Do amanhecer ao cair da noite, a vida não para. Trabalhadores sustentam a família abastecendo os navios que percorrem o mundo levando alimentos e produtos manufaturados. As toninhas, uma espécie de golfinho, nascem, crescem e envelhecem na Babitonga. O guará, ave aquática ameaçada de extinção, voltou para a baía após um século ausente. Peixes entram e saem e várias outras espécies se reproduzem e seguem, dia após dia, o ciclo natural da vida. Bem-vindo à baía da Babitonga.

ALEXANDRE FERNANDES

CEO TGB

EVAIR OENNING

vice-presidente da Fiesc para a região norte-nordeste do estado

A instalação de novos terminais portuários vai trazer geração de emprego, arrecadação, ganhos econômicos de produtividade e vai fazer com que toda a região se desenvolva

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A força dos portos

 

A atividade portuária na região da Babitonga gera cerca de 10 mil empregos, considerando-se toda a cadeia envolvida, na estimativa do prefeito de São Francisco do Sul, Luiz Zera.

 

A cidade depende do porto público. Sozinho, ele representa 70% da receita da Prefeitura. A movimentação de grãos é intensa e responde por 10% de toda a soja exportada no Brasil. Fazem parte do corredor de exportação as empresas Terlogs, Bunge e Cidasc. Em 2014, o Porto de São Francisco do Sul registrou recorde histórico de 13,3 milhões de toneladas movimentadas.

 

Um novo terminal privado, em terreno contíguo ao porto, foi aprovado pela Secretaria Especial de Portos da Presidência da República no ano passado. O Terminal de Granéis de Santa Catarina (TGSC) representa um investimento de R$ 600 milhões.

 

Próximo ao canal de acesso está o Porto Itapoá, inaugurado em 2011. O terminal tem capacidade para movimentar 500 mil TEUs (contêiner de 20 pés) por ano. Em 2013, chegou a quase 100% de sua capacidade operacional de movimentação.

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Mil trabalhadores estão ligados a toda cadeia portuária

PATRÍCIO JUNIOR

presidente do Porto de Itapoá

Começamos em 2011 e
estamos com quase 100% da capacidade utilizada.

A baía da Babitonga abriga a mais expressiva formação de manguezais de Santa Catarina, sendo também a última grande ocorrência deste ecossistema para o hemisfério Sul. Cercado por árvores típicas, o manguezal é um ambiente protegido das ondas, o que aumenta a sobrevivência das espécies.

 

A lama característica é rica em nutrientes que
vêm dos rios e passam pelo mangue antes de ir para o mar.

 

Estima-se que 70% das espécies relacionadas
à pesca costeira comercial ou recreativa
dependem do manguezal em alguma etapa
de seu ciclo de vida.

Ele voltou e está sendo muito bem vigiado. O guará retornou à baía da Babitonga em 2011, após mais de cem anos ausente. Pesquisadores acompanham o repovoamento desta ave aquática cujas penas exibem um vermelho intenso. O pesquisador Alexandre Grose faz doutorado na Universidade Federal do Paraná em zoologia e estuda especialmente o guará. Ele explica que a ave nasce cinza e depende do caranguejo para se alimentar. À medida que se torna adulta, a partir do primeiro ano de vida, as penas cinzas ou brancas são substituídas gradualmente e o corpo todo fica vermelho. Se for impedida de comer caranguejo, porém, a pena voltará a ficar cinza. Existem mais de 50 ninhos de guará na lagoa do Saguaçu, na Babitonga, o único lugar em Santa Catarina onde eles vivem livremente.

Se fosse para escolher ser outra coisa na vida, Itamar Orestes Frigieri optaria novamente por ser pescador. Dos seus 43 anos, mais da metade deles teve como companheiras as águas da baía da Babitonga, de onde tira o sustento para manter a casa em que vive com os pais.

Lá, o relógio desperta cedo: às 5 horas, Itamar levanta e arruma o material de trabalho. Redes, gerival (conhecido como berimbau, utilizado para fazer o arrasto), água, gelo, colete salva-vidas, guarda-sol e documentação de pescador profissional vão com ele para o mar, por volta das 6 horas. O barco só volta a sentir a terra lá pelas 14 ou 15 horas, quando retorna com os camarões-brancos.

— Uns 20 quilos, se o dia for bom — enumera.

— Já vi a morte pelos olhos, às vezes somos pegos de surpresa — diz Itamar, que, para fugir do perigo, mantém a precaução. Caso o vento não sopre a favor, melhor ficar em casa.

A toninha é a espécie de golfinho mais ameaçada do oceano Atlântico Sul ocidental. Na Babitonga, fica a única população residente de uma baía. Isto significa que ela depende do estuário para se alimentar, se reproduzir e cuidar dos filhotes, e não faz movimentos de entrada e de saída do local. Faz parte da lista de animais ameaçados de extinção que encontram abrigo na baía.

 

A população, com cerca de 50 indivíduos, restringe-se à região mais interna da baía. Em 15 anos, os pesquisadores nunca a viram perto dos portos.

 

Os leigos confundem a toninha com o boto-cinza, que é um pouco maior e mais exibido.

 

Os botos até se aproximam dos navios e usam a embarcação como barreira para encurralar o cardume de peixe. Na Babitonga, a população de botos-cinza é maior do que a de toninhas e chega a 208 indivíduos.

MARTA CREMER

coordenadora do Projeto toninha

Na Babitonga há uma população residente praticamente isolada das populações de toninhas que vivem ao longo da costa. Ela configura uma diversidade genética única, uma população diferenciada de todas as demais.