Sintomas começam nos primeiros dias

 

É através da placenta que a droga que corre do sangue da mãe passa para o feto. Com isso, a possibilidade de filhos de mães usuárias tornarem-se dependentes. Quando usa crack, por exemplo, o alucinógeno chega ao útero. Após o nascimento, já que a substância não está disponível, o sistema nervoso central do bebê sente a ausência. Em alguns casos, é necessário até usar sedativos. Isso pode se estender por semanas.
Os efeitos da síndrome de abstinência neonatal variam com o tipo de substância utilizada pela mãe. Conta ainda a última vez em que a droga foi usada e se a criança nasceu prematura, situação bastante comum. As manifestações podem se iniciar 24, 48 e até 72 horas após o nascimento. A síndrome de privação de álcool pode começar antes, algumas horas após o nascimento. O baixo peso também é consequência e a associação com o vírus HIV é frequente. O bebê pode apresentar deficiências motoras, o que gera atraso no desenvolvimento. Em algumas cidades, como Porto Alegre (RS), após o período de internação, os bebês que nascem com síndrome de abstinência são encaminhados ao Núcleo de Atenção Interdisciplinar dos Recém-Natos de Risco (Nairr) que existe nas maternidades municipais. Ali são submetidos a acompanhamento com especialistas. A médica Yara Regina Pacheco de Andrade, neonatologista na Maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, explica que crise compulsiva e apneia são também comuns em filhos de dependentes. Nesse caso, é necessário observar as manifestações e tratar os sintomas. A especialista conta que no Brasil faltam estudos mais aprofundados sobre o tema. Sobre métodos que usam atenção, conversa, afeto para crianças nessas circunstâncias, a médica avalia como positivo o impacto para minimizar quadros semelhantes. Mas faz uma ressalva, já que cientificamente não existe comprovação do êxito.
– Atenção, carinho, conversas e afeto são muito importantes para o desenvolvimento saudável de um bebê. Porém, isso não anula os dados indesejados causados pela droga. Atenção, carinho, conversas e afeto são muito importantes para o desenvolvimento saudável de um bebê. Porém, isso não anula os dados indesejados causados pela droga.
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Diário Catarinense - Está confirmado que filhos de usuárias de drogas como o crack sofrem de abstinência neonatal se a mãe se utilizar do entorpecente durante a gravidez?
João Paulo Becker Lotufo - Recém nascidos cujas mães fizeram uso de crack e cocaína durante a gestação estão predispostos a apresentar síndrome. DC - Por muito tempo?
Lotufo - O quadro está diretamente relacionada ao período, a quantidade e o tempo de uso dessas substâncias. DC - Em relação a outras drogas, como o álcool, dá para dizer que uma abstinência é mais complexa do que outra?
Lotufo - A síndrome está principalmente relacionada à utilização pregressa de derivados opióides, cocaína e crack. O uso de álcool na gestação tem ação predominantemente teratogênica, causando a Síndrome Alcoólica Fetal (dismorfismo facial e alterações do desenvolvimento). DC - Como sabemos se o bebê está passando por abstinência (sintomas)?
Lotufo - A manifestação clínica da síndrome de abstinência neonatal é muito variável: tremores de extremidades, vômitos, distúrbios respiratórios, dificuldades alimentares, febre, irritabilidade, apnéias e convulsões. DC - O uso de medicação é um caminho para o tratamento dos bebês?
Lotufo - Pode ser necessária intervenção medicamentosa para o controle da síndrome de abstinência. No caso do uso cronico de opióides pode ser necessário a utlização no RN de derivados, tais como metadona para o controle da síndrome. Outros medicamentos como benzodiazepínicos e barbitúricos podem ser necessários.
João Paulo Becker Lotufo Médico da Sociedade Brasileira de Pediatria Entrevista