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Educação Básica  | 06/11/2012 08h51min

"Eu me arrependi de ter explodido", diz professora que apareceu em vídeo discutindo com aluna

Confira a entrevista e o vídeo com Lígia Nascimento, afastada de uma turma em São José (SC)

Aline Rebequi  |  aline.rebequi@diario.com.br

A professora que apareceu em polêmico vídeo discutindo com alunos em sala de aula e depois recebeu homenagens da classe escolar, voltou a lecionar na manhã desta segunda-feira. Ligia permaneceu uma semana longe da escola, a Maria Luiza de Melo, popularmente conhecida como Melão, e segundo ela, voltou sem ressentimentos, com a autoestima elevada.


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Diário Catarinense — Qual foi a sensação de estar de volta à sala de aula? Veio com medo um dia ser gravada novamente?
Lígia Nascimento —
Vim renovada e até tive dificuldades em dar aula, não por bagunça, mas porque todos queriam me abraçar e me beijar, saber como eu passei, comentar o ocorrido. E medo? Acho que tiraram isso do meu cardápio quando eu nasci.

DC — Como a senhora se sentiu ao ter exposta na mídia as gravações?
Lígia —
Dei aula normal pela manhã e ao meio-dia enquanto almoçava me deparei com o vídeo. Fiquei apavorada, entrei em pânico e não acreditava no que estava vendo. Depois disso não voltei mais para sala. Só hoje (ontem).

DC — Em algum momento pensou em desistir de dar aulas?
Lígia —
Nunca, jamais. Adoro o que eu faço. A única coisa que vai fazer um dia eu sair da sala de aula é se eu não tiver mais saúde ou quando eu tiver o direito de me aposentar por anos trabalhados e não por atestados de saúde como muitas pessoas indicaram que eu fizesse. Não preciso de psiquiatra ou de afastamento, eu não sou louca.

DC — O que a senhora acha que motivou os alunos a gravarem aquelas cenas de sua aula?
Lígia —
O que aconteceu foi o seguinte. No dia anterior da gravação eu tinha discutido com uma funcionária da escola da qual não nos entendemos há mais de 10 anos, coisa antiga, dos tempos do movimento sindical. E não sabia, mas a filha dela estudava na minha sala. Com ela ( aluna) nunca tive problemas. Mas ela não foi bem em uma prova. Aí naquela noite (dia da gravação) de tanto eu me incomodar explodi e acabei me exaltando. Na hora não percebi nada, que podia estar sendo gravada ou coisa parecida. Só soube disso no dia seguinte. Foi um problema de fora que esta pessoa se aproveitou para me prejudicar sabendo que sou pavio curto, que digo o que penso.

DC — As provocações dos alunos são frequentes?
Lígia —
Daquela turma quase diárias. Mas não de todos os alunos, muitos são ótimas pessoas, mas alguns não querem estudar e vem para escola para atrapalhar aqueles que querem. Algumas professoras desistiram da turma, eu insisti.

DC — A senhora se arrepende de alguma coisa? Será uma nova Lígia ou pretende mudar em algum sentido?
Lígia —
No dia seguinte me arrependi de ter explodido, antes mesmo de ver vídeo. Me encontrei com a aluna, pedi desculpas expliquei que estava nervosa, nos abraçamos e ela até melhorou o desempenho. Mas não vou mudar, depois dos 60 anos o máximo que acontece é a gente amadurecer. Vou continuar dizendo o que penso e não vou dar colher de chá para aluno que não quer estudar.

DC — Nos dias em que não estava na sala de aula, quais foram seus pensamentos mais frequentes?
Lígia —
Não pensei muito no que aconteceu e apenas preparei minhas aulas, gasto muito trabalho fazendo isso. O que eu ensino é uma cachaça braba, se for não misturar brincadeira com exigência ninguém aprende.

DC — O que falta para um bom entendimento entre alunos e professores?
Lígia —
Falta autonomia para os professores. Precisamos rever nossas leis, hoje o menor é protegido da pior maneira. Os pais e os professores ficam de mão atadas, só nos resta lamentar. Teríamos que ter mais auxiliares de sala, equipe para dar assistência psicológica para estas crianças que chegam na escola sem fazer o tema de casa porque o pai ou o mãe passou a noite bebendo ou se drogando, que eu encontro às 8h na sala de aula e às 19h ainda na escola porque os pais não foram buscar.

DC — Que papel a senhora acredita que os pais devem ter com os filhos para um bom comportamento na escola? Está faltando algo na educação das crianças/adolescentes?
Lígia —
Primeiro as pessoas precisaram parar de ter filhos só porque a camisinha estourou. Tem que saber o que se está fazendo, ter responsabilidades. Educar com rigor, não presentear os filhos só porque foram bem na prova, isso é um dever e não um prêmio. Tenho dois filhos, uma médica e um engenheiro, jamais me deram trabalho. Quando um deles vinha dizendo mãe tirei um 10, eu pedia porque não tirou um 11. O aluno tem que estudar, tem que penar para passar de ano e ser alguém. Quando ela se formou pediam se ia ganhar um carro, ganhar que nada, vai trabalhar e lutar para conseguir as coisas como eu fiz. Assim é a vida.

DC — Como os professores podem colaborar para os alunos melhorarem o comportamento?
Lígia —
Mais uma vez eu repito. Precisamos de autonomia. Os professores precisam se envolver com alunos, tentar resolver os problemas de frente. Trazer novidades. Já tive muitas crianças que não iam bem em matemática e com a brincadeira, com a forma mais descontraída das aulas conseguiram aprender.

DIÁRIO CATARINENSE

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