Do amanhecer ao cair da noite, a vida não para. Trabalhadores sustentam a família abastecendo os navios que percorrem o mundo levando alimentos e produtos manufaturados. As toninhas, uma espécie de golfinho, nascem, crescem e envelhecem na Babitonga. O guará, ave aquática ameaçada de extinção, voltou para a baía após um século ausente. Peixes entram e saem e várias outras espécies se reproduzem e seguem, dia após dia, o ciclo natural da vida. Bem-vindo à baía da Babitonga.
ALEXANDRE FERNANDES
CEO TGB
Estamos minimizando o impacto com tecnologias mais avançadas em dragas, para retiradas das pedras, recomposição do leito da Babitonga e ações reparatórias.
Vivemos um gargalo logístico gigantesco na área de portuária e isso, atrelado à previsão de crescimento da produção, nos levou a criar um terminal exclusivo para exportação de granel.
EVAIR OENNING
vice-presidente da Fiesc para a região norte-nordeste do estado
A instalação de novos terminais portuários vai trazer geração de emprego, arrecadação, ganhos econômicos de produtividade e vai fazer com que toda a região se desenvolva
Estaleiro CMO — Construção e Montagem Offshore S.A.
O que é: construção e montagem de módulos em plataformas para exploração de petróleo e gás, bem como reparo e manutenção de embarcações.
Investimento: R$ 650 milhões.
Área ocupada: 500 mil m².
Localização: zona rural do município — fim da Estrada Geral da Ribeira, km 2, Fazenda Jacutinga, s/n, Bairro Miranda.
Empregos: na fase de instalação do estaleiro, 2 mil profissionais. Na fase operacional, previsão de 2,5 mil empregados.
Prazo da obra: 18 meses.
TGB — Terminal Graneleiro da Babitonga
O que é: terminal graneleiro privado, que tem como objetivo atender à demanda de exportação, principalmente de açúcar e grãos, para países como os Emirados Árabes Unidos e China.
Investimento: R$ 501 milhões.
Área ocupada: 601,6 mil m² .
Capacidade: de armazenagem estática é de 1 milhão de toneladas de açúcar, 500 mil toneladas de grãos (soja ou milho) e 155 mil toneladas de farelo de soja.
Localização: zona portuária do município, na Estrada das Laranjeiras (rua Walter Rhinow), poste 43, n° 2886, bairro Laranjeiras.
Empregos: na fase de instalação, aproximadamente mil trabalhadores diretos nos períodos de maior demanda. Na fase operacional, serão gerados 262 empregos diretos.
Prazo da obra: 28 meses.
Terminal Marítimo Mar Azul
O que é: empreendimento destinado a atender à demanda de transporte de cargas, em especial, bobinas de aço para as unidades da ArcelorMittal em São Francisco do Sul e em Vitória, no Espírito Santo, por meio de navios-barcaça.
Investimento: R$ 350 milhões.
Área: terminal terá 96,7 mil m² e centro de distribuição contará com área útil de 110 mil m².
Capacidade: até dois píeres de atracação, capazes de operar embarcações com calados de até 8,5 m e 11,5 m.
Localização do terminal: às margens da BR-280 (km 8), na esquina com a estrada municipal Walter Rhinow, fazendo limite com as águas da baía da Babitonga.
Empregos: 250 na fase de instalação e cerca de 100 na fase de operação do porto.
Prazo: até 36 meses.
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A força dos portos
A atividade portuária na região da Babitonga gera cerca de 10 mil empregos, considerando-se toda a cadeia envolvida, na estimativa do prefeito de São Francisco do Sul, Luiz Zera.
A cidade depende do porto público. Sozinho, ele representa 70% da receita da Prefeitura. A movimentação de grãos é intensa e responde por 10% de toda a soja exportada no Brasil. Fazem parte do corredor de exportação as empresas Terlogs, Bunge e Cidasc. Em 2014, o Porto de São Francisco do Sul registrou recorde histórico de 13,3 milhões de toneladas movimentadas.
Um novo terminal privado, em terreno contíguo ao porto, foi aprovado pela Secretaria Especial de Portos da Presidência da República no ano passado. O Terminal de Granéis de Santa Catarina (TGSC) representa um investimento de R$ 600 milhões.
Próximo ao canal de acesso está o Porto Itapoá, inaugurado em 2011. O terminal tem capacidade para movimentar 500 mil TEUs (contêiner de 20 pés) por ano. Em 2013, chegou a quase 100% de sua capacidade operacional de movimentação.
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Mil trabalhadores estão ligados a toda cadeia portuária
PATRÍCIO JUNIOR
presidente do Porto de Itapoá
Começamos em 2011 e
estamos com quase 100% da capacidade utilizada.
A baía da Babitonga abriga a mais expressiva formação de manguezais de Santa Catarina, sendo também a última grande ocorrência deste ecossistema para o hemisfério Sul. Cercado por árvores típicas, o manguezal é um ambiente protegido das ondas, o que aumenta a sobrevivência das espécies.
A lama característica é rica em nutrientes que
vêm dos rios e passam pelo mangue antes de ir para o mar.
Estima-se que 70% das espécies relacionadas
à pesca costeira comercial ou recreativa
dependem do manguezal em alguma etapa
de seu ciclo de vida.
Ele voltou e está sendo muito bem vigiado. O guará retornou à baía da Babitonga em 2011, após mais de cem anos ausente. Pesquisadores acompanham o repovoamento desta ave aquática cujas penas exibem um vermelho intenso. O pesquisador Alexandre Grose faz doutorado na Universidade Federal do Paraná em zoologia e estuda especialmente o guará. Ele explica que a ave nasce cinza e depende do caranguejo para se alimentar. À medida que se torna adulta, a partir do primeiro ano de vida, as penas cinzas ou brancas são substituídas gradualmente e o corpo todo fica vermelho. Se for impedida de comer caranguejo, porém, a pena voltará a ficar cinza. Existem mais de 50 ninhos de guará na lagoa do Saguaçu, na Babitonga, o único lugar em Santa Catarina onde eles vivem livremente.
Se fosse para escolher ser outra coisa na vida, Itamar Orestes Frigieri optaria novamente por ser pescador. Dos seus 43 anos, mais da metade deles teve como companheiras as águas da baía da Babitonga, de onde tira o sustento para manter a casa em que vive com os pais.
Lá, o relógio desperta cedo: às 5 horas, Itamar levanta e arruma o material de trabalho. Redes, gerival (conhecido como berimbau, utilizado para fazer o arrasto), água, gelo, colete salva-vidas, guarda-sol e documentação de pescador profissional vão com ele para o mar, por volta das 6 horas. O barco só volta a sentir a terra lá pelas 14 ou 15 horas, quando retorna com os camarões-brancos.
— Uns 20 quilos, se o dia for bom — enumera.
— Já vi a morte pelos olhos, às vezes somos pegos de surpresa — diz Itamar, que, para fugir do perigo, mantém a precaução. Caso o vento não sopre a favor, melhor ficar em casa.
A toninha é a espécie de golfinho mais ameaçada do oceano Atlântico Sul ocidental. Na Babitonga, fica a única população residente de uma baía. Isto significa que ela depende do estuário para se alimentar, se reproduzir e cuidar dos filhotes, e não faz movimentos de entrada e de saída do local. Faz parte da lista de animais ameaçados de extinção que encontram abrigo na baía.
A população, com cerca de 50 indivíduos, restringe-se à região mais interna da baía. Em 15 anos, os pesquisadores nunca a viram perto dos portos.
Os leigos confundem a toninha com o boto-cinza, que é um pouco maior e mais exibido.
Os botos até se aproximam dos navios e usam a embarcação como barreira para encurralar o cardume de peixe. Na Babitonga, a população de botos-cinza é maior do que a de toninhas e chega a 208 indivíduos.
Além da toninha, estão na lista de espécies ameaçadas de extinção o boto-cinza, tartaruga-verde, as aves trinta-réis-de-bico-vermelho e o guará (este na lista estadual) e o peixe mero
MARTA CREMER
coordenadora do Projeto toninha
Na Babitonga há uma população residente praticamente isolada das populações de toninhas que vivem ao longo da costa. Ela configura uma diversidade genética única, uma população diferenciada de todas as demais.