no seu bem-estar. “Mas se quisermos pensar na maioria do eleitorado ou em um eleitor brasileiro mediano, parece claro que realmente não temos um eleitor altamente informado e que vota ideologicamente no partido cujas posições políticas mais se aproximem das suas; apenas uma pequena minoria, concentrada especialmente entre os eleitores de maior escolaridade, comporta-se dessa forma. De outro lado, um eleitor irracional, que votaria segundo critérios altamente subjetivos, como emoção ou intuição, parece ser minoritário no país. A maioria dos eleitores parece se apoiar, ao decidir o voto para presidente, em um conjunto variado de informações e pistas”, escreve o cientista.

Se escolaridade é algo determinante para um bom voto? Bem, qualidade, em se tratando de política, é algo absolutamente relativo. Tendemos a avaliar melhor aqueles que pensam de forma parecida conosco e, portanto, votam da mesma maneira. É inegável que com mais tempo de educação formal, o cidadão tem mais acesso à informação e, portanto, melhores condições de avaliar racionalmente as opções eleitorais que lhe são oferecidas. Mas isso nem sempre se traduz nas escolhas mais acertadas, pondera o jornalista e professor do departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC Jacques Mick:

– Em Florianópolis, por exemplo, 44% dos eleitores têm ensino superior completo. Isso não impediu, no entanto, que a cidade elegesse essa Câmara de Vereadores que teve 10 parlamentares denunciados na Ave de Rapina.

O pesquisador refere-se ao suposto esquema de pagamento de propina articulado dentro da Câmara de Vereadores para impedir a alteração da lei Cidade Limpa e favorecer o setor de mídia externa na Capital. O Ministério Público ofereceu denúncia contra 10 vereadores envolvidos no esquema e 17 empresários no começo do mês. Todos os parlamentares concorrem à reeleição neste domingo. Resta saber se o eleitorado florianopolitano vai usar as informações disponíveis para tomar a melhor decisão com relação ao próprio voto.

 

U

claudine nunes

 lariane cagnini

emerson gasperin

júlia pitthan

larissa guerra

ara quem acumula milhagem em votações catarinenses, é fato que o eleitor está mais criterioso do que nunca, desconfiado e pouco suscetível a artimanhas retóricas. Nas três principais cidades do Estado – Florianópolis, Joinville e Blumenau – as más avaliações de gestão tornaram a reeleição um desafio. Além de Cesar Souza Júnior (PSD), que desembarcou da candidatura em Florianópolis, Udo Döhler (PMDB), em Joinville, e Napoleão Bernardes (PSDB), em Blumenau, enfrentam dificuldades em se manter à frente do Executivo por mais um mandato. A situação não é restrita aos catarinenses: em janeiro, o Ibope foi a campo e descobriu que apenas 22% dos brasileiros pretendem reeleger seus prefeitos. Outros 40% dizem que vão de oposição.

O publicitário Wilfredo Gomes, 47 anos, tem no currículo uma dezena de campanhas políticas em Santa Catarina. Entre as de notório sucesso, assinou as empreitadas de Luiz Henrique da Silveira – da prefeitura de Joinville, em 1996 e 2000, ao Senado, em 2010. No Estado, conduziu a virada histórica que levou o peemedebista à Casa D’Agronômica em 2002, seguida da primeira reeleição da história catarinense, em 2006. Apesar da longa relação com o PMDB (além de LHS, atendeu a campanha de Michel Temer na disputa à presidência do partido, por exemplo, e fez outras campanhas nacionais da sigla), afirma que não tem vinculação partidária.

– Sempre escolhi trabalhar com as pessoas. Para a política, sigo o mesmo princípio de qualquer outra campanha. Preciso acreditar no que estou vendendo – afirma.

 Na eleição deste ano, não está atendendo nenhum candidato. Mas a experiência acumulada permite avaliar o cenário. Para Gomes, cada eleição reflete o momento político que o país está vivendo. Uma estratégia que funcionou para um mesmo candidato anos atrás pode não ser vitoriosa agora.

– Em 2002, o espírito era de mudança. Esse era o tom de todas as campanhas até em função do avanço do Lula, que trazia ares de renovação. Hoje, o cenário é completamente diferente. Os eleitores afirmam que querem nomes novos, não estão engolindo o discurso da velha política – diz.

Lia Cristina de Oliveira, 37 anos, é estudante de Gastronomia e auxiliar de cozinha. Todos os dias,  sacode o filho mais novo às 6h40min. Deixa-o na escola do bairro Progresso, onde vive em Blumenau, e segue com seu Santana prateado até a faculdade, distante 12 quilômetros de casa.  Às 16h, começa o expediente no restaurante em que trabalha, um bistrô na Alameda Rio Branco, uma das regiões mais nobres da cidade. Num intervalo, por volta das 21h de uma terça-feira, olha com seus olhos esverdeados cheios de convicção e dispara:

– Não vou votar em ninguém neste ano.

Desesperançosa diante de tantas promessas, santinhos e pedidos de voto, Lia não vê diferença entre os candidatos a prefeito e desconfia das intenções do que disputam uma vaga na Câmara de Vereadores. Entre os motivos, vê falta de vontade dos políticos em trabalhar, de fato, para as pessoas – como os marqueteiros adoram colocar nos discursos. Lembra de projetos que nunca saíram do papel, fala de agentes atuando em causa própria ou para os mais endinheirados e do descrédito diante do momento em que o Brasil vive.

– Sempre fiz questão de escolher um candidato, achava feio votar em branco. Mas neste ano eu vi o horário eleitoral, conversei com alguns amigos, com a minha família, e não consigo achar que os nomes que estão aí vão fazer, de fato, algo pela cidade, pelos bairros. É sempre a mesma ladainha e eu não consigo acreditar que as coisas vão mudar – argumenta, antes de vestir novamente o avental e retornar para a cozinha.

Lia se considera de esquerda. Já votou no PT, no PSDB, acha que é importante observar o partido, mas as propostas do candidato pesam mais. Na sua família, o que chama a atenção é o histórico do candidato e se ele inspira um mínimo de credibilidade quando fala.

Wilfredo Gomes identifica também que os eleitores buscam mais do que palavras vazias e promessas quando assistem à campanha na TV. Querem alguém cuja trajetória reflita essa capacidade de realização:

– Os eleitores preferem alguém que tenha posições claras e que tenha realizado algo consistente, seja na iniciativa privada ou em cargos públicos. Querem um rosto novo com história.

Para ele, isso é o que, em parte, justifica a ascensão de João Dória (PSDB) em São Paulo. O empresário de 58 anos partiu de 5% das intenções de voto em pesquisa do Datafolha e chegou a 25% na sondagem mais recente. Para publicitários e especialistas em marketing, a comunicação foi aliada do tucano nessa trajetória. A imagem de playboy e coxinha teria sido desconstruída a partir do relato da história de vida na televisão – um baiano, cujo pai foi exilado político no exterior e que construiu o patrimônio com trabalho. É verdade, o marketing foi um aliado. Mas ao lado disso, é preciso levar em conta também a força do PSDB em seu ninho: os tucanos nunca têm resultados inexpressivos na capital paulista.

e há consenso que o eleitor catarinense busca alguém com experiência comprovada – em pesquisa realizada pelo Instituto Mapa, 26,9% dos catarinenses querem alguém que já tenha exercido algum cargo e 24,3%, que seja um político bem experiente – e que valoriza quem não tenha o nome envolvido em escândalos de corrupção, o comportamento do candidato durante o processo eleitoral já não tem a mesma unanimidade. Há quem diga que agressões e ataques pessoais, em geral, são repelidos. Para outros, em alguns momentos, elevar o tom na campanha é necessário.

O jornalista Boni Thiesen tem 65 anos e, desde 1986, atua no ramo da comunicação política. Nesta disputa, atua como coordenador de comunicação da campanha de Angela Amin (PP) em Florianópolis. O primeiro trabalho foi para Vilson Kleinubing (PFL, hoje DEM) na corrida ao governo do Estado, vencida por Pedro Ivo (PMDB). De lá para cá, já trabalhou em dez campanhas – desde 1996, sempre para a família Amin: para a candidata a prefeita, Esperidião ou o filho deles, o deputado estadual João.

– Atacar é uma estratégia a ser avaliada. Pesquisas apontam que o eleitor não gosta de candidato que agride o outro, mas reclama que a campanha deste ano está sem graça.

Em Santa Catarina, as disputas costumam ganhar tons mais belicosos conforme se acirram. Em Joinville, o tom subiu no debate realizado pela RBS TV entre os candidatos à prefeitura na última quinta-feira. Marco Tebaldi (PSDB) pediu que o candidato Doutor Xuxo (PP) contasse sobre a ação na Justiça contra Döhler (PMDB), o atual prefeito. Xuxo leu parte da ação e afirmou que existem dois crimes cometidos pelo peemedebista, mas que ainda depende do que dirá o juiz. Tebaldi usou o tempo de réplica para contar que houve o impulsionamento de uma mensagem contra ele nos celulares de eleitores joinvilenses. O tucano afirmou que protocolou uma denúncia na Polícia Federal para descobrir qual candidato foi o autor da mensagem. Na saída, integrantes das equipes de Döhler e Xuxo teriam entrado em conflito.

Em Criciúma, os eleitores vivem uma situação atípica – que acabou tornando-se um cenário fértil para judicialização e ataques. No início da campanha eleitoral, a coligação liderada pelo atual prefeito Márcio Búrigo (PP) entrou com pedido de impugnação da candidatura de Clésio Salvaro (PSDB), prefeito em 2008, que foi cassado e punido com a perda dos direitos políticos. Enquanto o processo aguardava julgamento, um candidato a vereador da coligação de Salvaro encaminhou pedido de cassação de Búrigo, que ainda tramita na Justiça. No início dessa semana, o TRE confirmou o registro da candidatura de Salvaro e ele participa do pleito normalmente.

A menos de 20 dias das eleições, Cleiton Salvaro (PSB), primo de Clésio, que também concorreria à prefeitura, abriu mão da candidatura e deixou os eleitores – e a vice Tati Teixeira (PSD) – sem candidato a prefeito. Diante do novo cenário eleitoral na cidade, quem iria confiar o voto à coligação Paz para Criciúma passou a analisar outras possibilidades para definir em quem votar.

Quando foi eleito deputado estadual em 2014, Cleiton conquistou 14.986 votos, e uma pequena parcela deles veio da família e amigos da comerciante Denise Bezerra Jaber, de 48 anos. No páreo para o Executivo municipal, o candidato mais uma vez recebeu a confiança de Denise, que, mesmo com algumas dúvidas em relação à coligação, pretendia votar nele.

– Essa foi a eleição que mais foi assim, Justiça, acusação. No meu círculo de relacionamentos, estou vendo que muita gente vai definir no dia, como eu. Jamais vou votar em branco, pois estou dando para outro a chance de decidir. Eleição é igual a reunião de condomínio. Se você não foi, não participou porque é chato, precisa aceitar o que foi decidido – diz.

Ao lado do marido e dos dois filhos, de 22 e 24 anos, o assunto política é conversa habitual. Enquanto em outras eleições Denise chegava a desligar a televisão para não acompanhar a propaganda eleitoral, dessa vez ela aproveita os poucos minutos para analisar os candidatos. A postura mudou, e votar a pedido de amigo ou por indicação de parentes, também não funciona mais.

– Nessa eleição vai ser bem diferente. Acho que com tudo o que aconteceu (na política do país), a gente viu o funil apertar mesmo. Tu começas a criar uma consciência de que não adianta votar porque todo mundo da família vota. Se o cara não apresentou nada, não adiantou elegê-lo – reflete.

Moradora de Criciúma há 40 anos, ela não se recorda de nenhuma eleição com tantos recursos na Justiça, acusações e com desistência de candidato. Com ensino superior completo, leitora assídua e usuária de redes sociais, Denise tenta se manter bem informada sobre o que acontece na cidade. Dos 141,6 mil eleitores de Criciúma, pelo menos 6,3% ainda não sabem em quem irão votar segundo pesquisa do IPC, contratada pela rádio Som Maior.

 e a renovação deu a tônica do início da campanha eleitoral, o interesse por novidades parece ter se perdido pelo meio do caminho. Às vésperas da votação, são os velhos conhecidos dos catarinenses que estão com mais chances de conquistar o mandato ou chegar ao segundo turno. Dos 33 candidatos que disputam as prefeituras nas sete principais cidades de Santa Catarina, 20 deles – ou 60% do total – já foram eleitos para prefeito, vice, vereador, deputado estadual ou federal na última década.

– É justo o interesse dos eleitores pelo novo, mas na prática o sistema político se renova de forma mais lenta do que a sociedade civil avança. Na prática, vir de uma família de políticos e ter ocupado cargo eletivo ajudam a garantir vitória – avalia Jacques Mick, da UFSC.

Ele coordenou uma pesquisa com vereadores em Santa Catarina feita pela UFSC e pela Escola do Legislativo, da Alesc, em 2014, que constatou que 75% dos eleitos vinham de famílias de políticos, já tinham sido eleitos anteriormente ou haviam exercido cargos públicos não eletivos.

A mudança na legislação eleitoral, que impediu a doação de empresas, tempo mais curto de campanha e o efeito das investigações sobre caixa dois também tiveram interferência.

– As regras  de financiamento mudaram. A gente ainda não sabe ao certo qual será o reflexo disso, mas o volume de dinheiro para campanha reduziu bastante. Na prática, candidatos mais ricos, dispostos a colocar o patrimônio pessoal para pagar as contas, e mais conhecidos dos eleitores aparentemente foram favorecidos – diz Tiago Borges,  doutor pela USP e professor do departamento de Ciência e Sociologia Política da UFSC.

Também por conta disso reforçar o histórico de candidatos que já são conhecidos dos eleitores tem se mostrado acertado. O publicitário Daniel Araújo, 52 anos, estreou no marketing político em 2012, com a campanha vitoriosa de Udo Döhler (PMDB) à prefeitura de Joinville. A indústria têxtil da família do candidato já era cliente da agência, daí o convite.

Nesta eleição de 2016, ele chegou a ser indicado para trabalhar com Gean Loureiro (PMDB) em Florianópolis. Não fechou negócio por causa da redução do orçamento da campanha. A V2, agência que criou em parceria com Bernardo Lopes, da BZZ, porém, não ficou de fora: o sócio acabou assumindo a campanha na Capital. E Araújo foi para Itajaí, trabalhar com o também peemedebista Volnei Morastoni.

No início da campanha, o candidato estava com alta rejeição em Itajaí. Araújo atribui o alto índice a mentiras:

– Diziam até que na enchente de 2008, ele, que era prefeito na época, tinha fugido da cidade.

Hoje, segundo o publicitário, a fatia do eleitorado itajaiense que diz não votar de jeito nenhum no peemedebista caiu sensivelmente. Para reverter esse cenário, Araújo conta que ressaltou a experiência de Morastoni, ex-deputado por quatro mandatos, ex-prefeito e ex-vereador.

– Quando há uma rejeição grande, tem que se trabalhar os pontos fortes dele, mostrar que não existem motivos para essa rejeição.

Além disso, tratou de responder os ataques sofridos pelo candidato. A história da enchente, por exemplo, foi rebatida com imagens do candidato ajudando as pessoas na época do desastre.

Para os estudiosos, a comunicação e o marketing podem influenciar eleitores indecisos, mas não alteram completamente o cenário.

– A campanha dificilmente vai te oferecer uma nova visão sobre um candidato, mas enfatizar temas conhecidos. Se o governo é muito mal avaliado,  é dífícil reverter isso com comunicação. O político que faz um mal governo costuma ser punido – diz Borges, da UFSC.

Determinante ou não, a comunicação influi. O aposentado Nelson Cidral, de 69 anos, diz que já definiu o voto para prefeito, em Joinville. Mas vai usar a reta final da campanha para escolher o vereador:

– No dia da eleição vou decidir. Tenho ideia de uma pessoa, vou olhar propaganda em carro ou, se encontrar o santinho, também posso ver o número ali. Acho que está havendo menos divulgação nesta campanha, até nos carros tem menos propaganda. O ponto positivo é que a cidade não fica suja.

Apesar da indefinição às vésperas do pleito, Cidral tem memória perfeita sobre o voto na eleição passada:

– Em 2012, votei em mim mesmo. Fui candidato a vereador pelo PMDB – arremata. Ele teve 194 votos em Joinville.

P

S

S

Papel aceita tudo

As urnas eletrônicas acabaram com um dos mais tradicionais esportes da democracia brasileira: o voto-zoeira. Para anular o voto na cédula de papel, o eleitor dava asas à imaginação e fazia a festa dos responsáveis pela apuração. Valia tudo, desde cravar o nome de algum desafeto até lembrar de ídolos como Raul Seixas ou John Lennon. Mas dois casos entraram para a história, tanto pelo caráter inusitado quanto pelos “candidatos” que acabaram “elegendo”:

Cacareco

Para mostrar o quão insatisfeita estava com o baixo nível dos 450 candidatos a vereador em São Paulo nas eleições de 1959, a população votou em Cacareco, um rinoceronte do zoológico municipal. O apelo era: “É melhor votar em um rinoceronte do que em um burro”. O bicho recebeu 100 mil votos, tornando-se o “candidato” campeão daquele pleito. Para se ter uma ideia, o partido mais votado naquela ocasião não chegou a 95 mil. Curiosidade: apesar do nome, Cacareco era fêmea.

 

 

Tião

O macaco Tião já era relativamente famoso na década de 1980 pelo seu mau humor, representado pelo hábito pouco recomendado de atirar excrementos e lama aos visitantes do zoológico do Rio de Janeiro – nem o ex-prefeito Marcello Alencar havia escapado do protesto símio. Em 1988, em defesa do voto nulo, a revista Casseta Popular lançou o chimpanzé como candidato à prefeitura. O animal teve 400 mil votos, o que o colocaria em terceiro lugar em uma disputa com 12 candidatos. Tião morreu em 1996, aos 34 anos, de diabetes.

TEXTOS